segunda-feira, novembro 29, 2010

Um poema a cada segunda-feira (II)



Terminada que foi a divulgação dos Postais com poemas, publicados por ocasião da IV Bienal de Poesia de Silves, decidi iniciar à segunda-feira uma nova rubrica de poesia, a que este post de hoje dá sequência, enquanto assim se mantiver este meu ânimo.


Irei aqui colocando poemas que o critério do momento vier a ditar.



  • MINHA SENHORA DE MIM

    Comigo me desavim
    minha senhora
    de mim

    sem ser dor ou ser cansaço
    nem o corpo que disfarço

    Comigo me desavim
    minha senhora
    de mim

    nunca dizendo comigo
    o amigo nos meus braços

    Comigo me desavim
    minha senhora
    de mim

    recusando o que é desfeito
    no interior do meu peito
Maria Teresa Horta
Minha Senhora de mim
Cadernos de Poesia
Publicações Dom Quixote, Lisboa 1971

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sábado, novembro 27, 2010

Dia Europeu da Ópera, em Pamplona



Um amigo, precisamente aquele a quem me refiro no post abaixo , passou-me o endereço deste vídeo no youtube e eu não pude resistir à atmosfera deste café, à surpresa do canto no rosto das pessoas e à iniciativa deste grupo de cantores.

Também não consegui resistir à partilha.

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sexta-feira, novembro 26, 2010

À laia de comemoração de aniversário


Torquato da Luz cumpre hoje mais um ano de vida. Parabéns!










  • Ausência
Ainda existe a casa, ainda está
de pé o velho muro do quintal,
ainda nas janelas, bem ou mal,
pendem cortinas como já não há.

Ainda não levaram o sofá
vermelho que, na sala, era o local
das tuas tardes a ler o jornal,
num fundo de veludo e tafetá.

Ainda nos extensos corredores
e na sombra dos quartos interiores
persiste o cheiro a fruta e alecrim.

Só faltas tu. Ou seja, falta tudo,
porque fora de ti não há mais mundo
e eu mesmo me vejo ausente de mim.

Torquato da Luz
Espelho Íntimo
o cão que lê, Braga 2010

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quinta-feira, novembro 25, 2010

"Arqueologia virtual" reconstitui a baixa de Lisboa pré-terramoto


Chamo em primeiro lugar a atenção para este artigo, publicado no ionline (clique), que nos dá conta de um projeto que reúne o Centro de História da Arte e Investigação Artística (CHAIA), da Universidade de Évora, a empresa Beta Technologies e o King’s Visualisation Lab – King’s College London, no intuito de recriar, no ambiente virtual da Second Life/Open Sim, a baixa lisboeta no séc. XVIII, precisamente no período que antecede o Grande Terramoto de 1755.

 
City and Spectacle: A Vision of Pre-Earthquake Lisbon from Lisbon Pre 1755 Earthquake on Vimeo.
 

O vídeo não mostra, contudo, apesar da apresentação tridimensional, a capacidade "imersiva" desta tecnologia, a permitir que um nosso avatar possa entrar no interior dos edifícios e admirar a decoração, o mobiliário, os objetos, conforme o que a investigação vier a revelar.

Trata-se de um novo e mais completo olhar sobre o passado.

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terça-feira, novembro 23, 2010

Não toques nos objetos imediatos







Pelo aniversário de Herberto Helder



  



  • Não toques nos objectos imediatos

    Não toques nos objectos imediatos.
    A harmonia queima.
    Por mais leve que seja um bule ou uma chávena,
    são loucos todos os objectos.
    Uma jarra com um crisântemo transparente
    tem um tremor oculto.
    É terrível no escuro.
    Mesmo o seu nome, só a medo o podes dizer.
    A boca fica em chaga.
Herberto Helder
Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa,
de Eugénio de Andrade
Campo das Letras, Porto 1999

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segunda-feira, novembro 22, 2010

Um poema a cada segunda-feira (I)




Terminada que está a divulgação dos Postais com poemas, publicados por ocasião da IV Bienal de Poesia de Silves, decidi manter à segunda-feira uma rubrica de poesia, enquanto assim se mantiver este meu ânimo.


Irei aqui colocando poemas que o critério do momento vier a ditar.


Abro com uma poetisa que foi participante ativa num movimento poético com origem em Faro e que marcou de forma indelével a poesia portuguesa da nossa contemporaneidade. Falo do movimento Poesia 61.

  • RITUAL
    a jarra tombou
    a água correu sobre a mesa

    as flores calaram-se aos poucos
    o espantalho tocou o acordeão

    a criança cansou-se do vento
    desatou as sandálias

    o mar meditou duas vezes
    qual o horizonte

    do sótão a galinha presa
    viu um avião voar

    uns quantos vestiram-se de negro
    viveram da morte dos outros

    suicidou-se uma sombra
    debaixo do meu pé

    A mulher calçou-se de branco
    para a ressurreição

    o país desbotou
    no mapa das escolas

    amor que esperas de mim
    a não ser eu
Luiza Neto Jorge
poesia
Assírio & Alvim, Lisboa 2001

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quarta-feira, novembro 17, 2010

Sarau Instável na Biblioteca




Sarau Instável
 Música de Cama


Os múltiplos e (in)sondáveis prazeres, tentações, encantamentos, efabulações, “desvarios” e provocações da literatura erótica…


Com convidados muito especiais: na dança do ventre, música e performance ao vivo…


Lá estarei, na Biblioteca Municipal, amanhã, dia 18, a partir das 21h00.

Informações mais detalhadas aqui (clique).

segunda-feira, novembro 15, 2010

Postais com poemas (XXIX)


A IV Bienal de Poesia de Silves editou uma coleção de postais, divulgando poemas de cada um dos convidados.

