segunda-feira, agosto 08, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XXXVIII)



Quando das comemorações do Dia Mundial da Poesia, Paulo Pires, Técnico Superior da Biblioteca Municipal de Silves, compilou uma antologia que intitulou POESIA 21, porque se refere a 21 poetas e ao dia 21 de Março.
São trabalhos desses 21 poetas, gente que se vem afirmando no nosso mundo literário, que aqui estou a incluir desde a XX edição.



  • ABSINTO

Pouso a solidão na mesa
a imagem
há algo de social
agora que são poucos os que não dormem.
E os outros todos, os bilhões,
os colhões da humanidade
que se levantam de manhã
e não falam
exalam um odor seco e intoxicante
de vinho a martelo
mal encarados
pobres portuguesinhos
fechados a cadeado
achim e achado
bamos andando
calando e soltando as agressões
que há muito estavam mudas
e que nesta noite onde as ruas estão vazias
e nas casas nem sequer se fala
nem se discutem os mínimos problemas
da miséria e da mesquinhez.
no fundo, o pequeno grande português:
– Cale-se.

– Não me calo, mas ando na miséria,
protesto mas nem sequer falo,
sento-me debaixo de um autocarro,
discuto, grito e gesticulo,
mas calo-me.

Onde está esse gajo português de 500
que ia dar passeios de barco à vela
descobrindo novos caminhos?

Acho que esse gajo deve estar na paragem
há duas horas à espera do autocarro
para andar uma paragem
coxo, cheio de sacos de plástico.
Mas vai-se andando,
com o Inverno as dores pioram
só o salário e a pensão é que não pioram,
não sobem, nem descem
porque quase não existem.

Tiago Gomes
Auto-ajuda
Mariposa Azual, Lisboa, 2009
Poesia 21
Parceria Biblioteca Municipal de Silves / Escola Secundária de Silves

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