segunda-feira, dezembro 28, 2009
segunda-feira, dezembro 21, 2009
Um conto que retorna a estas páginas
Houve um periodo de tempo em que aqui publiquei alguns contos com alguma regularidade.
O meu avatar na Second Life (SL), Ibrahim Bates, pegou neles e deu-lhes uma ar de livro em 3D, divulgando-os nesse outro mundo, dito virtual, mas onde as pessoas são realmente muito reais mesmo. :)
Agora, o calaméo deu-me esta oportunidade de os apresentar de uma forma mais atraente, quase como que copiando para duas dimensões o que em SL aparenta ser tridimensional.
O conto que vos trago já por aqui passou há algum tempo e como foi publicado em SL por ocasião do Natal do ano passado, resolvi trazê-lo hoje aqui também durante a quadra festiva que se aproxima. Ei-lo!
(Para sair basta premir a tecla Esc)
Se não voltar a escrever até ao Natal, fica o conto a prestar-se a um voto de Boas Festas.
sexta-feira, dezembro 18, 2009
É Ano Novo noutras paragens
quinta-feira, dezembro 17, 2009
Museu da Cortiça, de Silves, em perigo
Um apelo à vossa atenção para uma situação que pode colocar em perigo "o maior acervo documental do mundo sobre a história da indústria da cortiça", nas palavras do Director do Museu, Dr. Manuel Ramos, à LUSA.
O Conselho Nacional do ICOM (Conselho Internacional dos Museus) divulgou um comunicado que pode ser lido neste link (basta clicar).
Também o jornal EXPRESSO se faz eco desta preocupação.
Leia, clicando aqui.
P.S.
Saiba que ao clicar nas fotos pode obter uma ampliação.
Yearbook 2009
O meu avatar na Second Life, Ibrahim Bates, é co-proprietário de uma galeria de arte - LX Gallery - num território designado como Portucalis (link acessível a utilizadores de SL).
No próximo dia 20, a partir das 22 horas, será inaugurada uma exposição retrospectiva deste ano que agora irá terminar, a que atribuímos o título "LX Gallery - Yearbook 2009".
Para que tenham uma perspectiva do que ali se faz, aqui tendes uma cópia do livro de apresentação que foi produzido nesse mundo virtual e lá existe em formato 3D.
(Para sair basta premir a tecla Esc)
segunda-feira, dezembro 14, 2009
Não há beleza com B maiúsculo
Equilíbrio no desenho das linhas, das formas, dos volumes, segundo padrões há muito estabelecidos.
Beleza clássica, a que a declinação solar e a coloração outonal, nomeadamente a projecção das sombras dos objectos, conferem algum apelo à atenção dos sentidos.
A sensação de beleza é despertada culturalmente; daí as diferentes concepções dos povos sobre esta matéria. Esta de que falo é normalmente chamada ocidental e reivindica para si a herança clássica grega.
Sujeita-se, contudo, às diversas influências sofridas pelo passar do tempo, pelo lugar e pela actividade humana.
P.S.
Tinha previamente escrito "pela acção do Homem", onde agora está "pela actividade humana", mas quis fugir ao homem com H maiúsculo. :)
sábado, dezembro 12, 2009
Convite para dançar
quinta-feira, dezembro 10, 2009
O Sol a fazer das suas
Curiosamente foi o post sobre Copenhaga 2009 a interpor-se a duas fotos de portas da mesma rua, onde o Sol parece querer brincar com as sombras que ele próprio cria.
Aqui, face a uma porta desnudada de qualquer decoração, salvo o recuo emoldurado em que se integra, projectou sombras de ramos, a alegrar a monotonia branca da cal desta parede.
terça-feira, dezembro 08, 2009
Copenhaga é o limite
(Imagem retirada do jornal Público e com link directo para o jornal)
Que saibam os representantes de todas as nações do mundo convergir numa proposta a respeitar, a exemplo do que fizeram 56 jornais em 44 países num editorial comum.
Leia-o, se ainda não o fez, clicando aqui.
segunda-feira, dezembro 07, 2009
Amor, com amor se paga
O Sol parece guardar algum cuidado; não vá a roupa ficar molhada, contrariando a intenção de quem a usa vestir.
Como que afasta as sombras, contornando blusas, camisolas e cuecas. Reserva até um espaço para uma peça extra, revelando-se conhecedor dos hábitos de quem conta com ele.
Amor, com amor se paga - costuma dizer-se.
quarta-feira, dezembro 02, 2009
As hespérides são moças algarvias
- As hespérides são moças algarvias
E em parte alguma encontramos a fina areia doirada
que os pés nus das deusas podiam pisar com delícias.
