sexta-feira, outubro 17, 2008

De Ramos Rosa a Alexandre O'Neill

António Ramos Rosa nasceu em Faro a 17 de Outubro de 1924.

Os meus parabéns assumem a forma de um poema seu, dedicado a um amigo, a quem se dirige com toda esta ternura, retratando a sua ironia e a sua mordacidade:


  • Ter um braço de barro, um braço só
    todo carinho: terra!
    Cabelo, telhas, livros, solidões
    pedras e pedras, pedras
    e ruídos doces de casas velhas de fundos corredores.
    Um braço: uma raiz.

    Um menino que mija no escuro sobre as estrelas
    sobre o meu rosto:
    no chão, na terra, nas pedras, no estrume,
    irmão do insecto, obscuro, pesado
    de muros, ervas, ossos e flores.

    Um pássaro?
    Um braço
    Um braço de terra, pedras, ossos,
    um braço: todo o carinho, terra.

António Ramos Rosa
Voz Inicial
Livraria Morais, Ed.
Lisboa 1967

2 comentários:

hfm disse...

Um dos grandes poetas contemporâneos e, quanto a mim, pouco divulgado.

Fatma disse...

"ossos e flores". Este poema traz-me sensações orgânicas, de ternura e também viscerais. bj