segunda-feira, julho 29, 2013

Memórias do blogue (IV)



Este blogue irá cumprir dez anos no decurso deste ano de 2013.

Proponho-me trazer aqui, de vez em quando, alguns dos meus textos de 2003 menos marcados pelo tempo.


Este "post" foi anteriormente publicado em 16 de Setembro de 2003


Em Cacela, sobre a mais formosa ria
 
 
Cacela-a-Velha, SET2002 © António Baeta Oliveira
 


É esta quietude de fim-de-tarde, sobre o mar, esta nostalgia, já, do dia que ainda nem acabou, esta angústia da supressão da luz que se adivinha no matizado das cores, o que nos conduz a esta fixação do olhar, a este silêncio invasivo, a este fenecimento doce ao anoitecer?


 

sábado, julho 27, 2013

A História de Silves em Medalhas - Os Romanos




 
 
História de Silves - 3
Os Romanos

A colonização romana na área da atual Cidade de Silves fez-se sentir a partir de meados do séc II a.C. (Rocha Branca). Numerosos vestígios de villae e de necrópoles, denotam uma romanização intensa desta região, aproveitando tanto a proximidade da costa, rica em peixe, marisco e sal, como as férteis áreas agrícolas, os jazigos de minérios, ou uma localização entre o litoral e o interior, propícia ao desenvolvimento do comércio. A cidade
era servida por um bom porto
fluvial e na sua área urbana atual, descobrem-se testemunhos desta ocupação, sobretudo dos sécs. III-IV d.C.
 
 
 

quinta-feira, julho 25, 2013

Património silvense (V)



Cruz de Portugal



É neste seco e inóspito terreiro, aguardando o seu embelezamento, apesar de verba programada em orçamento municipal desde o tempo da construção do Palácio da Justiça, ao fundo, que se ergue um dos mais belos cruzeiros de Portugal, Monumento Nacional, diariamente visitado por dezenas de turistas - A Cruz de Portugal.

Este largo  ENVERGONHA qualquer cidadão.

O cruzeiro tem, aproximadamente, três metros de altura e foi esculpido em calcário branco.

Numa das faces, Cristo Crucificado, virado a poente, e na outra, virada a nascente, a Pietá (Nossa Senhora da Piedade - Maria acolhe o filho morto, no seu regaço).



 

Não se conhece o seu escultor nem o motivo da sua presença em Silves.

Trata-se de uma obra de estilo gótico, quinhentista.

O Dr. Manuel Ramos, Mestre em História de Arte e com tese sobre o manuelino algarvio, identifica-o como gótico-manuelino e a ele se refere, comentando: "Comparável, embora dos mais belos, a outros que por todo o Portugal se erguiam à entrada das localidades, tanto o seu particular gosto manuelino quanto o seu nome reforçam a ideia que será obra vinda de meio mais cosmopolita, talvez de Lisboa. ".

Quanto ao porquê desta obra em Silves, o Dr. Manuel Ramos, avança com duas hipóteses:

"Cruz de Portugal por ter vindo do reino de Portugal para o do Algarve ou por se situar, hoje, na estrada que lá conduz?

Porque não pensar numa possível oferta à cidade feita pelo rei D. Manuel em 1499 quando aqui se deslocou para piedosa e pomposamente transladar seu cunhado e primo, o anterior rei D. João II?"




Já aqui um dia me referi a alguns dos perigos a que esta obra está sujeita, sugerindo a quem de direito a produção de uma réplica para exposição no lugar e conservação do original em local mais apropriado.

A pedra em que foi esculpida está sujeita a degradação e  a sua localização oferece perigos de perda irreparável, dada a proximidade da estrada nacional 124 e a ocorrência do despiste de alguma viatura, bem como a eventualidade de algum atentado de violência gratuita à sua integridade.