Teixeira Gomes: Agosto Azul
Ao descrever o Promontório Sagrado, ou cabo de
S. Vicente-Sagres, diz Estrabão, fundando-se nas
palavras de Artemidoro: "... que ali não é permitido
sacrificar, nem ir de noite àquele lugar, porque se
assevera que os deuses estão lá, então."
José Leite de Vasconcelos: Religiões da Lusitânia
No Garb realça o azul deuses morenos
À doçura dos figos submetidos.
Vieram gregos. Ficaram Sarracenos.
Nardos enfolham seus nomes esquecidos.
À noite ordenham luas nos terraços,
Dão leite à sombra. Abrolham os perfumes.
Silêncio. Só de um lírio ouvem-se os passos.
Madruga a pesca, rompe um mar de lumes.
Esvoaçam suas túnicas de abelhas
Entre vinhas, seus bêbados recintos;
E quando a amendoeira nas orelhas
Põe flores, deram-lhe os deuses esses brincos.
Vem de turbante o sol e toma posse
De corpos, cactos, milhos e vinhedos.
Excita o açúcar na batata-doce
E despe as almas gregas dos penedos.
Ouro firme, crepúsculos de cinabre
Senhorio de azul. Balcões mouriscos.
Ferve a prata na pesca. O cheiro abre
No ar quente uma vulva de mariscos.
Jardins de Hespéria? Ninfeu de ondas macias,
O mar. As ninfas guardam os pomares.
As hespérides são moças algarvias
Todas jasmim, da testa aos calcanhares.
Garb de praia pele magia e lendas,
Branco de extasiadas geometrias.
Absorto o tempo. São gregas as calendas
Com pálpebras de mouras gelosias.
Laranjas, cal, areia e rocha ardente
têm sede da luz que dá mais vida.
Índigos deuses. Ardor. Tudo é presente.
Causa clara de beira-mar garrida.
Natália Correia
Neste lugar onde os Deuses
Poesia Completa. Publicações Dom Quixote, 1999
Adosinda Providência Torgal
Madalena Torgal Ferreira
ALGARVE todo o mar
(Colectânea)
Dom Quixote, Lisboa 2005
sábado, novembro 28, 2009
Cinema de animação, esse ilustre desconhecido
Na última sessão do Ciclo de Cinema que a Biblioteca Municipal de Silves vem a promover, assisti a um filme de animação que já aqui mereceu referência - Persépolis.
No debate que se lhe seguiu, Graça Lobo, do Cineclube de Faro, mencionou uma cineasta portuguesa, uma das nossas mais premiadas cineastas, segundo as suas palavras, de quem eu nunca antes ouvira falar ou cujo nome se me perdeu nos escombros da memória.
Procurei-a no Google, esse incomensurável repositório, e teria muita pena se não pudesse dá-la a conhecer, de tal forma fiquei bem impressionado pelo que vi e mal impressionado pela forma como autores portugueses deste nível ficam escondidos aos olhos da grande maioria, no meio de uma parafernália de main stream, com que a publicidade da indústria cinematográfica vai construindo o (des)gosto do público.
Trata-se de
Regina Pessoa.
Aqui a tendes, graças ao Youtube:
quinta-feira, novembro 26, 2009
De ti, para ti
Parece que estou em tempo de particular comemoração de aniversários, mas não passa de mera proximidade de datas.
Permitam-me, então, saudar o aniversário de um poeta amigo - Torquato da Luz.
- PARA TI
Para ti quero a flor da madrugada,
a luz que chega dos lados do mar,
o cântico das ondas sobre a praia
e o voo sereno das mais raras aves.
Para ti quero a estrela da manhã,
a brisa que refresca o fim da tarde,
o sabor perfumado das romãs
e a placidez do tempo das searas.
Para ti quero isto, aquilo e tudo
o que cabe e não cabe neste mundo.
Torquato da Luz
Por Amor e outros poemas
Papiro Editora, Lisboa 2008
segunda-feira, novembro 23, 2009
Pelo aniversário de ...
... Herberto Helder:
Nenhum corpo é como esse, mergulhador, coroado
de puros volumes de água.
Nenhuma busca tão funda, a tal pressão,
como pesa na água uma ilha fria,
a raiz de uma ilha.
Uns procuram ramas de ouro.
Outros, filões de púrpura unindo
sono a sono. Há quem estenda os dedos para tocar
as queimaduras no escuro. Há quem seja
terrestre.
Tu esbracejas entre sal agudo.
