quarta-feira, janeiro 26, 2005

Líricos algarvios (IX)

Antes que ele venha a ser referido por outro Baeta, que não eu, permitam-me que vos recorde António Aleixo:



      • A rica tem nome fino,
        A pobre tem nome grosso;
        A rica teve um menino,
        A pobre pariu um moço!

Continuo então com mais uma colaboração do prestimoso FCR, desta feita com Clementino Baeta:
          • Ficas tu em meu lugar

            O Aleixo, por saber
            Que eu sabia improvisar,
            Talvez pra me envaidecer,
            Disse-me um dia a cantar:
            Baeta, quando eu morrer,
            Ficas tu em meu lugar.

            Respondi com sofrimento:
            - Aleixo, muito obrigado.
            Mas, por ver que o teu talento
            É tão mal recompensado,
            Farei pra que meu sustento
            Nunca dependa do fado.

            Sabes bem que valorizo
            A poesia popular.
            E sabes também que preciso
            De te ouvir pra me inspirar,
            Mas que a cantar de improviso
            Jamais te posso igualar.

            Tristonho me respondeu:
            - Baeta, tu tens razão,
            Não queiras ser como eu,
            Que vivo do que me dão
            E ainda ninguém me deu
            A justa compensação.

            A sua vida foi drama
            Demasiado absorto:
            Quando caiu numa cama,
            Não recebeu o conforto
            Daqueles que lhe dão fama
            Agora depois de morto.

(in "Sonhos de Emigrante")


2 comentários:

Anónimo disse...

Se não estou em erro, a quadra 'A rica tem nome fino....' é glosada por António Aleixo e também por Clementino Baeta, mas a paternidade é de um 'poeta de Beja', como António Aleixo reconhece. fcr.

Anónimo disse...

Estou a gostar destes líricos algarvios. É sempre bom reler António Aleixo.

Um abraço

Helena