- COMEÇA HOJE O ANO
Nada começa: tudo continua.
Onde 'stamos, que vemos só passar?
O dia muda, lento, no amplo ar;
Múrmura, em sombras, flui a água nua.
Vêm de longe,
Só nosso vê-las teve começar.
Em cadeias do tempo e do lugar,
É abismo o começo e ausência.
Nenhum ano começa. É Eternidade!
Agora, sempre, a mesma eterna Idade,
Precipício de Deus sobre o momento.
Na curva do amplo céu o dia esfria,
A água corre mais múrmura e sombria
E é tudo o mesmo: e verbo o pensamento.
Fernando Pessoa
in Poemário
Assírio & Alvim, Lisboa 2006
Com um abraço ao meu amigo António Guerreiro, que mo ofereceu e a que dei o uso que me sugeriu.
5 comentários:
Caro Amigo António Baeta.
Com um poema muito frio, mas essencialmente oportuno.
Afinal não existe passagem de ano? Tudo é uma linha infinita? Tudo o resto foi graduado pelo detentores do poder económico, político e social.
Mas não foram capazes e limitar o poder criativo que cada um de nós pode ter em baralhar os tempos e refazer a contagem.
Já agora um espectacular ano (entendido como a distância de dias que vai entre o aqui e o nosso pequeno planeta dar uma volta completa em torno do sol).
Um abraço
AG
Eh pá, ó Fernando, isso é uma chatice!
Então que desculpa é que vamos arranjar para fazer saltar as rolhas do espumante e encher a boca de passas?
calendários, anos, números, meses, ... será que o homem precisa mesmo disto tudo?
em todo o caso, feliz ano novo, em todos os calendários!
abraços
De facto não há anos novos, mas ainda bem que sabemos do devir das estações e da relatividade deste nosso mundo.
Um abraço, amigos.
Ainda bem que está de regresso... vem sem ano novo, nem novos anos... (Pessoa, Pessoa, ou em qual dos seus heterónimos?). E sobre o Natal, o que encontrou? Não nos contou... Sempre nos trouxe Esperança?
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