quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Silves e as suas pontes de madeira





(Desconheço o autor da foto)

Quando da construção da Barragem do Arade, nos anos 50 do século passado, a Ponte Velha (erradamente conhecida por Ponte Romana), foi gravemente afetada pelo trânsito de pesados camiões - os Euclides.

Foi então construída uma ponte de madeira entre a margem esquerda do Arade e a sua margem direita, junto ao Moinho da Porta.

(O Moinho da Porta já não existe, embora se identifique na fotografia acima; precisamente o edifício que se avista no centro da fotografia, com uma fachada de seis janelas)

No lugar desse tal Moinho da Porta há agora um pequeno parque de estacionamento para automóveis, que antecede o pequeno lago com as estátuas e a Praça de Al-Mu'tamid.

O trânsito seguia então pela rua da Cruz de Portugal, que se iniciava precisamente no arranque do edifício que hoje serve as "Águas do Algarve".

Essa ponte de madeira, construída com caráter provisório, acabou por revelar sérias debilidades e, no primeiro inverno após a sua construção, foi arrastada pelas cheias do rio Arade.

As cheias eram, nesse tempo anterior à construção da Barragem do Arade, muito frequentes no Inverno, transbordando do leito do rio .

Todas as casas da baixa silvense usavam colocar comportas de madeira, vedadas com barro, para evitar a inundação das casas.

Ao tempo, ainda não tinha sido construída a avenida junto ao rio e todo esse espaço à esquerda e à direita da ponte era ocupado por edifícios de um ou dois pisos, até junto da Praça do Peixe, que se situava frente ao edifício onde atualmente existe o bar " O Cais".

Destruída a Ponte de Madeira, não havia possibilidade de circulação entre as duas margens do rio e, prontamente, se procedeu à construção de uma nova ponte, também em madeira, mas com maior robustez.

Vieram as cheias e essa tal mais "robusta" ponte ficou torcida a meio, como se constata na fotografia que encima este texto.

Reforçou-se de novo a construção, assente em dois pilares de alvenaria, que ainda se avistam sob a água do rio, no enquadramento da antiga rua do Moinho da Porta.

Esta nova ponte durou até à construção da que hoje se chama a Ponte Nova, construída nos inícios dos anos 60, em obra que integrou a construção da atual avenida junto ao rio e consequente derrube de todos os edifícios que existiam junto à sua margem direita.

Silves possuiu, além da Ponte Velha e da Ponte Nova, outras duas pontes em madeira; a última delas reforçada anualmente, até à construção da nova ponte.


segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Nevão de 2 de Fevereiro de 1954





(Desconheço o autor da fotografia)

Acabara de completar os meus 10 anos de idade quando, por um final de tarde do dia 2 de Fevereiro de 1954, em Alcantarilha, a uma das janelas do que ao tempo era a Junta de Freguesia (creio que ainda é no mesmo local), recordo com nitidez ter achado alguma estranheza às manchas brancas que se sucediam no topo do chapéu de chuva de uma senhora que passava na rua.

Assim como numa epifania, num deslumbramento, gritei para dentro:

          - Está a cair neve!

Todos vieram à janela, desde o meu pai e outros adultos, até aos meus irmão e outros amigos com quem brincávamos.

Saltámos para a rua sob a  ameaça do meu pai, esclarecendo vivamente que era para ir para casa e não para ficar na rua.

Não recordo o que entretanto se passou, mas tenho a ideia muito precisa de me ver a mim próprio, nariz colado à janela da cozinha, a ver a neve cair e a cobrir de branco tudo o que vista alcançava.

Deveria fazer frio, mas não tenho essa ideia.

Na manhã seguinte devemos ter acordado cedo e, seguramente bem agasalhados. Recordo os bonecos de neve, feitos pelos mais velhos, mesmo em frente à igreja matriz.

Não sei bem se nesse mesmo dia ou no dia seguinte, viajámos até Silves a visitar as minhas tias. A minha mãe deveria estar preocupada.

- Oh! As ruas ainda repletas de neve.

E aqui sob o arco do Torreão da Almedina, era ver a malta de Silves a escorregar na neve pela rua da Sé abaixo.

Voltamos, eu e o meu irmão Zé, a casa das tias (as tias viviam onde hoje fica o Art'aska) para ir buscar umas tábuas do tipo das que os miúdos estavam a usar para escorregar ladeira abaixo.

Trouxemos umas tábuas finas, como as que antigamente serviam para embalar os fardos de bacalhau e em breve ali estávamos a escorregar com a outra malta que ali se aglomerava.

Episódio inesquecível, este que agora vos conto.

Quem me dera ver a neve de novo hoje, 2 de Fevereiro, e garanto-vos que iria escorregar se arranjasse uma tábuas.

Também seria bem capaz de chorar de saudade.


sábado, janeiro 31, 2015

Melhores dias virão





Tenho períodos em que escrevo regularmente, quase todos os dias, e outros em que paro, mais ou menos por longos períodos, sem nada escrever.

A leitura, pelo contrário, é uma tarefa regular. Leio praticamente todos os dias.

Será que, de alguma forma, necessito de armazenar conteúdos, a que mais tarde recorrerei na escrita?

Duvido que isso se passe assim tão mecanicamente, se bem que considere que sem leitura não haja produção de escrita.

Estes primeiros parágrafos propunham-se como um prévio aquecimento, após prolongado período de silêncio, mas parece-me que a ideia não está a resultar.

Fico-me por estas considerações.

Não quero adiar o meu regresso ao blogue.

Melhores dias virão!