Esta chaminé teve a oportunidade de chamar a atenção sobre si devido ao infortúnio do telhado desta casa e até da própria casa, atingida pela velhice e pelo abandono.
Sem a queda do telhado ela mal seria avistada da rua e mesmo que o fosse não chamaria a atenção de ninguém.
Que importância tem uma chaminé, quando há tantas? Pelo menos uma em cada casa e as casas são tantas numa cidade, por pequena que a cidade seja.
Você é capaz de descrever a chaminé da sua casa?
Quantas pessoas numa cidade serão capazes de o fazer com algum pormenor?
E já pensou na importância de uma chaminé?
Ela é o escoadouro de fumos, de cheiros, de humores, de palavras mais ou menos gritadas, por desespero, por raiva, por alegria.
Por elas passam cantos e exclamações que mais ninguém ouviu. Por ela se renova o ar que se respira.
As chaminés são mesmo indispensáveis numa casa, mesmo quando no exterior não se apresentam com a aparência desta, na foto, e se resumem a um simples tubo ou bocal.
As nossas chaminés cá do sul, as algarvias, até são famosas pelos recortes e estilizações e pela cuidada brancura que a cal lhes confere.
São vaidosas.
Esta outra chaminé, por exemplo, é bem vaidosa.
Apreciem bem como se estica, como se eleva, na pretensão de atingir a altura das muralhas mais altas do castelo.
É como se soubesse como ficou bem na fotografia, rivalizando com a outra, pretensiosa na sua aparência, mas que ficou bem mais abaixo, já lá no limite do telhado.
É certo que a perspetiva desempenha aqui um papel de relevo, pois nem as muralhas são tão baixas, nem as chaminés tão elevadas, mas isso já é por conta da câmara fotográfica e do olhar do fotógrafo, que até inscreve na própria foto ramos de árvores mais altas que o castelo e que as próprias chaminés, mas que, na realidade se ficam bem mais abaixo do que o mais baixo dos telhados.
O olhar tem destas coisas enganosas e as chaminés aproveitam-se destas circunstâncias para se mostrar, quando não são os fotógrafos a querer chamar a atenção para as coisas que o nosso olhar de todos os dias acaba por não ver.
Hoje dispus-me a prestar-lhes esse favor.
Que vivam as chaminés, que hoje aqui estiveram para lembrar que há muita coisa que todos os dias avistamos e parece não ter importância, só porque o nosso olhar não atingiu ou não prestou atenção.
E estivemos a falar de coisas. Como seria se falássemos de pessoas?
Há na realidade muitas pessoas que todos os dias avistamos sem dar por elas e são essas as que provavelmente mais precisariam que as tivéssemos visto com outro olhar.
Vamos ser mais atentos?!
Viva António.
ResponderEliminarBom texto.
Aqui da capital das janelas esquecidas uma saudade grande para ti e demais amigos aí das terras das janelas vaidosas. O jacques Brel também lhes era sensível:
Les fenêtres nous guettent
quand notre coeur s'arrête...
Ah! Que o marafado também dava por elas!
Abração
Manuel