Aqui os trouxe, paulatinamente, a cada segunda-feira.

Este é o último.

IV Bienal de Poesia de Silves, postais

  • Trazia os olhos bêbedos de mar
    e nos cabelos, que o vento alongava,
    luziam raios de sol e de luar,
    que qualquer deus estranho combinava. (...)

quarta-feira, novembro 10, 2010

Arcos donde se avistam arcos



Na ausência de tema ou falta de inspiração fica esta foto recentemente batida em Granada, numa visita à Alhambra.

segunda-feira, novembro 08, 2010

Postais com poemas (XXVIII)


A IV Bienal de Poesia de Silves editou uma coleção de postais, divulgando poemas de cada um dos convidados.

Aqui os trago, paulatinamente, a cada segunda-feira.

Este é o penúltimo.

IV Bienal de Poesia de Silves, postais

  • À cautela
    imitar os girassóis em cada vela

    dar moinhos à farinha
    e um nome à estória (...)

sábado, novembro 06, 2010

A pequena praça, de Sophia












(Imagem do blog Banco da Poesia, com a devida vénia)


SOPHIA cumpriria hoje 91 anos.
Quero recordá-la neste seu poema:

  • A Pequena Praça

    A minha vida tinha tomado a forma da pequena praça
    Naquele outono em que a tua morte se organizava meticulosamente
    Eu agarrava-me à praça porque tu amavas
    A humanidade humilde e nostálgica das pequenas lojas
    Onde os caixeiros dobram e desdobram fitas e fazendas
    Eu procurava tornar-me tu porque tu ias morrer
    E a vida toda deixava ali de ser a minha
    Eu procurava sorrir como tu sorrias
    Ao vendedor de jornais ao vendedor de tabaco
    E à mulher sem pernas que vendia violetas
    Eu pedia à mulher sem pernas que rezasse por ti
    Eu acendia velas em todos os altares
    Das igrejas que ficavam no canto desta praça
    Pois mal abri os olhos e li foi para ler
    A vocação do eterno escrita no teu rosto
    Eu convocava as ruas os lugares as gentes
    Que foram as testemunhas do teu rosto
    Para que eles te chamassem para que eles desfizessem
    O tecido que a morte entrelaçava em ti




Sophia de Mello Breyner Andresen
Dual, 1972
Poemas Portugueses - Antologia da Poesia Portuguesa do Séc, XIII ao Séc. XXI
Porto Editora, 2009

quinta-feira, novembro 04, 2010

Na Mesquita de Córdova



No regresso da minha viagem a Granada, também me fiz passear por Córdova.

Apesar dos quase cinco séculos que separam a construção da Mesquita da época final da construção da Alhambra, aqui em Córdova o despojamento arquitetónico, a horizontalidade da construção, o rigor, até mesmo a finalidade, virada para o silêncio, para a meditação, provocam uma sensação completamente diferente da que descrevi a propósito da Alhambra de Granada.

Recordo a primeira vez que visitei a Mesquita, já lá vão mais de 30 anos, e a forte reação emocional que me provocou a entrada no edifício. Verti copiosamente lágrimas que não conseguia controlar. Curiosamente, sucedeu-me a mesma coisa quando pela primeira vez avistei a Catedral de Santiago de Compostela.
Permitam-me que confesse que em Granada e na Alhambra me fico sempre por um mero "beicinho" e não quero com esta afirmação estabelecer qualquer comparação que de alguma forma ponha em causa o profundo apreço que tenho por qualquer uma destas obras monumentais, incontestáveis peças do melhor do Património Histórico da Humanidade.

Recordo também ter uma atitude condenatória face à transformação da Mesquita em Catedral, mas hoje em dia, e habituado que estou à destruição dos templos de outras religiões para implantar a nova, dos novos senhores, acho que Carlos V, apesar de ter querido afirmar o seu estatuto de Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, revelou algum respeito perante o templo muçulmano, incorporando mesmo, na estrutura vertical da nova Catedral, além da Mesquita muçulmana, elementos decorativos que evocam a presença da Mesquita, paredes-meias.
Podeis confirmar isso mesmo em algumas das fotos que aqui (clique) deixo.

quarta-feira, novembro 03, 2010

La ALHAMBRA






La Alhambra é uma janela aberta sobre uma civilização que não existe mais, feita de fantasia e de poder.

É um deslumbramento para os olhos de cada vez que aqui regresso, uma sensação permanente e doce, uma vontade enorme de guardar e trazer comigo, para depois partilhar, os lugares, as sombras, a delícia dos jardins, o exacerbamento da arte de trabalhar a pedra, o envolvimento no jogo geométrico dos desenhos dos estuques e  dos azulejos, dos madeiramentos, do chão, das paredes, das portas e janelas.

Mas eu trouxe imagens, sim, que podeis buscar aqui.

Retratam, infelizmente como sei e posso, o passeio pela zona da Catedral e da Alhambra.

segunda-feira, novembro 01, 2010

Postais com poemas (XXVII)


A IV Bienal de Poesia de Silves editou uma coleção de postais, divulgando poemas de cada um dos convidados.

Aqui os trago, paulatinamente, a cada segunda-feira.

Este é o antepenúltimo.

IV Bienal de Poesia de Silves, postais
  • ela escrevia cartas de amor e algumas tinham
    o movimento da luz e das datas inteiras. entre elas
    as mãos abertas e o antónimo delas mesmas, às vezes
    sobre a mesa até pareciam verdadeiras. pensara muito nisto
    e no lume quente do inverno a assinar o ponto
    mais seguro na casa. ... (...)