_________________________


Edições anteriores:

Património silvense (I)  - Claustro interior nos Paços do Concelho

Património silvense (II) - Igreja da Misericórdia

Património silvense (III) - Arte Nova em Silves

Património silvense (IV) - O Palácio Grade



segunda-feira, julho 22, 2013

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (V)





Foi desta forma que o escultor interpretou a figura de Al-Mu'tamid.
Estatueta que figura integrada num grupo escultórico da Praça de Al-Mu'tamid, em Silves.

     (V)
 
 
Com os Muzain, como referimos no último episódio, Silves afirma o seu prestígio político e cultural:

     Yusuf al-Faisuli distingue-se na jurisprudência; 

     Miriam, sua filha, brilha em Sevilha como poetisa e aí ensina oratória, filosofia e literatura;
   
     Ibn 'Ammar, que estudou direito em Sevilha e Silves, começa a revelar-se como o grande poeta que todos hoje conhecemos;

     Muhammad ibn Muzain, familiar do príncipe, foi o historiador de "História da Espanha Árabe", se bem que só se torne famoso depois da sua afirmação por terras de África, em Sevilha e no Oriente. A sua formação inicial, foi feita em Silves;

     Abu 'l Qasim al-Qantari foi um famoso colecionador de obras literárias e Silves possuía bibliotecas e livrarias, como informa J. Ribera Tarragó.

Garcia Domingues refere ainda, se bem que não em Silves ou de Silves, duas outras grandes figuras da época: Ibn Darraj al-Qastalli, poeta de Cacela, e al-Alam, célebre filólogo de Santa Maria (atual Faro).

Em 1031 dá-se a queda definitiva da dinastia omíada no al-Ândalus.
Nesse mesmo ano morre o poeta de Cacela, Ibn Darraj al-Qastalli, que tinha sido secretário pessoal de Al-Mansur.

O vazio desse poder dinástico faz surgir por todo o antigo califado uma série de estados independentes, taifas, das quais as mais importantes terão sido as de Sevilha, Málaga, Almeria, Valência, Saragoça e Badajoz. Este período histórico que se segue ao califado é conhecido como o das Primeiras Taifas.

No território que é hoje Portugal há que mencionar as taifas de Santa Maria, Silves e Mértola.

Muhammad Ibn Abbad assume o governo de Sevilha e, em 1040, quando da sua morte, seu filho al-Mu'tadid Ibn Abbad assume o poder deixado por seu pai.

Al-Mu'tadid irá, sistematicamente, virar a sua atenção particular sobre o Gharb al-Ândalus, tentando apoderar-se das  taifas de Santa Maria, Silves, Mértola e Badajoz.

Em 1044 conquista Mértola a Ibn Taifur.

 Em 1051, depois de várias tentativas, encarregou um exército comandado nominalmente por seu filho Muhammad Ibn Abbad Al-Mu'tamid, com apenas 12 anos de idade, de conquistar o Principado de Silves, governado pelos Ibn Muzain, que se viram assim obrigados a deixar a sua cidade, embarcando no rio Arade a caminho de África.
    



____________________
 
Garcia Domingues, História Luso-Árabe, edição do Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves, 2010
António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, vol. 2 - Editorial Caminho
____________________




Se estiver interessado na leitura dos episódios anteriores, siga os links abaixo:

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (I)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (II)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (III)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (IV)





 

sábado, julho 20, 2013

A História de Silves em Medalhas - Idade do Ferro





 
 
História de Silves - 2
Idade do Ferro

No Calcolítico e na Idade do Bronze foram explorados jazigos de cobre na área do Concelho de Silves. A este último período pertencem numerosas necrópoles da denominada Cultura do Bronze do Sudoeste. Posteriormente, na Idade do Ferro (sécs. VIII-V a. C.), intensificaram-se os contactos com o Mediterrâneo Oriental e é introduzida na região, a escrita, a roda de oleiro e o fabrico de objetos de ferro. No Cerro da Rocha Branca, junto a Silves, estabeleceu-se uma feitoria fenícia, que se há de desenvolver na II Idade do Ferro, sob a influência púnica (sécs. IV-II a.C.).
 
