É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.
A primeira vaga proveio da safra de Mário Soares, a que se seguiram Miguel Veiga, Diogo Freitas do Amaral e Urbano Tavares Rodrigues.
Irei terminar com Marcelo Rebelo de Sousa.
- CASA A MEIO
Tiro lume das gavetas. É o primeiro dia
de outono. E os anos que estão no fundo.
Antes não era eu. Era a casa em construção.
Eu antes de mim. Agora desmantelo o verão,
os vestidos que voam, os pés nus ao lado do vestido.
O tempo perde-se na mudança de estações
e nesta perda alguém existe em mim.
Uma voz ri-se no fundo do armário.
O sol tão baixo, na última gaveta.
Rosa Alice Branco
Os poemas da minha vida
Marcelo Rebelo de Sousa
Público, Lisboa 2005
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