SENHORA DA ROCHA
Procuras neste mar ainda o espelho
a espuma de outro tempo No levante
movendo as novas ondas
respiras a memória tão azul
da tua juventude Há vinte anos
o cenário do mundo talvez fosse
límpida linha de água
agora exposta ao frio de fevereiro
a este sol gelado quando as ondas
avançam e rebentam
na esperança de um sonho que brilhasse
mais do que a própria espuma e atingisse
a tua face
Debruças-te à varanda e absorves
o vento Mal procuras
no azul de outros olhos o que resta
da tarde que se arrasta enquanto escutas
as promessas de Averno
os estridentes gritos das gaivotas
Voam de novo em círculos Procuram
também elas a luz
de outro sol que as salvasse que lhes desse
um céu fora do tempo
Fernando Pinto do Amaral
ALGARVE todo o mar
(Colectânea)
Dom Quixote, Lisboa 2005
14 comentários:
Lindíssimo! Um quase-retrato! B agradece-lhe!
Tão belo!
Um abraço, Helena.
António Oliveira
Obrigado pelos momentos de convívio que nos proporciona no seu blog, onde a poesia é soberana.
Guardo no silêncio os momentos mais marcantes de uma vida desgastante, onde outrora vingava a cultura e a poesia.
Agora, olhando para trás, vejo um denso nevoeiro que teima em permanecer junto de nós, fortalecendo cada vez mais as nossas amarras.
Continuação do excelente trabalho que aqui é desenvolvido. Um forte Abraço. Até breve.
Um dia a "Vitória será nossa"!
"Elogio do amadorismo
Ontem fui ouvir um amigo que canta num coro amador a uma igrja perto de Penn Station. Magnificat de Bach, entre outras peças. O coro era sofrível, os solistas esforçados e os instrumentistas contratados uns músicos aos biscates. Mas o Magnificat lá sobreviveu e cheguei mesmo a pensar que, mais do que os grandes agrupamentos e as estrelas no canto, talvez aquele défice de excelência dê um fiel retrato do que se terá passado na Leipzig de Bach"
in Caderno I
Vasco M. Barret
Leia-se "igreja" e "Barreto"
Tenho o sítio na memória. As palavras sentia-as mas não as sabia. Obrigada, António! Mais um doce vôo, momento do Sul e ar aberto. Abç
Meireles
A poesia não precisa de vitória; não tem que ganhar a ninguém. Também não comungo essa ideia desse passado tão glorioso de que falas; não o avisto, mesmo sem as brumas.
Mas tens aqui o meu abraço.
Bet
Obrigado.
"Procuras neste mar ainda o espelho
a espuma de outro tempo
No levante
movendo as novas ondas
respiras a memória tão azul
da tua juventude
Há vinte anos
o cenário do mundo talvez fosse
límpida linha de água
agora exposta ao frio de fevereiro (JANEIRO)
a este sol gelado quando as ondas
avançam e rebentam
na esperança de um sonho que brilhasse
mais do que a própria espuma e atingisse
a tua face"
HÁ VINTE ANOS!
PARABÉNS!por ainda hoje, 28 de janeiro de 2007, continuares a procurar...
Obrigado pela partilha e pela amizade.
Um bjinh grande de parabens. Fatma
Manuel e Fátima
Um grande abraço, meus caros amigos.
(Aos dois filhos gêmeos, da minha amiga Emília, acabados de nascer):
Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...
Miguel Torga
muito bom
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