quinta-feira, junho 29, 2006

Um passeio por Silves

Prometo não insistir mais com estes "vídeos" de trazer por casa, mas foi compulsiva a minha vontade de mostrar este Passeio por Silves. (opte pelo menor tamanho, para melhor definição, e não esqueça de ligar o som).
Que tal?!

terça-feira, junho 27, 2006

As surpresas da tecnologia

Criando o contexto para a compreensão da intenção deste post, permitam-me que recorde um dos meus escritos, de Maio deste ano, na sequência de uma estadia em Londres. Intitulava-se Uma ilha de silêncio e nele falava daquele lugar, o Temple, que encontrei no "meio do bulício da grande cidade".

Entretanto soube da existência de um software do Windows, mais precisamente o Photo Story, já na sua 3ª edição (que se pode carregar gratuitamente a partir do site da referida empresa, clicando na imagem acima) e que permite transformar as nossas fotografias num "autêntico" vídeo.
Queira confirmar clicando em The Temple. (opte pelo menor tamanho, para melhor definição, e não esqueça de ligar o som).

E que tal?!

quinta-feira, junho 22, 2006

Relembrando os eventos de 22 de Junho de 1924

Silves, anos 30, © Henrique Martins
Silves, anos 30

Corria o já distante ano de 1924. Em luta pela melhoria das suas condições de vida, a greve dos corticeiros prolongava-se no tempo. Sem salário, começa a estar em causa a satisfação das necessidades básicas. A fome atinge as famílias operárias e a solidariedade social organiza-se espontaneamente tentando suprir as necessidades alimentares, protegendo em especial as crianças e a sua saúde. Por todo o Algarve, do Sotavento ao Barlavento, há quem se proponha receber os filhos dos corticeiros de Silves. Centenas de crianças são deslocadas e acolhidas junto de famílias solidárias, de Vila Real de Santo António a Lagos.
Terminada a greve organizou-se o regresso das crianças e fixou-se a sua recepção num domingo, 15 dias depois de retomada a normalidade.
Por volta das oito da manhã, aguardando a chegada do comboio proveniente de Lagos, no largo da estação dos caminhos de ferro que serve Silves, a cerca de dois quilómetros da cidade, as famílias e alguns amigos aguardavam a chegada das crianças. O comboio da zona do Sotavento, onde se acolhera a maioria das crianças, só chegaria lá para o meio-dia. Resolveram descer à cidade.
Ao longo do percurso, mais gente se foi juntando. À entrada na cidade já o grupo se apresentava como um cortejo alegre e barulhento, com vivas e cantos que expressavam a alegria do reencontro das famílias e que inundavam de emoção todos os que vinham às janelas para ver o que se passava e os outros que se animavam a participar na recepção.

José dos Reis Sequeira, operário corticeiro e militante anarco-sindicalista, que viveu o acontecimento, no seu livro Relembrando e Comentando, numa edição de "A Regra do Jogo", 1978, descreve assim os acontecimentos que se seguiram:


