quinta-feira, janeiro 30, 2014

Há sinais do tornado que ainda resistem




Ancoradouro destruído pelo tornado de 16 Novembro de 2012

O tornado ficou marcado na memória dos silvenses, mas é certo que a reação da população do concelho permitiu recompor a imagem da cidade em breve espaço de tempo, numa iniciativa espontânea que apraz registar com agrado.

As obras de reparação dos estragos cometidos sobre o edifício das Piscinas Municipais só agora, no início de 2014, foram dadas como terminadas e as Piscinas aí estão a servir a população.

Sei que a administração do concelho se depara com dificuldades financeiras, que resultam do mau desempenho da administração que a antecedeu, e sei também como é fácil, perante tanta coisa que há a fazer, esquecer pequenos detalhes que tendem a ficar ao abandono.

Acontece que a reparação deste ancoradouro, que não aparenta problemas na sua estrutura de base, e que em tempos esteve vedada pelo perigo que poderia resultar para as pessoas que resolvessem usá-la, continua ao abandono, com o mau aspeto que a fotografia documenta e  continuando a pôr em perigo os que decidirem passear-se sobre a zona que parece intacta, mas que já esteve protegida porque se julgava perigosa.

Entretanto isso passou e esqueceu.

Pode até acontecer que ninguém se venha a magoar, mas o perigo que se julgou haver continua presente e o mau aspeto que evidencia chama a atenção de quem por aqui passa, às dezenas de dezenas, todos os dias.

O madeiramento ainda ali permanece e resiste, pois possui tratamento para se manter sujeito às condições do tempo, mas já observei uma destas tábuas a deslizar para baixo e para cima ao sabor da corrente, com evidente perigo para barcos privados ou comerciais que usam o rio, se bem que menos ativos em tempo de inverno.

Creio que o que há a fazer aqui não é coisa que envolva grandes honorários e creio que também se pode resolver em breve espaço de tempo, protegendo os incautos que se aproximem e embelezando a imagem tão agradável deste passeio à beira rio, que a comunidade utiliza no dia-a-dia com o prazer e o sentido de bem-estar que este parque proporciona.

P.S.:
Tenho a intenção de remeter este texto para conhecimento da Sra. Presidente da Câmara e aproveito para agradecer a simpatia com que atendeu um escrito anterior, sobre o plantio de amendoeiras na encosta norte do Castelo de Silves, prometendo ir ao encontro da minha sugestão, concretizando-a a curto prazo.

segunda-feira, janeiro 27, 2014

Os caravanistas gostam de Silves




Caravana no Parque de Lazer junto ao Arade, em Silves

Na grande maioria procedentes dos países do Norte da Europa, nomeadamente Holanda, Alemanha e Grã-Bretanha, ei-los que começam a arribar a Silves mal o tempo arrefece.

Também os há no verão, mas esses são mais turistas do que nómadas, como estes, e há os que, já em número significativo, permanecem por Portugal ano após ano, mudando de lugar no tempo quente, em busca da amenidade do mar.

Todos os dias percorro este parque, a pé, com meu Doggy. Com o Doggy já o faço há 3 anos, sem o Doggy faço há muitos mais.

Tenho amigos entre os caravanistas, há anos, e cruzo-me com eles pelas ruas de Silves, encontro-os nos cafés, nos restaurantes, no mercado municipal, nas lojas, nos supermercados, na biblioteca, nos largos e nas praças da minha cidade. 

Gostam de Silves, consideram-na uma cidade de gente simpática e afável, sentem-se seguros, se bem que aos fins de semana sejam por vezes incomodados com ruído e aproximações abusivas das caravanas, por jovens em idade escolar, muitas vezes aparentando ter bebido álcool e que são avistados a provocar estragos em equipamentos do próprio parque.

Estes caravanistas são uma riqueza para a cidade, mas a cidade não os acolhe como deveria, proporcionando-lhes condições de acesso à água, à descarga dos seus resíduos orgânicos, embora eles próprios se encarreguem da higiene do lugar. São recetivos à cobrança do valor justo se essas condições de higiene lhes forem facultadas.

O exercício destas facilidades traria sem dúvida uma boa receita para a administração e então, com essas facilidades concedidas, já se poderia, eticamente, impor restrições aos locais onde os caravanistas poderiam estacionar, que não desta maneira desorganizada, colidindo com o estacionamento das viaturas dos que todos os dias recorrem a estes parques para aceder aos serviços das Piscinas Municipais, da FISSUL, ou do estacionamento propriamente dito.

