terça-feira, maio 12, 2009

In memoriam...

Não dei por que Egito Gonçalves tivesse falecido e havia longo tempo que nada lia dele.
Confrontei-me hoje com essa ausência ao pegar num velho livro com um seu autógrafo. Fixei-me neste grito contra a insensibilidade, a mediocridade e a massificação. Foi assim que senti o poema que ele escreveu num outro tempo que não este, mas onde, ainda hoje, o seu grito se reflecte no meu.


  • Querem que dobre a esquina
    e me insinue
    no deserto das praias.

    Querem que feche os olhos
    e me dilua
    num rio de magma.

    Querem que corte a orelha
    por onde ouvia
    a voz da terra.

    Querem que descarne
    a ternura dos dedos
    até ao esqueleto.

    Querem que mergulhe
    em álcool este feto
    aparente nado-morto.

    Mas respiro, respiro
    e construo um pulmão
    a que possa dar asas.

Egito Gonçalves
O Fósforo na Palha
Publicações Dom Quixote, Lisboa 1970

1 comentário:

oasis dossonhos disse...

Amigo
Bem Hajas por evocares Egito, que com Papiniano Carlos era uma referência - além do próprio Eugénio - dos poetas que no Norte fizeram um caminho mágico que iluminou o meu imaginário.
Grandabraço
Luís