Alcáçova de Silves - arco entre ameiasO POLIS de Silves não conseguiu cumprir o prazo que a si próprio se propôs.
O relógio, inaugurado com pompa e circunstância, acabou por não justificar o dinheiro que nele se aplicou.
Eu não estranhei que os prazos não fossem cumpridos e, como eu, suponho que muitos mais. Estranho seria assistir-se a um cumprimento de prazos. As "derrapagens" são quase que inevitáveis e este vocábulo, que me evoca sempre o ciclo vicioso das relações entre as obras públicas e os empresários da construção, virá, pela frequência do seu uso, a integrar de pleno direito, neste seu novo significado, o nosso léxico.
Mas, apesar do que já se sabia que iria acontecer, há sempre que encontrar explicações. Há que determinar o culpado.
No POLIS de Silves, como vim a saber por um panfleto que por aí circulou e confirmei na última Assembleia Municipal, a culpa foi atribuída exclusivamente à arqueologia; como se, com ou sem trabalhos arqueológicos, o atraso não se tivesse vindo a verificar na mesma.
E a culpa recai logo sobre a arqueologia, ela própria, na qual se escudaram objectivos, justificações e intenções que serviram de base aos projectos e à obtenção de financiamentos.
Porquê o POLIS em Silves?
Por ser uma cidade do interior algarvio, sem indústria, com um comércio incipiente, uma agricultura moribunda, serviços sem penetração no mercado, onde a autarquia é a principal empresa?
Não acredito nessa bondade, que nunca antes vi aplicada. Antes, certamente, pelo motivo pelo qual ainda hoje se mantém cidade, por via dos seus monumentos, do seu centro histórico, dos seus edifícios e do seu traçado, únicos no mundo, a conferir-lhe uma identidade que se não constrói senão com o tempo, a história, a arqueologia: antiga, medieval, moderna ou industrial.
A culpa do atraso do POLIS foi, afinal, atribuída ao próprio motivo que o justifica.
INGRATIDÃO!
As obras, do POLIS ou não, nesta ou noutras cidades, também se atrasam e a população queixa-se dos inconvenientes que isso lhes causa acusando entidades às quais se possa imputar responsabilidades: a autarquia, as empresas de construção, o governo, este ou aquele organismo ...
Em Silves, não; é voz pública de que os culpados são os "cacos", querendo significar a arqueologia, afinal aquilo que ainda é o grande pólo de interesse desta cidade, pois por informação que ouvi, de parte da direcção executiva do POLIS, também na última Assembleia Municipal, as recentes escavações do castelo revelaram:
- uma basílica paleocristã, do séc. VII,
- o Palácio das Varandas (XARAJIB), do séc. XI,
- a alcaidaria ou Palácio do Infante, do séc. XV,
revelações que, só por si e por cada uma delas, encheriam de expectativa e orgulho qualquer cidade do nosso país e justificariam qualquer atraso, sem acusações, a não ser as de não ter sido prevista esta tão previsível eventualidade.
Nenhuma entidade, nenhuma empresa, nenhuma instituição, com as suas bafientas burocracias e ineficácia operacional tem responsabilidade nos atrasos. Os "cacos", isto é, a arqueologia, que não pode responder pela responsabilidade do seu passado histórico, mas atrai à cidade um cada vez maior número de visitantes, é a responsável pelos atrasos do POLIS.
INGRATIDÃO!