 
 

quarta-feira, julho 17, 2013

NOITES D'ENCANTO, em Cacela Velha








Quinta-feira, 18 de Julho, na primeira das "NOITES D'ENCANTO", às 18h30, estarei em Cacela Velha com a responsabilidade de animar uma conversa de meia hora sobre o tema que recebeu o título "A poesia no Gharb al-Andalus".

Até lá!



segunda-feira, julho 15, 2013

Luz, sombras, cores, texturas






Eis, em Silves, a crueza da luminosidade, amaciada no azul do céu, absorvida nas irregularidades da textura da cal em ondas de sombra e luz, a conferir esta coloração quente, de fim de tarde. 
 
Olhemos esta arquitetura de simetrias e linhas paralelas, de chaminés e coberturas de telha ou de açoteias ávidas de água.
 
Será possível negar a proximidade do Norte de África ou a identificação com outras paragens, mais ou menos remotas, desse grande mar interior, o Mediterrâneo?
 

sábado, julho 13, 2013

A História de Silves em Medalhas - Período Neolítico





 


História de Silves - 1
Período Neolítico

           O Concelho de Silves oferece testemunhos muito remotos da ocupação humana.
Aqui se têm encontrado artefactos do Paleolítico fabricados, a partir de seixos e de lascas, pelos caçadores recolectores que o frequentaram.

         Cerâmicas e materiais de pedra polida oferecem indícios da presença do Homem Neolítico na região. Neste mesmo período (IV milénio a.C.) ergueram-se alguns menires que denunciam já a presença de uma superstrutura religiosa, complexa, onde se evidencia o culto da fertilidade.
 
 
 

quinta-feira, julho 11, 2013

A História de Silves em Medalhas




 
 
Por ocasião das Comemorações do 8º Centenário de Nacionalidade Portuguesa, em 1989, foi editada uma coleção de 12 medalhas, para 12 diferentes períodos da história local, onde cada uma delas, além de testemunhos relativos a cada um desses períodos, cunhados na face, traz, no verso, um pequeno resumo da História da Cidade.

O medalhista foi Max Barroso, há mais de duas décadas residente em Silves.

Tentando combater um pouco a visão redutora da nossa História, que a confina à presença portuguesa, e que a grande maioria dos silvenses desconhece, pois não integra o currículo escolar, fotografei cada uma dessas medalhas e divulguei-as aqui, uma a uma.

Irei reeditar essa publicação, com início no próximo sábado.

A cada sábado, uma das doze medalhas.

Espero que seja do vosso agrado e ajude a despertar a vontade de conhecer melhor os que aqui neste mesmo lugar, olhando o mesmo rio e a mesma serra que nos cerca, nos antecederam no tempo e construíram este lugar onde hoje vivemos.
 
 


quinta-feira, julho 04, 2013

Teresa Matias regressa a Silves com novo concerto






Teresa Matias enviou-me um convite para este seu espetáculo e a dado passo remete  para este meu blogue uma apreciação que aqui deixei quando do seu primeiro concerto em Silves.

Agradeço a referência e reproduzo o convite com um link para esse meu texto:

    Caríssimos,
     No próximo dia 6 de Julho, Sábado, pelas 22h00, estarei em Silves para um concerto a solo no Teatro Mascarenhas Gregório.

     As receitas deste concerto revertem em favor das vítimas do tornado que devastou a região de Silves/Lagoa em Novembro de 2012.
    É o meu segundo concerto em Silves, depois de ter tocado na Biblioteca Municipal em 2010. Aqui está um link para um blog de António Baeta acerca desse concerto:
    Os ingressos, que poderão ser adquiridos no local 30 minutos antes do início do espetáculo, têm um custo opcional de 5 ou 10 euros.
     A receita do concerto será depositada na conta solidária criada para o efeito, no balcão de Silves da Caixa Agrícola, NIB 0045.7130.42000308050.31
    Este evento conta com o apoio do Município de Silves e de Miguel Peres Santos. Tenho que agradecer também à Drª Maria José Mackaaij, pela sua abertura de espírito e generosidade, que têm permitido viabilizar todos os meus projectos para a cidade de Silves.

