segunda-feira, outubro 24, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLIX)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga provém da safra de Mário Soares.


  • O GRANDE ZIGUEZAGUE
"Classe ao ataque". Outubro. Dezassete.
"Os sovietes mais a luz eléctrica".
A própria poesia é um soviete.
Quem busca de Virgílio a antiga métrica?

"A História não se faz em linha recta".
Foi o século do grande ziguezague.
"A barca do amor quebrou-se" - disse o poeta.
São ásperas as letras do Gulag.

Desagrega-se a rosa e a gramática
os sovietes já não dão sinais
perde-se a alma em selva burocrática.

Conspiradores do impossível: onde estais?
Dai-me de novo a rosa iniciática.
O sonho que passou não volta mais.


Manuel Alegre
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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1 comentário:

hfm disse...

Cumprindo um gosto e sobretudo o melhor despertar para estas segundas feiras. Um abraço.