Não falas, mal respiras, moves-te apenas
e fulguras
como uma estrela cheia de bolhas.
Feroz, paciente, arremetido, mortal, centrífugo.
Com todo o peso do coração no centro.
Herberto Helder
FLASH, 1980
Ou o Poema Contínuo
Assírio & Alvim, Lisboa 2004
domingo, novembro 22, 2009
Obrigado!
O meu obrigado a todos os que contribuíram para que este blogue tenha ultrapassado, há poucos minutos,
page views.
sexta-feira, novembro 20, 2009
Que vivam as crianças!
Fui cativado pela graça e sensibilidade do realizador francês Gilles Porte, cujo trabalho a TV5Monde (canal internacional da televisão francesa) elegeu como forma de divulgar a passagem do 20º aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança, que se comemora precisamente hoje, 20 de Novembro de 2009.
Gilles Porte percorreu 20 países, dos 5 continentes, propondo a crianças entre os 3 e os 6 anos de idade, que não soubessem ler nem escrever, que desenhassem o seu retrato, em transparência, sobre uma superfície vidrada.
São 80 os retratos que a TV5Monde irá revelar no dia 20 e onde, ao vídeo de cada criança no momento de desenhar, se segue uma animação sobre o seu próprio retrato.
A banda sonora joga também um papel fundamental nesta série de vídeos que, creio, vos irão tocar emotivamente.
Penso não ir interferir nos direitos de autor, que me parece ter defendido nos vários links e referências aqui deixados, a que acrescento o do local preciso onde, a partir de hoje, é possível aceder aos 80 vídeos deste cineasta: (clicando aqui).
Fica uma amostra, com o vídeo de um miúdo birmanês.
quarta-feira, novembro 18, 2009
Em Silves onde as fontes
- Em Silves onde as fontes
Chegaram os cruzados e o silêncio
tocou o fundo da água da cisterna.
Dispersaram-se os sons do alaúde
nos jardins do alcácer, onde as fontes
acompanhavam vozes e corriam
para um tempo de terra e poesia.
E alguém chorou a sorte destes campos
que, um pouco mais a Sul, vêem o mar.
Alguém deixou a marca para sempre
de um perfume mais branco que as partidas.
Guardam flores de sangue alguns caminhos.
Os guerreiros passeiam sob as naves
Agora, uma flor branca sai da fenda
mais alta da muralha e muda a cor
da pedra à volta, dá-lhe novo brilho
como se o tempo fosse um arco vivo.
Húmido canto chega deste rio
que foi lugar de festa e de viagem:
ainda se ouve um canto nesta margem,
um alaúde, um baile, a dança leve.
Chega do mar um vento luminoso
que toca a pedra ruiva do castelo:
traz o gosto da amêndoa, da laranja,
das rosas bravas, soltas sobre a terra.
O Garb Al-Andaluz mostra as ruínas:
nos poços, nas cisternas de arenito
corre, ainda, o perfume dos vestidos,
esvoaçando leves sobre os corpos.
Quem dera ouvir, agora, Ibn Amar
a ciciar os versos da paixão!
Quem dera, em Silves, ver Al-Muthamid
a oferecer-lhe a rosa do perdão!
Quando chega o perfume incandescente
dos laranjais em flor, canela e tâmara,
ouvem-se versos soltos, prolongados
pelas margens do Arade, o mesmo rio.
De Abu Afan não falam as memórias:
já os candis se apagam sobre o mar.
Firmino Mendes
A Terra e os Dias
Pedra Formosa, Guimarães 2000
Adosinda Providência Torgal
Madalena Torgal Ferreira
ALGARVE todo o mar
(colectânea)
Dom Quixote, Lisboa 2005
segunda-feira, novembro 16, 2009
Poema em foto
Uso aqui publicar fotos que ilustram poemas ou até, mais frequentemente, fotos que comento com alguma escrita de pendor poético, mas o que vos trago hoje não é uma poema-foto, nem um foto-poema, mas um poema em foto.
Trata-se de uma fotografia, batida em Alte, sobre um painel de azulejos, numa homenagem ao poeta Cândido Guerreiro, natural desta singela localidade do concelho de Loulé.
sexta-feira, novembro 13, 2009
Rubis
Jorge de Sousa Braga, tradutor de um haiku de Matsuo Bashô que aqui publiquei há duas semanas, é também ele um poeta.
Um seu brevíssimo poema para este fim-de-semana.