Agora a situação como está atualmente, sem regras, sem fiscalização, sem que se saiba se se está bem ou mal, sujeitos à arbitrariedade do que der ou vier, é que não é situação que se recomende.

A Administração deveria estudar a situação e decidir em conformidade.

Se os caravanistas aqui vêm e ficam, é porque gostam de cá estar.

Saibamos recebê-los, como em nossa casa todos fazemos com quem nos visita.


P.S.
Recordo que os caravanistas já em tempo se organizaram, fizeram uma coleta entre eles, e dirigiram-se à Câmara Municipal para fazer uma oferta pecuniária, como forma de compensação pela utilização gratuita do parque. A Câmara não poderia aceitar assim esse dinheiro. Acabaram por comprar, por sugestão dos serviços, umas quantas cadeiras de rodas, já não recordo exatamente quantas.
Foi sem dúvida uma atitude louvável e reveladora da sua vontade em agradecer o acolhimento da cidade.


quinta-feira, janeiro 23, 2014

A Lenda das Amendoeiras pode ser um bom cartaz turístico de Inverno






Um dia, neste mesmo blogue, mais precisamente a 4 de junho de 2004, escrevi assim:


  • Por onde andarão as amendoeiras?
        Sei que não são árvores de sombra, nem árvores ditas decorativas, mas são
        certamente património do nosso Algarve e, por via da lenda frequentemente atribuída
        a Silves, um património local.

        Não haverá um sítio apropriado, uma pequena área, onde se possa colocar algumas 
        amendoeiras?

        Que bem que ficariam na encosta Norte da Alcáçova!

        Imagino-as já, na Primavera, iludindo de neve os olhos saudosos dos europeus do 
        Norte que nos visitam, os nostálgicos olhos dos algarvios e dos silvenses que todos os 
        anos as buscam e cada vez as vêem menos, os tristes olhos dos portugueses, que 
        aqui vêm na rota dos mistérios e das belezas do Sol e do Sul.

       Património não é só o do passado remoto; é também aquele que a "civilização", no seu 
       passo impiedoso vai destruindo. Saibamos nós mantê-lo, por respeito aos nossos avós 
       e a nós próprios.


Hoje, venho oferecer esta foto e esta minha mensagem à Sra. Presidente da Câmara.

Venho sugerir a plantação de amendoeiras na encosta norte do Castelo de Silves.
Essa iniciativa poderá vir a tornar-se um cartaz turístico de Inverno com base na Lenda das Amendoeiras, que vários autores atribuem à nossa cidade.

Imagino já Silves em finais de janeiro e princípio de fevereiro, talvez até usando a proximidade do Carnaval, procurada cada vez mais por turistas que querem vivenciar a Lenda das Amendoeiras e usufruir de todo um envolvimento cultural servido pelo teatro, associado à doçaria regional - Morgado de Silves -, a um recital de poesia ou um encontro de poetas em torno desta temática, que se pode estender à música, à dança, a exposições de fotografia ou pintura, a lavores de renda de bilros e de bordados, tão tradicionais em Silves, a um percurso que contemple chaminés com estilizações da flor da amendoeira ou mesmo sem elas... 

Nesta sugestão podem caber muito mais coisas e algumas destas que avancei podem até não fazer grande sentido turístico, mas acho que é uma sugestão que pode ser estudada e aplicada e já que as amendoeiras têm que ser plantadas e crescer até dar flor, creio que nada se perde em plantá-las já, naquela encosta abandonada.

O meu bem-haja, Sra. Presidente.



segunda-feira, janeiro 20, 2014

Memórias do blogue (X)



Este texto foi publicado neste blogue - Local & Blogal - a 8 de Janeiro de 2004.
Já lá vão 10 anos.

© António Guerreiro
© António Guerreiro - Teatro Mascarenhas Gregório (Silves), em restauro.


Sempre me encantou este velho teatro. 
E encanta-me ainda este "esqueleto" tão equilibrado, tão harmonioso.

Já não sou do tempo das grandes estreias, nem das grandes companhias, como contava a minha mãe. 
Mesmo na minha infância já só se assistia às récitas dos "meninos do colégio" ou dos grupos amadores locais. 
Depois veio o tempo do cinema, dos filmes das campanhas do Estado Novo pela alfabetização e a interdição da sala para espectáculos. 
Apesar desta interdição foi, durante décadas, a sede da Sociedade Filarmónica Silvense, com os seus bailes, os seus concertos e, de novo, as récitas e as peças de teatro dos grupos amadores locais (com todo o respeito que me merecem).

