Já por várias vezes nos cruzámos, em locais onde um apelo semelhante nos juntou ou por via de amigos que nos são comuns. A poesia de Rui Dias Simão é feita dos desmaiados contornos dos sonhos, onde tudo se cruza no desalinho das nossas inquietações, onde é preciso recordar para questionar, rememorar para entender, contar para exorcizar.
Na irreversível clarabóia dos teus passos
uma passagem de rugas
uma leve língua de fogo desmaiada
pelo diuturno vento do mar de fora...
Levanta-te, levanta-te mais e penetra o céu
não vaciles para as alforrecas sombreadas
pelo curtume da melania das noites
A água a espuma imensa da água
tudo tinge
tinge o corpo e a alma
a alma ainda moribunda da vida embaciada
Não pernoites a imedicável paranóia
do remoinho da rotina suja
sossega a viagem
é quase meio-dia dentro de ti
A lua: a lua logo se vê
Rui Dias Simão
Os animais da cabeça
4 Águas Editora, Tavira 2008
2 comentários:
Gostei e sobretudo do verso final!
Também gostei muito do verso final, sim. :))
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