Na passada sexta-feira passou mais um ano sobre o dia da morte de Pessoa (30.Nov.1935).
Como sucedeu levar comigo, num passeio que dei junto à areia da praia, o Livro do Desassossego, de Bernardo Soares (heterónimo de Pessoa), e a leitura de um dos seus escritos, que abaixo transcrevo, me ter inspirado a foto abaixo, resolvi partilhar convosco esta reflexão do poeta.
A personagem individual e imponente, que os românticos figuravam em si mesmos, várias vezes, em sonho, a tentei viver, e, tantas vezes, quantas as tentei viver, me encontrei a rir alto, da minha ideia de vivê-la. O homem fatal, afinal, existe nos sonhos próprios de todos os homens vulgares, e o romantismo não é senão o virar do avesso do domínio quotidiano de nós mesmos. Quase todos os homens sonham, nos secretos do seu ser, um grande imperialismo próprio, a sujeição de todos os homens, a entrega de todas as mulheres, a adoração dos povos, e, nos mais nobres, de todas as eras... Poucos como eu habituados ao sonho, são por isso lúcidos bastante para rir da possibilidade estética de se sonhar assim.
A maior acusação ao romantismo não se fez ainda: é a de que ele representa a verdade interior da natureza humana. Os seus exageros, os seus ridículos, os seus poderes vários de comover e de seduzir, residem em que ele é a figuração exterior do que há mais dentro na alma, mas concreto, visualizado, até possível, se o ser possível dependesse de outra coisa que não o Destino.
Bernardo Soares
(Fernando Pessoa)
Livro do Desassossego
Assírio & Alvim, Lisboa 2005
2 comentários:
E a fotografia, como sempre, linda!
Não está nada relacionado com este post mas, quando puderes, passa pelo meu blog.
Bjs
Já lá fui, amiga, mas eu detesto mesmo essas coisas e aos amigos, que nos entendem, é mais fácil dizer que não.
Desculpa, sim, June!
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