segunda-feira, outubro 03, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLVI)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga provém da safra de Mário Soares.


  • OUTRA COISA
Apresentar-te aos deuses e deixar-te
entre sombra de pedra e golpe de asa
exaltar-te       perder-te       desconfiar-te
seguir-te de helicóptero até casa

dizer-te que te amo amo amo
que por ti passo raias e fronteiras
que não ne chamo mário que me chamo
uma coisa que tens nas algibeiras


lançar a bomba onde vens no retrato
de dez anos de anjinho nacional
e nove de colégio        terceiro acto

pôr-te na posição sexual
tirar-te todo o bem e todo o mal
esquecer-me de ti como do gato

Mário Cesariny
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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