Decorreu mais um concurso do Local & Blogal, cuja intenção foi a de promover o património da cidade onde vivo, através da participação activa dos seus leitores, enquadrando-o nas tendências estéticas da época e projectando a sua matriz local num enquadramento mais vasto.
O concorrente vencedor identificou as duas cidades a que se reportam as imagens, Silves e Sevilha e, embora com alguma justificável indecisão, sobre essas duas imagens escreveu assim:
Foto nº 1 - Silves. Arcaria em volta inteira de gosto eclético, predominantemente mudéjar, suportada por colunas de ferro fundido realizadas na Fábrica das Devezas (Gaia) e pagas por Gregório Mascarenhas, industrial corticeiro e presidente da câmara por duas vezes nesta época. A influência decorativa neo-árabe está sobretudo presente na decoração estucada dos alfizes e nos alçados do zimbório que é rematado por clarabóia, assim como no friso que rodeia superiormente a galeria. É obra realizada provavelmente na última década do séc. XIX, princípios do séc. XX, no edifício destinado a ser os Paços do Concelho de Silves (Algarve, Portugal).
Foto nº 2 - Talvez Sevilha. Mas é plano difícil, muito fechado. É obra de tipo andaluz, sevilhano provavelmente. Novamente de gosto ecléctico, misturando elementos decorativos de influência islâmica e renascentista, fazendo utilização decorativa do azulejo tipo sevilhano, do estuque e do ladrilho hidráulico de cor verde e branca (tudo elementos decorativos de utilização na arte islâmica). A par de pormenores de tradição andaluza, como o ferro forjado. Se for edifício sevilhano, não me admirava nada que se tratasse de um pormenor do palácio neo-mudéjar, hoje Museu das Artes e Costumes Populares, no Parque Maria Luísa ou até um dos Pavilhões das redondezas, construídos propositadamente para a Feira Ibero-Americana de Sevilha em 1929, como é o caso do pavilhão português. Mas como já referi, o plano é muito apertado, podendo ser um revivalismo actual, em qualquer cidade andaluza!
O vencedor, Manuel Francisco Castelo Ramos, Mestre em História de Arte, professor, director do Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês, vereador não permanente da Câmara Municipal de Silves e que me concede a honra de ser meu amigo, já vencedor de um anterior concurso, aqui e aqui, nos mesmos moldes, irá receber como prémio uma edição dos Forais de Silves (Foral Afonsino de 1266, Foral dos Mouros Forros de Silves, Tavira, Loulé e Santa Maria de Faro, de 1269, e Foral Manuelino de 1504), de onde retirei a imagem acima, que serve de capa ao exemplar manuscrito e iluminuras do Foral Manuelino.
Notas:
1. Quero esclarecer que o edifício a que se refere a foto nº 2 é, precisamente, o que, do lado direito, abre a Avenida de la Constitución, em Sevilha, para quem, a partir do Ayuntamiento se dirija para a Catedral.
2. Resta-me ainda agradecer a todos os que se dispuseram a concorrer, nomeadamente a Filipe Rodrigues, que acertou nas duas cidades e também apresentou uma curiosa e adequada descrição do estilo e época dos edifícios.
3. Mais fotos que bati em Sevilha podem ser encontradas aqui.