- Rubis
A terra escondeu nas entranhas
as suas lágrimas de sangue
para que ninguém as pudesse ver
Jorge Sousa Braga
O Poeta Nu
[poesia reunida]
Assírio & Alvim, Lisboa 2007
quarta-feira, novembro 11, 2009
Entre o mito e o homem
O Infante olhando o mar.
Pelo que conheço dele, apesar de toda a mitografia associada, deveria ser homem pouco dado à contemplação da Natureza e pouco preocupado com as condições do tempo, para além das que teriam a ver com o êxito dos seus projectos.
Com a mentalidade própria da sua época e a classe social de um príncipe, de um Infante de Portugal, não lhe deveria passar pela cabeça qualquer preocupação com as gentes do povo que lhe pudesse merecer algo mais do que a distante atitude da chamada "caridade cristã".
Se caravelas houvesse que não partiam com tempo agreste, mais se deveria ao êxito do empreendimento e menos à preocupação com o número de vitimados pelas calamidades do tempo e as condições da viagem.
Praticamente senhor de todo o Algarve, acumulava dividendos pessoais das mais variadas actividades da região, desde o produto da pesca à produção de farinha, de azeite, de frutos secos, de vinho...
E estou em crer que não os usaria em proveito pessoal, de tal forma seria um homem imbuído nos seus afazeres, projectos múltiplos, lúgubre e misógino como parece ter sido.
Mas os mitos empurram-nos para observar um Infante, superiormente sentado frente ao mar, olhando o vento que verga as palmeiras, preocupado com a sorte dos seus mareantes e o destino daquelas mulheres e filhos que no cais ficavam a acenar.
segunda-feira, novembro 09, 2009
A Alvorada, de Palma Dias
Embora conheça o poeta, perdi há muito o contacto com a sua poesia.
Voltei a encontrá-la de novo em Escritores Portugueses do Algarve, numa publicação das Edições Colibri.
O poema que transcrevo tocou-me no que de mais autêntico e profundo há no meu próprio ser, do que me alimentei a partir do ambiente envolvente, da paisagem, da gastronomia, dos costumes e tradições, desta terra da minha infância que Palma Dias canta como nunca antes senti.
Um deslumbramento.
- Alvorada
Lembro as terras de infância o sossego do sal
As águas lentas dos esteiros, a foz
Do Guadiana
O voo das francelhas do castelo
Cometas e morcegos, gaviões do cair da noite no
[crescer do Verão
O porto-cais de madeira com a lua cheia
... cheira a Japão e China
A rio com os tamancos mouros
A maresia
A levante
Com o sapal branco de gaivotas na tormenta
[Terra marismeña]
Piras de Sal
Nortada (restêvas)
Fadas e moiras
Quimeras (relento)
Lume brando do caldeiro
Panela de ferro
Cozido com xíxaros e peras
Toucinho amanteigando o pão
O forno de São Bartolomeu, o barrocal, o arvoredo
A feira de Setembro com os pêros, suspiros e copinhos de medronho
A corredoira
A estila
O nógado, a casa do azeite e o lagar
Avô de chapéu, cajado, barbas como vi na Índia
O prazer de um figo na ialva e
Atravessar em Monchique, a floresta do Norte
Luz que desmamou, pais
Na volta à terra pelo São João
Fogueiras, mastros, murta e alecrim, ninhos
Aldeias de laranja
Ou o Senhor Morto matraqueando a noite
A noite noite, noite de capuzes
Noite balandrau
Noite de velas incenso, damasco roxo
Noite de salmoira
Grave
Com o rosmaninho atapetando o chão
E as mulheres gritando a agonia
A infinda morte naufragada.
Perfumes de mistura, farrôba e marmelo
Arrôbe
Adega com vinho
Açôrda com poêjo
Açafates de bilros
Meias de cinco agulhas, mantas de Serra
Água do Cabeço, barca, ameijoas
Conquina, as pinhas do mirante
Um escorpião de oiro
O sussurro onde tinem todas as estrelas e
Em grandes abóboras, cintilantes
Carroças da bela adormecida...
... ai o que nos resta de um país azul
Serão os velhos livros, suas capas lindas
Ou serão histórias da Senhora dos Mártires
Promessas pagas com trigo e azeite, cera e frangos
Oiro, a marca das fitinhas
A seda de todas as cores
A prôa de Sagres
O cavaleiro andante da eterna mocidade?
O mal se espanta
Descobre-se
Que não cansa
Sempre alcança, continua
Cantado
Trauteando
Pela rua do Estácio
Atravessas Tudo.
Francisco Manuel Palma Dias
Onde Amar Começa a Terra Acaba
Guimarães Editores, 1985
Ilena Luís Candeias Gonçalves
Escritores Portugueses do Algarve
Edições Colibri, Lisboa 2006
P.S.
