terça-feira, agosto 04, 2009

Uma pequena preciosidade


Foi com alegria que deparei com este pequeno livro, que há muito não via, que apresenta a curiosidade de nos revelar a poesia de Paul Éluard numa antologia organizada e prefaciada por António Ramos Rosa, que também a traduziu num trabalho comum com Luiza Neto Jorge.
Um notável das letras francesas que nos chega pelas mãos de dois de entre os maiores poetas algarvios.


Seleccionei:

  • Onde é que eu ia?

    Faz-se tarde o céu abandona o quarto
    Esta noite vou vender as minhas cabras
    Caminho atrás de um rebanho
    De claridades delicadas
    As árvores que me guiam
    Fecham-se
    Ficam ainda mais seguras
    Hoje vou construir uma noite excepcional
    A minha noite
    Informe como o sol
    Toda em colinas redondas sob mãos camponesas
    Toda em perfeição em esquecimento de mim próprio

    A dançarina imóvel e o peso das suas pernas
    Se eu agora a fosse beijar
    Suas frívolas cúmplices giram em torno dela
    Ondulam alto nas linhas de candelabro
    Marcarei de negro o soalho e o tecto
    De negro e de repouso de ausência de felicidade
    Entre palma e pupila a multidão do prazer
    Até no sono se mantém inteira

    Esta noite acenderei uma fogueira na neve

Paul Éluard
Cours Naturel (1938)
Algumas das Palavras
Publicações Dom Quixote, Lisboa 1969

1 comentário:

hfm disse...

Uma preciosidade que sei bem guardada mas que me fez salivar de "inveja". Um abraço.