terça-feira, julho 02, 2013

Faz hoje nove anos que Sophia nos deixou






 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRANTO PELO DIA DE HOJE
 
 
Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que não podem sequer ser bem descritas



Sophia de Mello Breyner Andresen
Grades
Cadernos de Poesia - 15
Publicações Dom Quixote, Lisboa 1970


segunda-feira, julho 01, 2013

Memórias do blogue (III)




Este blogue irá cumprir dez anos no decurso deste ano de 2013.

Proponho-me trazer aqui, de vez em quando, alguns dos meus textos de 2003 menos marcados pelo tempo.

Se tivesse escrito essa conversa hoje não teria falado das mesmas coisas, nem provavelmente da mesma forma, mas aí está, tal como a escrevi há 10 anos atrás.

Em conversa com o Torreão da Almedina



Aqui permaneces, quase indiferente ao curso do tempo.

Há quantos anos, meu velho Torreão?


Já deverias existir quando os bárbaros cruzados desbarataram a tua cidade, mas foi certamente a reconstrução almoada, pelos finais do século XII, que te deu o aspeto com que hoje te apresentas.


Sim. Salvo algumas máscaras e coberturas, com que te foram conservando e adaptando às diversas vontades e funções, o teu aspeto fundamental deve ter-se mantido bem próximo do que ostentas hoje, quando te olho.

Esse teu olhar sobre a praça em frente não seria o mesmo, seguramente. Parece-me relativamente recente o tipo de gosto que embelezou essa janela por onde me espreitas.

Esses dois apêndices, com flores, dificultam-te a vista?

Usa-los para neles verter as tuas lágrimas?

Duvido que ainda as tenhas, de tanto chorar. Já viste de tudo, não é?

Testemunhaste toda a miséria que se abateu sobre ti após a conquista cristã; ao longo de vários séculos foste assistindo ao assoreamento do rio, à saída do Governo Militar para Lagos, ao envio dos teus filhos para os novos lugares de além-mar, à expulsão de judeus e mouros, ao abandono da Sé pelo seu bispo e respetivo cabido, aos terrores da Inquisição.

Sonhaste, por vezes, como quando da visita de D. Dinis e reconstrução da Catedral, viveste as alegrias da vinda dos que foram a Ceuta (e voltaram), vitoriaste Afonso V quando viste restaurar a ponte e de novo a tua igreja, recebendo a sua visita.

Viveste intensamente as exéquias e depois o traslado de D. João II, a visita de D. Sebastião, para sucumbir de novo perante a perda dos teus melhores nas areias de Alcácer Quibir.

Tremeste e sofreste com o vigoroso terramoto de 1755.

Quase só, foste permanecendo ao longo do tempo, de restauro em restauro, pois tu eras a sempre restaurada, ou não fosses o local onde o poder se exercia, anfitriã ilustre de quem te visitava.

A pouco e pouco foi chegando a cortiça e com ela os corticeiros, os comerciantes, os capitalistas, os administradores das grandes fábricas, os operários e os assalariados, enchendo a tua cidade de gente, de dinheiro, de casas térreas e de prédios, dos novos Paços do Concelho (finalmente!), de bulício, de agitação, de riqueza e de miséria, mas também de ideias novas, de ciência, de tecnologia e de política.

Novas rotas, novos caminhos, novos interesses e a cidade corticeira ruiu num sangradouro que tudo levou: as fábricas, os operários, o capital e o trabalho.

Eis-te agora, esperançada na escola técnica, na barragem, na laranja, no turismo, no 25 de Abril, na Fábrica do Inglês, no Instituto Piaget, na autoestrada, no POLIS, mais uma vez ainda no almejado desassoreamento do rio, no que há de vir, no que há de chegar, na esperança, na esperança, na esperança...