Porque queremos sempre ir além sabendo que
não podemos ultrapassar os limites do tempo e do espaço
nem podemos encontrar o transcendente apoio
a que a nossa ânsia aspira sempre em vão?
(...)
As Palavras
Campo das Letras, Porto 2001
Os meus visitantes estão a diminuir a olhos vistos - já só caem umas pinguinhas. Esperemos que isto melhore depois das Festas.
Hoje aposto, simplesmente, para deixar algumas referências curiosas:
- a primeira vai para uma homenagem a Johnny Cash, que aqui já referi, mas que deve ter ficado esquecida aí pela página abaixo. Não receiem carregar no link que se segue. É de facto uma coisa espantosa e figura no blog que mereceu o prémio para o melhor design dos British Blog Awards. Visitem Johnny Cash, em Desperado.
- a segunda referência vai para o humor de Tiago Barbosa Ribeiro no Blog de Esquerda e que não resisto a transcrever.
Ouve-se dizer que o país vai ser, de novo, referendado sobre o aborto.
Ao que consegui apurar, a questão que será exposta aos cidadãos já está formulada e é aqui avançada em primeira mão.
- a terceira referência vai para uma recolha de pragas (ou trações) algarvias que vi referidas em Um pouco mais de Sul. Já lá deixei o meu primeiro contributo.
Afinal esta preguiça, este dolce fare niente, esta vontade de faineanter, que não passa de uma desilusão pelo que me cerca, além de me ter atingido e aos mais a que já me referi, reflecte-se também, pelo menos, em dois textos do Público de hoje:
Estou rendido à moleza. Deu-me para desfolhar uma velha edição da História Luso-Árabe (1945), de Garcia Domingues, um grande arabista desta minha terra, quando se me deparou este pequeno excerto de um poema de João Lúcio, de Olhão:
Prossigo neste doce, preguiçoso e inocente capricho de brincar com as palavras, a que hoje acrescento as imagens.
Pacheco Pereira, que ontem me inspirou este tom, já o abandonou; outras responsabilidades e urgências que eu não tenho.*
Há dias nublados, penumbrentos, frios, tristes, nostálgicos.
Há dias encobertos, chuvosos, pardacentos, húmidos, enfadonhos.
Há dias de sol, limpos, radiosos, quentes, despreocupados.
Há dias a vários andamentos: chuvosos, nublados, mas luminosos, de uma luz que prenuncia a breve chegada do Sol e que, quando as nuvens se afastam, irrompem numa paisagem límpida, em que as próprias cores da natureza ganham outra vivacidade, como se as tivessem lavado e o nosso estado de alma, lavado ele também, ganha aquela alegria que nos traz uma outra vontade de viver.
Esta foto capta um desses dias, no preciso momento em que ainda se ouvem os últimos acordes do adagio que antecede o allegro.
*Afinal, falei cedo de mais. Acabei de verificar que Pacheco Pereira mantém aquele tom nos seus early morning blogs e até enquanto peca conscientemente.
Não me apetece falar do Saddam, nem da Constituição Europeia, nem dos imigrantes (a mais?), nem do islamismo, muito menos do cristianismo (nesta época tão cristã(!)), da Palestina e Israel pouco posso adiantar (do outro lado, do outro muro, também pouco se sabia), a pedofilia faz tempo que entrou em águas mornas.
Estou a habituar-me ao deficit.
Nota: Se a conjugação estiver correcta, o meu faineanter veio do Abrupto, em post de ontem, pelas 13h55.
O Local e Blogal abre hoje uma porta para a poesia, listando, na coluna da direita, por ordem de publicação para cada poeta, os links que permitem aceder a toda a poesia que já por aqui passou. A porta manter-se-á aberta para nela incluir toda a poesia que ainda aqui se vier a publicar.
A intenção é a de facilitar a pesquisa do tema que, creio, mais gente procura neste blog.
Alguma coisa receamos e nos desafia a passar esta porta entreaberta.
É a impenetrabilidade que nos sugerem as paredes que a rodeiam e a justificam. É o confronto com o saber milenar que transpira destas pedras que já tanto viram e ouviram. É o convite que nos parece formular aquele pequeno e frágil poial, dessa mesma pedra sapiente. É a fresta a despertar a curiosidade. É o escuro, para além da fresta, a desencadear o medo. É o apelo do desconhecido.
Entre, se quiser saber!
Da minha viagem a Santarém, quero mostrar-vos ainda o belo capitel, do século XII, de que falava em A Xantarim e a Ibn Bassam.
A ideia foi-me suscitada pela contemporaneidade e semelhança temática do poema de Ibn al-Milh, de Silves, que aqui transcrevi no passado dia 3 de Dezembro, e o poema que pretendo transcrever hoje, de:
*Post Scriptum
Mas...
apesar da pressão comercial, do consumo exagerado e poluidor, do gosto duvidoso da iluminação e da música que temos de aguentar, aprecio o ritmo que esta época impõe, com os passeios cheios de gente, cumprimentando-se (vivo numa cidade pequena, onde quase todos nos conhecemos), perguntando pela família, desejando, sincera e esperançadamente, um ano melhor. Gosto de encontrar os amigos, jantar com eles, conversarmos demoradamente, e de manifestar a minha lembrança, a minha amizade, o meu reconhecimento aos que estão longe. Emociono-me com a chegada dos filhos, dos irmãos, dos sobrinhos, da família que começa a reunir-se para a ceia de Natal. Desvaneço-me com o bacalhau, as batatas, a couve, o azeite, o vinho verde tinto, a aletria doce, as rabanadas e o calor da amizade. Recordo saudosamente o meu pai (um homem do Norte, a justificar esta prática alimentar em noite de Natal, distinta da carne de porco com amêijoas, tradicional na ceia natalícia em Silves) e a minha mãe, afanosamente preparando o jantar durante todo o dia, fatigada, mas sempre com um sorriso e um toque de humor nas suas conversas.