A minha transcrição respeitou a escrita original.
sexta-feira, novembro 06, 2009
6 de Novembro de 1919 / 6 de Novembro de 2009
Sophia
Permiti-me este tratamento a sépia)
- ONDAS
Onde -ondas - mais belos cavalos
Do que estes ondas que vós sois?
Onde mais bela curva do pescoço
Onde mais bela crina sacudida
Ou impetuoso arfar no mar imenso
Onde tão ébrio amor em vasta praia?
Sophia de Mello Breyner Andresen
Musa
Caminho, Lisboa 2004
quarta-feira, novembro 04, 2009
Paredes com janelas por dentro delas
Há uma luz que o pigmento desta parede retém e que em particular me atrai e tranquiliza.
Há coisas inertes que nos chamam como se houvesse vida dentro delas.
Quase vislumbro ainda, nos traços que o desgaste do tempo desenhou, duas cabeças unidas num afago, num carinho, num beijo ou somente num segredo confiado e que não mais poderemos escutar.
Também as vês?
segunda-feira, novembro 02, 2009
O meu logótipo é melhor do que o teu
Se eu fosse o autor do logótipo das Autárquicas de 2009 acharia que o logótipo da candidatura das Federações de Futebol de Portugal e de Espanha, se bem que menos dinâmico do que o meu, estaria a plagiar o meu trabalho.
E era capaz de apostar que o da candidatura foi bastante mais caro, apesar do meu se aproximar mais da forma de uma bola de futebol. :))
quinta-feira, outubro 29, 2009
Chão
Ondjaki nasceu em Luanda e traz com ele o gosto de brincar com as palavras, misturando-as com outras que ele próprio cria, quase numa brincadeira de menino que fala de coisas bem adultas.
- Chão
apetece-me des-ser-me;
reatribuir-me a átomo.
cuspir castanhos grãos
mas gargantadentro;
isto seja: engolir-me para mim
poucochinho a cada vez.
um por mais um: areios.
assim esculpir-me a barro
e re-ser chão, muito chão.
apetece-me chãonhe-ser-me.
Ondjaki
Há prendisajens com o xão
Editorial Caminho, Lisboa 2009
segunda-feira, outubro 26, 2009
O gosto solitário do orvalho
Bati esta fotografia faz hoje precisamente um ano. Era domingo nesse dia. Um domingo idêntico ao de ontem: cidade deserta, silêncio, tarde outonal.
Inadvertidamente (mas quem sabe dos caminhos da memória?), cheguei a casa e o meu olhar como que procurou entre os livros, na estante, este que vos revelo, com poemas (haiku) de Matsuo Bashô, em versões de Jorge de Sousa Braga.
Não foram só os poemas e a nostalgia da tarde o que me tocou, foi esta cidade sem vida, morna, crepuscular, onde nenhuma actividade cultural tem lugar para preencher um domingo de lazer. E assim nos quedamos, lassos, a espreguiçar pequenos confortos, sem outra actividade mental que a de sermos assim... mamíferos.
Ah este caminho
que já ninguém percorre
a não ser o crepúsculo
Matsuo Bashô
O gosto solitário do orvalho
Antologia de Jorge de Sousa Braga
Assírio & Alvim, Lisboa 1986
quinta-feira, outubro 22, 2009
Ferlinghetti
Sai Allen Ginsberg com seu Uivo pelo fundo desta página e dá lugar a Lawrence Ferlinghetti, seu companheiro de letras e de sonhos na memorável City Lights de San Francisco.
- O Castelo de Kafka ergue-se sobre o Mundo
O Castelo de Kafka ergue-se sobre o mundo
como uma última bastilha
do Ministério da Existência
Os seus acessos cegos nos confundem
Caminhos íngremes
partem dele e mergulham em nenhures
Estradas perdem-se no ar
como labirintos fios de central
telefónica
através da qual todas as chamadas
se perdem no infinito
Lá em cima
faz um tempo celestial
As almas dançam despidas
em grupo
e como intrusos
na periferia de uma feira
espiamos o inatingível
mistério imaginado
Contudo na parte de trás do castelo
como na entrada dos artistas de uma tenda de circo
há uma fenda funda e larga nas muralhas
pela qual até os elefantes
podem entrar e dançar
Lawrence Ferlinghetti
A Coney Island of the Mind
Como eu costumava dizer
Publicações Dom Quixote, Lisboa 1972
terça-feira, outubro 20, 2009
TEATRO profissional na província
Graças ao CAPa (Centro de Artes Performativas do Algarve), estrutura de apoio à criação, formação e divulgação das Artes do Espectáculo, tenho conseguido aceder, sem ter que me deslocar à capital macrocéfala deste meu país, a espectáculos de características experimentais e de diversificadas formas de expressão artística.