Apesar desta descrição tristonha e de sabor provinciano, recordo um grande espectáculo de canto e teatro, com texto de Bertolt Brecht e música de Kurt Weill, integrado numa edição da "Festa da Paz e da Cultura" e uma fabulosa noite com Paredes e Vitorino de Almeida.

Degradou-se pela idade e pelo uso até à sua quase completa degenerescência.

Está agora em restauro, sob a responsabilidade do arquitecto Castanheira, também um homem do palco e com um invejável currículo de restauros em velhos teatros, nomeadamente em Espanha.

E depois?

Que estruturas técnicas e humanas existem para edificar um projecto criterioso para aquele edifício? Que meios financeiros?

É que, sem a criação dessas estruturas técnicas, humanas, financeiras, com um plano de base que vise a formação de públicos diversificados, teremos um edifício fechado na maior parte do tempo, com um programa sujeito à oferta ocasional, ou, no pior mas mais credível dos cenários, ao serviço do gosto bacoco e novo-rico dos musicais e revistas na moda ou das propostas alarves dos programas de recreação à maneira da SIC ou da TVI, tão ao gosto do "povo", como se diz, que tem costas suficientemente largas para ter que aguentar com o que lhe querem oferecer.

Não estou a defender o meu gosto, que provavelmente só mereceria também o interesse de muito poucos, mas a chamar a atenção para a necessidade da criação de uma estrutura profissional, que garanta que os dinheiros públicos sirvam a promoção da cultura e nos torne cidadãos mais capazes.

P.S. Este "recado", se bem que contextualizado localmente, serve para muitas outras situações semelhantes pelo nosso país fora e para outras construções que por aí se fazem, sem projecto que as sirva, muitas vezes só porque há dinheiro "de fora" para investir. (Veja-se a construção do Estádio do Algarve e outras que tais).

quinta-feira, janeiro 16, 2014

E você? É sensível à beleza de uma textura?






Esta minha foto reproduz uma estranha textura.

Dir-se-ia o tronco de uma árvore, carcomido pelo tempo, mas eu, que sei de que se trata, sei bem que não é tal coisa.

Esta foi uma foto batida de rasante sobre uma velha parede, que um dia terá sido, pelo menos uma vez, caiada de cal.

Parece que o mesmo efeito de desgaste se produz sobre a matéria orgânica como sobre a mineral.

A erosão provocada pelos elementos desgasta, corrói, envelhece, mineraliza...

Mas tem algo de belo que me prendeu no momento da decisão de fotografar, que me fez vibrar qualquer diapasão interior.

Procurei no dicionário:

beleza | s. f.


beleza |ê|

s. f.

s. f.

1. Perfeição agradável à vista, e que cativa o espírito.
2. Mulher formosa.


Não há dúvida que me "cativ(ou) o espírito", mas ainda não entendi porque me foi agradável à vista.

Beleza é sem dúvida um conceito, e como qualquer conceito deve ter evoluído ao longo da minha formação intelectual. Seguramente não teria apreciado esta textura pelos meus 15 anos, mas já seria suscetível pelos meus 18.

A idade conta, mas não se trata de uma questão de idade, mas sim de evolução, o que de facto acontece com o correr do tempo, mas não só porque o tempo passou, mas sim pelo que se vivenciou, sobre o que se refletiu, pelo que ficou d' a espuma dos dias, como diria Boris Vian.


segunda-feira, janeiro 13, 2014

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (XII)





Estátua de Ibn Qasi, em Mértola.

Terminámos o último episódio com a perseguição dos almorávidas a IbnQasi e seus aliados.

Perante a ameaça, Ibn Qasi afasta-se do ribat da Arrifana e refugia-se na proximidade de Mértola, onde, com apoio de Ibn Al-Qabila, arremete contra Mértola e a 1 de Setembro de 1144, triunfalmente, é aclamado nesse imponente castelo.

Ibn Wazir, senhor de Beja e Évora e Al-Mundhir, senhor de Silves, prestam-lhe vassalagem. 

Al-Mundhir torna-se mesmo comandante do exército dos muridas (apoiantes de Ibn Qasi) e do exército de Ossónoba e dirige uma expedição que atravessa o Guadiana, assalta e toma Huelva e Niebla e dirige-se a Sevilha onde não consegue vencer a resistência dos almorávidas.

Retorna a Niebla, onde se refugia.

Os almorávidas de Sevilha perseguem-no e cercam Niebla durante 3 meses.

No entretanto, a cidade de Córdova também se subleva contra os almorávidas e estes levantam o cerco para acudir a Córdova.