Também gosto de sentir este aperto na garganta, agora, enquanto escrevo estas palavras.
É tradição familiar: os cartões de boas festas, as decorações, as compras, o presépio (hoje em dia a árvore), enfim, a época de Natal, começa a partir do 8 de Dezembro.
Queria saudar-vos, então, com a chegada do meu Natal tradicional, mas o Jorge Candeias antecipou o que eu pretendia dizer num spamema, que reproduz essa minha intenção numa síntese perfeita.
Na sequência do meu post de ontem e satisfazendo algumas curiosidades que me foram manifestadas, deixo-vos estas imagens de uma moeda (frente e verso), cunhada em Silves no período almoada (Na primeira imagem (frente), no canto inferior esquerdo, é possível identificar o topónimo XELB, Silves em árabe),
com indicação do site de onde foram retiradas e onde consta uma breve história deste período, ao tempo de Ibn Qasi, de Silves.
Sugiro ainda uma visita pelo Legado Andalusí.
Finalizando, uma recomendação muito especial: Portugal Islâmico (Os últimos sinais do Mediterrâneo), uma publicação do Museu Nacional de Arqueologia, mais exactamente o catálogo de uma exposição com o mesmo título, coordenada por Santiago Macias e Cláudio Torres. (ISBN 972-776-000-7)
Por hoje chega.
Para compreender o Islão, é o título de um post, a cuja entrada tive acesso no blog História e Ciência, a que o link atrás permite aceder, mencionando uma edição especial da revista História, com o mesmo título e para a qual chamo a vossa particular atenção.
Esta minha insistência em temas do Islão tem a ver directamente com a minha naturalidade e com a curiosidade daí resultante em comprender a civilização do Al-Ândalus que precedeu, nesta minha terra, a chegada dos cristãos do Norte.
Acontece ainda que o fulgor daquela civilização me enche de orgulho e que por ela sinto uma atracção e uma sedução que deriva da descoberta de muitas afinidades com a minha maneira de ser e estar, que se reflecte até na cor da pele, e um forte sentimento de identificação.
O que me interessa de facto é a civilização do Al-Ândalus enquanto civilização mediterrânica ao Sul de Portugal, mas para a compreender melhor tive que percorrer alguns dos caminhos que ela própria percorreu para aqui chegar. Aí, no entanto, o interesse é meramente circunstancial, se bem que essa circunstância, hoje, seja uma preocupação comum a todos os que tencionam compreender o mundo em que vivemos e o fenómeno que já começa a designar-se por embate civilizacional.
Esta explicação prolongada servirá, eventualmente, aos que frequentemente me interrogam sobre esta minha insistência em temas árabes.
Na citada revista, Cláudio Torres, aquele que mais tem trabalhado para resgatar o passado islâmico de Portugal, como afirma Luís Leiria no editorial, concede uma longa entrevista, de elevado interesse para a compreensão desta civilização, a última grande civilização do Mediterrâneo.
Acicatando a vossa atenção refiro algumas temáticas a contra-corrente, ou menos usuais:
Espero ter despertado alguma vontade de vir a ler esta interessante entrevista, se é que não os macei e produzi o efeito contrário, e provoque algum desejo de melhor conhecer o outro, o do outro lado deste grande mar interior onde fermentaram todas estas civilizações ditas ocidentais, que nos fizeram tal como somos hoje.
Ibn al-Milh (*)
O JARDIM brinca com a brisa
Que, dir-se-ia, ser sua emissária
No chamamento à festa da alvorada.
Está ébrio, preso de seus ternos ramos,
E quando os doces pássaros o cantam
Ele vai repetindo essa canção.
Não faltam flores, estratégicos espias
com seus olhos vigiando namorados.
E se destacam na folhagem verde
como luz brilhando sobre as trevas.
(*) Ibn al-Milh viveu em Silves no período da taifa dos abádidas, na sequência da queda do califado omíada. Filho de um poeta da corte de Al-Mu'tadid (pai de Al-Mu'tamid), teve sempre grande apego à sua Silves natal, nunca a trocando pela vida palaciana de Sevilha, apesar das insistências de Ibn 'Ammar.
(Nota do apostador)
Ah, Este modelo predatório de crescimento industrial, em terminologia do Abrupto num post de 22 de Novembro, sob o título Heranças e Desejos (tentei o link directo, mas não funciona).
Vem esta introdução a propósito de uma animação que nos fala de crueldade sobre os animais, de germes cada vez mais resistentes aos antibióticos, de poluição em grande escala, de comunidades destruídas, enfim, deste modelo predatório de crescimento industrial. Todos nos lembramos, em Matrix (I), de Smith torturando Morpheus, dizendo-lhe que a relação dos humanos com o seu habitat não é a de um mamífero, mas a de um vírus, esgotando os recursos e partindo para outro habitat, sucessivamente.
Pois é de Matrix que estou falando, nesta animação utilizada pelos produtores de carne em quintas tradicionais, nos Estados Unidos da América, que provavelmente muitos de vocês já conhecem, mas que vos convido a visitar em THE MEATRIX, assim mesmo, como em meat. (Liguem o som. É imprescindível)