A 9 de Outubro, na própria sede, em Faro, o Teatro da Garagem (devo ter assistido a todos os espectáculos que trouxe ao Algarve desde que o CAPa existe) veio comemorar aqui mesmo o seu 20º aniversário. Duas peças, separadas por um jantar comemorativo.
À sobriedade da cena, de paredes nuas, sobrepõe-se o som, com música original, e a criatividade da sonoplastia e do desenho de luzes e da operação de variados artefactos de palco, no apoio à evolução dos actores, servidos por um texto soberbo que nos ajuda a reflectir sobre a realidade portuguesa e o atavismo de certos actos e comportamentos, onde me reconheço, numa dimensão poética com que Carlos J. Pessoa, director artístico e encenador, sempre me surpreende e me envolve.
Lamento não ter uma foto ilustrativa, pois não a quis retirar sem autorização de cópia, mas é possível ver várias fotos do espectáculo clicando aqui.
Uma semana depois, a 16 de Outubro, em Loulé, no Convento de Santo António dos Capuchos, também pelas mãos do CAPa, assisti a um outro espectáculo:
No enquadramento da arquitectura do convento, nomeadamente dos seus claustros, no 3º acto, o Teatro da Terra (podeis aceder ao seu blogue clicando na foto, precisamente copiada a partir desse lugar), companhia residente em Ponte de Sôr, não nos trouxe uma reflexão sobre os atávicos comportamentos a que me referi acima, mas fez-nos reflectir sobre outros bem semelhantes, como os que Lorca dramatizou em A Casa de Bernarda Alba.
Enquadra-se bem na volumetria e arquitectura do Convento a representação das vidas destas mulheres andaluzas, numa sociedade fechada pelos costumes e tradição religiosa, numa relação odiosa entre irmãs e sua mãe, num mundo bafiento onde a vida é um inferno e o homem, ausente, distante, desconhecido, um diabo de atracção irresistível.
Para quem, como eu, que vivo em Silves, uma cidade de dimensão aproximada a Ponte de Sôr, ver assim uma companhia profissional residente e imaginar, pela actividade que se pode constatar através da leitura do blogue, a enorme potencialidade que isso poderia acarretar na vida cultural dos residentes, é um sonho que dificilmente verei cumprir-se e que parece estar cada vez mais longe.
sábado, outubro 17, 2009
Uma palavra te procura
António Ramos Rosa cumpre hoje 85 anos de vida.
- UMA PALAVRA TE PROCURA
Uma palavra te procura
ao nível desta existência suave
dura
uma palavra não para ostentação mas para seguir na estrada
no seu ágil correr de fogo
para te abrir o dia
para te fazer mais pequeno do que o buraco
para te dar um breve crepitar
de um insecto
a fuga precipitada ou o vagaroso pêlo
o imperceptível movimento
da água na vereda
a existência ínfima
de qualquer animal
ou folha
uma partícula de poeira
ou sulco
um estalido
uma palavra como uma chama um pouco mais clara do que o dia
só levemente mais clara do que a tua mão
e escura ou parda como a estrada
António Ramos Rosa
Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa,
de Eugénio de Andrade
Campo das Letras, Porto 2001
quarta-feira, outubro 14, 2009
O sofá do poder
Dada a proximidade ao acto eleitoral pode parecer que se trata de uma alegoria ao poder autárquico, mas a cidade (e o concelho) não estão assim com uma aparência tão ruinosa.
Mau grado as ruas do centro histórico ou a velha ponte medieval, abandonadas pelo POLIS, houve inaugurações com ministros e até com o Presidente da República.
Mau grado a ausência de perspectivas quanto à forma e processo de cativar o interesse empresarial para uma cidade sem indústria e de comércio moribundo, desestruturada economicamente, é o funcionalismo público que garante os poucos empregos e a autarquia o maior empregador da cidade e do concelho.