Ibn Qasi toma então o comando dos exércitos de Al-Mundhir e Ibn Al-Qabila e tenta, sem sucesso, juntar a si os amotinados de Córdova.

Perante esta situação, Ibn Wazir revolta-se e Ibn Qasi manda Al-Mundhir aprisoná-lo, mas quem afinal fica prisioneiro é Al-Mundhir, a quem Ibn Wazir manda arrancar os olhos.

O senhor de Beja e Évora, Ibn Wazir, sente que as forças de Ibn Qasi não serão capazes de se defender e ataca Mértola, apoderando-se do seu castelo.

Ibn Qasi refugia-se em Silves.

Entretanto, uma nova seita começa a surgir no Norte de África, a sul, na zona de Marraquexe - os almoadas - dirigidos pelo emir 'Abd al-Mu'min.

Ibn Qasi envia um pedido de apoio no combate contra os almorávidas ao emir dos almoadas, mas assina a sua carta usando o título de Mahdi.

'Abd al-Mu'min, o emir dos almoadas, não gostou desta atitude e não lhe respondeu.

Ibn Qasi decide então partir para Marraquexe ao encontro de 'Abd al-Mu'min.




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Garcia DominguesHistória Luso-Árabe, edição do Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves, 2010


António Borges CoelhoPortugal na Espanha Árabe, vol. 2 - Editorial Caminho


Ibn Qasi, o rei iniciado do Algarve e seus Discípulos Muridinos, in A Nova Acrópole

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Se estiver interessado na leitura dos episódios anteriores, siga os links abaixo:



Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (I)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (II)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (III)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (IV)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (V)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (VI)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (VII)





quarta-feira, janeiro 08, 2014

Rotinas




Hoje foi dia de uma rotina associada ao meu pacemaker, que costumo cumprir, com rigor, desde julho de 1996 (ainda Julho se escrevia com maiúsculas).

Regressarei em abril.




Passei uma manhã inteira nesta sala de espera, a ler.

Também fui ouvindo as lamúrias, as queixas, as agruras e até algumas alegrias que estas pessoas foram trocando entre si.











Terminada a consulta e a rotineira marcação da próxima, cumpri uma outra rotina; a de um passeio até Olhão, visitando o mercado, o cais e olhando a ria.






Findei com o almoço, de peixe fresco invariavelmente...

...no Bote, por nenhuma razão em particular, a não ser a de me permitir a escolha dos exemplares que vierem a merecer a minha atenção.





Tradicional, sem artifícios, como sempre deveria ser: o peixe grelhado (salmonetes), a batata cozida, ainda por pelar, e a salada de tomate, cebola e alface, regada a azeite e vinagre (q.b.).

Um copo de vinho tinto, um abacaxi regado com Porto, à falta de um Madeira, e um café.


Dieta bem mediterrânica, agora Património Imaterial da Humanidade.


Não fora a rotina principal, a que me levou a Faro, e diria que foi uma manhã paradisíaca.



segunda-feira, janeiro 06, 2014

O pormenor e os sinais do tempo






A imagem é a de um recipiente para água benta, num templo do séc. XVI, em Silves.

O recipiente poderia ter sido simplesmente embutido na parede, mas houve o bom senso de evitar o frequente contacto dos dedos com a parede branca, para não ficar manchada.

A concavidade mereceu no entanto uma forma singular de contornos arredondados, ovalados, diria melhor, atraente esteticamente. Creio mesmo que foi essa forma que me prendeu a atenção e me mereceu a fotografia que quis fazer.

Outro pormenor é o do friso, em pedra ruiva, grés local, que de certo modo chama a atenção para a presença do recipiente da água benta, num local sombrio, pouco iluminado.

Outro pormenor ainda, que já peca pela ausência de um gosto cultivado, é o desse fio, dito elétrico, que tenta disfarçar a sua presença no recanto onde contactam as duas paredes.

É um pormenor destoante, anacrónico, sinal deste nosso tempo apressado e descuidado, meramente funcional, sem intenção estética, sem preocupação pelo belo.

Sinais do tempo.


quinta-feira, janeiro 02, 2014

Dois mil e catorze.




Silves


Saúdo-vos no início de mais uma ano, o de 2014.



Ano Novo

          Ficção de que começa alguma coisa!
          Nada começa: tudo continua.
          Na fluida e incerta essência misteriosa
          Da vida, flui em sombra a água nua.
          Curvas do rio escondem só o movimento.
          O mesmo rio flui onde se vê.
          Começar só começa em pensamento.


Fernando Pessoa