Num destes últimos fins-de-semana visitei uma pequena aldeia do interior do barrocal algarvio onde, em vez dos cartazes com os figurões da campanha autárquica, me deparei com as fotografias dos que antes habitaram ou agora residem em cada uma das casas dessa aldeia.
Em cada janela, lá estavam os retratos dos que ali viveram ou agora habitam
Sabemos todos que não é fácil conceder autorização para colocar assim, às nossas janelas, a nossa própria imagem, numa ostentação pouco habitual; a não ser que exista uma determinada confiança em quem nos sugeriu tal ideia ou uma adesão entusiástica ao que nos foi proposto.
Pois foi essa confiança e esse entusiasmo o que se gerou entre a população de Querença, a tal aldeia, e o bando, uma companhia de teatro, de Palmela, que aqui se instalou em residência artística, ao longo de quatro meses, no âmbito de Faro, Capital Nacional da Cultura 2005.
O evento comunitário que ali ocorreu, no passado dia 25, recriando um casamento à moda antiga, testemunha essa confiança, patente nesta fotografia, onde a intérprete de Ti Miséria, a velha noiva, actriz, gera evidentes cumplicidades com a população local.
O fortalecimento dos laços comunitários revela-se na participação colectiva e activa, no diálogo com os actores, integrando a própria cena, partilhando contos, memórias, tradições locais ou, simplesmente desfilando, como muitos outros, orgulhosamente ao lado da sua própria fotografia.
- (...) E fui compreendendo cada vez mais que, para mim, contemporaneidade implica uma relação muito especial também com o passado, com as memórias. Não o passado no sentido conservador, mas com a grande criatividade popular. Às vezes pensamos que aquilo é só tradição, que é tudo muito conservador, que não se transformou, que não é motivador de interesse sobre a modernidade. Mas aborda as temáticas que são comuns a todos os tempos, como o amor, a morte ou o ciúme. (...)
João Brites, director de o bando, ao Barlavento