Mau grado a existência de equipamentos que mal funcionam ou estão mesmo fechados, como o antigo Matadouro e o Teatro Mascarenhas Gregório, e que mesmo a funcionar não supririam as carências de um centro de exposições e de um auditório, ou de um cinema, fechado há anos e anos, posso esforçar-me por compreender que a ausência de acções que visem ultrapassar esses estrangulamentos se deva a alguma desconfiança nas iniciativas da sociedade civil ou então ao manifesto alheamento pelas questões da cultura, já que é bem fraca a participação dos cidadãos nas acções culturais que a autarquia por vezes promove, desabituados de uma criteriosa e regular programação. Excepção seja feita à Biblioteca Municipal, com gestão e orçamento autónomos, numa actividade louvável dirigida a diversos públicos e faixas etárias e com actividades diversificadas.
Mau grado um associativismo em morte acelerada e a ausência de massa crítica culturalmente activa, a autarquia sabe substituir-se, de vez em quando, com festas, concertos, desfiles, competições desportivas, feiras e demais actividades, chegando mesmo, de 4 em 4 anos, a suscitar o interesse cívico da população pelo acto eleitoral, com cerca de 60% de participação.
E se o sofá, na foto, pretendesse representar a cadeira do poder, notem bem como tal não seria possível. Está cheio de pó. E ninguém duvida que há quem se sente nessa cadeira com frequência e há longo tempo.
segunda-feira, outubro 12, 2009
quinta-feira, outubro 08, 2009
Os nossos dias
Miguel Godinho, jovem poeta, é o autor do 5º volume da colecção de poesia da 4Águas Editora.
É dele este poema que vos trago:
Dêem-nos circos e paradas que nós
inventamos um novo mundo e sentimo-lo
da maneira que quereis
este é o fim das consciências
aguardamos novas ordens
já só funcionamos com instruções sapientes
dêem-nos as coordenadas
indiquem-nos um caminho
providenciem roteiros organizados e objectivos
as estradas enlameadas não serão obstáculos
seremos felizes no fim do horizonte
bem para lá de nós próprios
Miguel Godinho
Os nossos dias
4Águas Editora, Tavira 2009
terça-feira, outubro 06, 2009
Olvido
quinta-feira, outubro 01, 2009
UIVO
Foi com o seu UIVO, plangente, que Allen Ginsberg se projectou como um dos mais famosos poetas da geração beat, e se afirmou entre os destacados homens de letras ligados ao grupo da Livraria City Lights, em São Francisco da Califórnia.
Demasiado longo para se prestar a uma divulgação por este meio escolhi, do caderno cuja capa aqui se reproduz, um outro poema de sua autoria. Contudo, no link que inseri na palava "UIVO", acima, é possível aceder na íntegra àquele poema, se bem que numa tradução diversa da que possuo.
Espero que o uivo de Ginsberg nos incomode através deste poema feito denúncia e que possa contar connosco para que a estatística prossiga:
Estes são os nomes das companhias que ganharam
dinheiro com esta guerra
no Annodomini de mil novecentos e sessenta e oito
no ano hebraico de quatro mil e oitenta
Estas são as sociedades anónimas que lucraram
com a venda de fósforo para arder na
pele ou granadas fragmentadas em milha-
res de agulhas para perfurarem a carne
e aqui relacionados estão os milhões ganhos por
cada grupo na sua actividade industrial
e aqui estão os ganhos numerados, num índice que
alastrou por uma década, arrumados por
ordem
aqui nomeados estão os Pais tutelares dessas indús-
trias, que pelo telefone dirigem as suas
finanças
os nomes dos administradores, fazedores de desti-
nos, e os nomes dos accionistas destes
predestinados Conglomerados,
e aqui estão os nomes dos seus embaixadores no
Capital, dos seus representantes no se-
nado, daqueles que se reúnem nos bares
dos hotéis para beber e convencer,
e, numa lista separada, os nomes daqueles que
lançam anfetaminas com a intriga militar,
e convencem
sugerindo a política a seguir, escolhendo a lingua-
gem, propondo a estratégia, tudo isto feito
mediante emolumentos como embaixado-
res junto do Pentágono, como consultores
dos militares, pagos pela sua indústria:
e estes são os nomes dos militares, generais e ca-
pitães, que trabalham actualmente para
os fabricantes de material de guerra;
e por cima destes, por ordem, os nomes dos bancos,
grupos e fundos de investimentos que con-
trolam estas indústrias;
e estes são os nomes dos jornais que pertencem a
estes bancos
e estes são os nomes das estações de rádio que
pertencem a estes grupos;
e estes são os números dos milhares de cidadãos
empregados por estas companhias;
e o começo desta contagem teve lugar em 1958
e o seu fim em 1968, devendo esta esta-
tística ser prosseguida de juizo perfeito,
coerente & definitivo;
e a primeira versão desta litania, principiada no
primeiro dia de Dezembro de 1967, inte-
gra-se no poema que estou dedicando a,
estes Estados.
