quarta-feira, maio 25, 2005

Mértola islâmica

Festival Islâmico, Mértola 2005, © António Baeta OliveiraFestival Islâmico, Mértola 2005, © António Baeta OliveiraFestival Islâmico, Mértola 2005, © António Baeta Oliveira

É certo que estes recantos de Mértola nos sugerem lugares de gosto oriental, árabe e islâmico.

Festival Islâmico, Mértola 2005, © António Baeta Oliveira
É certo que a fortaleza, lá em cima, no alto, dominando a vila, testemunha a presença dessa civilização islâmica que nos precedeu e o herói, em estátua, tem um nome que não sabemos bem como pronunciar.


É certo que houve um Seminário Internacional, de divulgação de estudos e trabalhos sobre esse mundo distante e sua influência sobre o povo que somos hoje. Que o riquíssimo espólio do Museu Islâmico atesta a presença de gente que aqui viveu, trabalhou e amou. Que aí se visiona um vídeo que ilustra a semelhança de procedimentos que se identificam no fabrico do pão, na produção cerâmica, no amanho da terra, entre as gentes de Xauen (Marrocos) e de Mértola.

É certo que houve lugar para conferências, exposições, palestras, lançamentos de revistas que aprofundam o conhecimento desse mundo e desse tempo.

É certo que esta vila se projecta a partir da divulgação do seu património e atrai um turismo cultural que tem uma importância inegável na economia desta terra e da sua gente.
Festival Islâmico, Mértola 2005, © António Baeta Oliveira
Mas também é certo que a grande atracção do Festival Islâmico de Mértola, que aqui arrasta multidões, não reside na identificação das semelhanças, no entendimento de que essa herança contribuiu profundamente para o que somos hoje, mas antes na dissemelhança, na diferença, no exotismo:
nos bazares de rua com as cores vivas que não ousamos usar; nas vestes e nos trajes estranhos e desadequados à nossa vida de todos os dias; nas fragrâncias e perfumes que nos surpreendem e não reconhecemos; na música, de tonalidades, timbres, ritmos, cadências e escalas que não nos são comuns; nos paladares da harissa, dos cominhos e doutras ervas aromáticas e na combinação de sabores, produtos, tempos de cozinhar, apetrechos, que nos proporcionam refeições de sabor diferente; no artesanato dos metais, das madeiras, das cerâmicas, dos tecidos cuja estética nos perturba; nas orações e rezas colectivas com rituais que não são os nossos.

Mas também é certo que, se esta atracção e apreço pelo conteúdo mais folclórico ou mais exótico não altera as reservas mentais sobre o mundo muçulmano ou os mitos históricos que estão na base da afirmação da nossa nacionalidade, estes festivais geram uma empatia natural que pode servir de base à aceitação do que é estranho, do que é diferente... do outro.
Pode servir o entendimento e a aproximação dos povos. Pode servir a PAZ.

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