Eco de viagem
Partir - ouvindo a noite bater
contra os vidros da memória! Linhas
sucedendo às linhas, nos grandes
continentes onde o gelo se desfaz
num curso de rios disperso no mapa
da vigília. Deixar que o ruído
dos carris embacie as frases murmuradas
no corredor, enquanto os viajantes
procuram um bar por entre
as carruagens. Decorar nomes de cidades
que a treva oculta, e só se deixam
adivinhar num súbito brilho de estação
onde alguém dorme, num banco
de madeira, sob o relógio parado
num outro século. Respirar o calor
tépido dos dormitórios improvisados,
convivendo com sombras que
ressonam uma ressaca de álcoois
baratos. E ver a imagem
que nasce num súbito abrandar
de rodas, perto da fronteira,
deitando sobre mim um olhar
que ainda hoje não sei ler, como
se a sua linguagem se tivesse
perdido num alfabeto de velhas
emoções.
Nuno Júdice
As coisas mais simples
Dom Quixote, Lisboa 2006
5 comentários:
Muito bom.
Ó capa, 27!
Como gostei desta viagem!
Helena
Há um clima e um vocabulário de viagem nestes ecos, não há!?
Também gostei muito.
Gostei e lembrei-me da nossa velha Estação... de quando ela era...
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