Allen Ginsberg
UIVO
Publicações Dom Quixote, Lisboa 1973
terça-feira, setembro 29, 2009
É d'ouro...
segunda-feira, setembro 28, 2009
quinta-feira, setembro 24, 2009
Claro que não resisti...
segunda-feira, setembro 21, 2009
Passeio de férias - Viana
Viana do Castelo foi das cidades que mais mudou, de entre estas localidades do Minho que agora voltei a visitar passada uma década.
Modernizou-se, sabendo manter as suas características mais peculiares.
Abriu-se ao rio...
...e junto à sua margem ergueu novos equipamentos sociais e culturais, como a Bilioteca...
...e aprazíveis zonas de lazer...
...e fruição estética.
O centro também foi alvo de renovação urbana e os comerciantes parece terem correspondido com lojas de boa aparência, restaurantes, cafés e pastelarias, hotéis e equipamentos turísticos.
É um prazer ver renovar, abrir-se às potencialidades do lugar e da região e saber respeitar o passado.
Mais fotos de Viana do Castelo em álbum na Webshots (basta clicar).
quarta-feira, setembro 16, 2009
Passeio de férias - Cerveira
Já faz tempo passei em Vila Nova de Cerveira cerca de 15 dias. Regressei para a reconhecer, com um novo olhar que o tempo me ensinou.
É notável como, nas poucas centenas de metros do percurso pelo centro histórico, se consegue de forma tão equilibrada viajar no tempo através dos testemunhos do património arquitectónico.
Que tal?!
Não percam o meu álbum sobre Cerveira, com estas e outras fotos, na Webshots (basta clicar).
segunda-feira, setembro 14, 2009
Passeio de férias - Braga
A minha passagem por Braga foi muito breve.
Queria rever um pouco a imagem que retinha da cidade:
- a de miúdo, feita de um certo encantamento e de imagens que me ficaram, como a de um final de linha de eléctrico, junto à quinta de uma madrinha de minha mãe e ainda de brincadeiras nessa mesma quinta, que a memória mantém vivas de cada vez que vejo fotografias dessa época:
- de adolescente, as arcadas da baixa citadina...
...e um episódio picaresco protagonizado pelo meu irmão José, mais novito que eu, que se perdeu de meus pais por entre a multidão que assistia a uma passagem da Volta a Portugal em Bicicleta. Encontrámo-lo aos pontapés nas canelas de um polícia que o retinha pela mão enquanto procurava os pais da criança lutadora. :))
- pelos meus 20 e poucos anos, a ideia de uma cidade com uma linguagem estética de grandiloquência que lhe assentava mal.
Comprovei essa minha visão novamente, se bem que restrita ao centro histórico: a de uma cidade que transpira provincianismo e se dá ares de majestade, mesmo quando se abre em amplas avenidas ajardinadas.
Ah! Mas respiro autenticidade neste largo do Paço Episcopal...
...e se a fachada da velha Sé, apresenta o tal aspecto de que não gosto, muito característico do gosto dessa época de reconstrução, já esta entrada lateral é um fascínio para os meus olhos.
Terei que regressar com mais tempo.
Mas vejam o álbum fotográfico que deixei na Webshots (basta clicar)
quinta-feira, setembro 10, 2009
Passeio de férias - Ponte de Lima
A algumas centenas de quilómetros de León volto a encontrar-me com a figura histórica de Teresa de Leão, filha de Afonso VI, pois foi ela quem concedeu, conjuntamente com seu filho, Afonso Henriques, o foral à vila de Ponte de Lima. Esta vila de que vos falo pode pois ser considerada das primeiras vilas portuguesas.
De Lima, porque banhada pelo rio donde lhe vem o nome; Ponte, pela presença da sua ponte romana, de que restam alguns arcos, no final da ponte medieval que se avista na foto abaixo.
A senhora que aí se apresenta, indubitavelmente minhota e de respeitável idade, não poderá ser Teresa de Leão, condessa de Portugal, mas é bem representativa desta vila, que ainda preserva com algum rigor a aparência tão medieva dos seus troços de muralha, ...
...do mesmo robusto granito que se revela nestas construções que nos fazem lembrar tempos de antanho.
Do meu passeio pela localidade guardei registo fotográfico a que é possível aceder clicando neste link para a Webshots (basta clicar).
Encerro o post com duas fotos de nota gastronómica:
A primeira, no momento da sopa, em Ponte de Lima, a segunda com o que resta de um cabrito avinhado (verde tinto), em Paredes de Coura.