Graças ao CAPa (Centro de Artes Performativas do Algarve), estrutura de apoio à criação, formação e divulgação das Artes do Espectáculo, tenho conseguido aceder, sem ter que me deslocar à capital macrocéfala deste meu país, a espectáculos de características experimentais e de diversificadas formas de expressão artística.
A 9 de Outubro, na própria sede, em Faro, o Teatro da Garagem (devo ter assistido a todos os espectáculos que trouxe ao Algarve desde que o CAPa existe) veio comemorar aqui mesmo o seu 20º aniversário. Duas peças, separadas por um jantar comemorativo.
À sobriedade da cena, de paredes nuas, sobrepõe-se o som, com música original, e a criatividade da sonoplastia e do desenho de luzes e da operação de variados artefactos de palco, no apoio à evolução dos actores, servidos por um texto soberbo que nos ajuda a reflectir sobre a realidade portuguesa e o atavismo de certos actos e comportamentos, onde me reconheço, numa dimensão poética com que Carlos J. Pessoa, director artístico e encenador, sempre me surpreende e me envolve.
Lamento não ter uma foto ilustrativa, pois não a quis retirar sem autorização de cópia, mas é possível ver várias fotos do espectáculo clicando aqui.
Uma semana depois, a 16 de Outubro, em Loulé, no Convento de Santo António dos Capuchos, também pelas mãos do CAPa, assisti a um outro espectáculo:
No enquadramento da arquitectura do convento, nomeadamente dos seus claustros, no 3º acto, o Teatro da Terra (podeis aceder ao seu blogue clicando na foto, precisamente copiada a partir desse lugar), companhia residente em Ponte de Sôr, não nos trouxe uma reflexão sobre os atávicos comportamentos a que me referi acima, mas fez-nos reflectir sobre outros bem semelhantes, como os que Lorca dramatizou em A Casa de Bernarda Alba.
Enquadra-se bem na volumetria e arquitectura do Convento a representação das vidas destas mulheres andaluzas, numa sociedade fechada pelos costumes e tradição religiosa, numa relação odiosa entre irmãs e sua mãe, num mundo bafiento onde a vida é um inferno e o homem, ausente, distante, desconhecido, um diabo de atracção irresistível.
Para quem, como eu, que vivo em Silves, uma cidade de dimensão aproximada a Ponte de Sôr, ver assim uma companhia profissional residente e imaginar, pela actividade que se pode constatar através da leitura do blogue, a enorme potencialidade que isso poderia acarretar na vida cultural dos residentes, é um sonho que dificilmente verei cumprir-se e que parece estar cada vez mais longe.