  • " Os industriais e mais senhores ricos da terra não gostaram do acontecido. Sentiram-se comprometidos por terem dado ocasião a que isto viesse a dar-se. E calcularam que à chegada do outro comboio seria pior, já porque a hora era outra e também porque o número de crianças a chegar do lado do Sotavento era muito maior. Temendo isso decidiram pedir às autoridades para impedir o cortejo. Isto é o que se supõe.
    De todas as zonas da cidade se encaminhava gente para a estação de caminho de ferro. O comboio era um pouco depois do meio-dia mas chegou um pouco atrasado.
    Eu, de manhã, não tinha participado no cortejo mas agora iam chegar as minhas irmãs, não podia faltar. O largo fronteiriço à estação transbordava de gente. A recepção não é possível descrever: risos, choros de alegria, chamamentos, gritaria descontrolada e vivas de entusiasmo, tudo num ruído amalgamado e ensurdecedor.
    Depois da partida do comboio começou a marcha a caminho da cidade.
    A estrada depois de descrever uma curva corta um cerro pelo meio da encosta, em sentido longitudinal. Pela nossa direita o cerro sobe até ao cume. Pela esquerda, um muro de pouco mais de 50 cm de alto, defende a estrada da vertente, bastante declivosa, que desce até às hortas e ao rio.
    O cortejo era maciço. Em Silves, eu, nunca vi tanta gente junta. A primeira parte do percurso fez-se numa animação incontida e transbordante; mas quando a cabeça do cortejo dobrou a curva, começou-se a divisar o aparato bélico das forças da guarda republicana, distribuídas estrategicamente: infantaria à direita, na parte superior da encosta de armas aperradas, em linha de atiradores; ao fundo a cavalaria barrava a passagem na estrada. Restava-nos a vertente da esquerda, o desfiladeiro defendido pelo muro, mas possível de saltar por ser baixo.
    A notícia correu célere até à cauda. Um aviso circulou: «mulheres e crianças para a frente!» Isto, na ideia que os mercenários teriam um pouco de respeito pelos inocentes. Terrível ilusão!
    A movimentação fez-se mesmo em marcha. E um silêncio temeroso e de expectativa tomou o lugar da alegria esfusiante de até então. A marcha continuou. Nisto, o comandante da força desceu à estrada e ordenou dispersão imediata. Alguém na frente objectou que não havia outro caminho e que se passaria calado. A marcha continuou, convencidos que calados, não prejudicariam ninguém. Mas o tenente sobe para junto da força e ordena fogo. A primeira descarga foi cerrada e a fuzilaria continuou um pouco desencontradamente. Ao mesmo tempo avança a cavalaria em carga brutal sem respeito pelas mulheres e crianças.
    Faltam-me recursos para poder descrever o pânico causado por esta inqualificável patifaria. Foi simplesmente horrível. Os que não foram atingidos pelas balas, pelas patas dos cavalos, ou pelas espadeiradas, rolavam pela vertente da esquerda depois de saltar o muro. A confusão era enorme; gritos de dor e aflição; crianças que choravam aleijadas e perdidas da família. Os que não caíram debaixo das patas dos cavalos, caíram desequilibrados na íngreme encosta e raras foram as pessoas que não se feriram duma ou doutra maneira.
    Das balas houve um morto e diversos feridos de mais ou menos gravidade que foram hospitalizados."

José dos Reis Sequeira continua a descrever "o alvoroço e o espanto" que dominou a cidade. No dia seguinte, com o funeral da vítima marcado para muito cedo, a população assistiu de novo à barragem da guarda, impondo que o funeral se realizasse sem acompanhamento. Descreve ainda os protestos que se seguiram, as prisões que se sucederam, a saída dos presos sob fiança, a aguardar julgamento e finalmente a audiência em tribunal, com a defesa do advogado Campos Lima, do Conselho Jurídico da Confederação Geral do Trabalho (CGT), e a absolvição dos que a GNR tinha aprisionado.

quarta-feira, junho 21, 2006

O post de amanhã

A 22 de Junho de 1924, em Silves, em plena República, muitas pessoas manifestavam o seu regozijo pelo regresso das crianças que tinham sido acolhidas, por todo o Algarve, na sequência de uma greve prolongada dos operários corticeiros.
As forças de segurança carregaram e dispararam sobre a manifestação, matando uma pessoa e ferindo várias.
Este acontecimento radicalizou várias gerações de silvenses e mantém-se vivo na memória dos mais velhos.
É o relato de uma testemunha ocular que vos trago amanhã, passsados 82 anos.

terça-feira, junho 20, 2006

Não há só jacarandás em flor

Parece ser sina minha!
De cada vez que falo da beleza da minha terra surge alguma coisa que me desagrada. A "culpa" hoje é do vereador independente da CDU.

Ora nós, humildes cidadãos, convocados a pronunciar-nos pelas eleições e habituados ao longo de todos estes anos a ver passar vereações atrás de vereações sem nada saber do que se passava (pois nem sequer acesso às actas havia), somos agora confrontados com um blog, da autoria desse vereador da CDU, que relata criticamente o que se passa nas reuniões da Câmara e nos deixa boquiabertos com a frequência de procedimentos indevidos (para não usar a palavra "irregularidades", que pode ser considerada abusiva para ouvidos pouco habituados à controvérsia).
Pena é que a divulgação destes relatos se limite à INTERNET, de acesso pouco abrangente, pois os relatos, acompanhados da acta oficial, deveriam ser alvo de uma publicação regular que nos permitisse conhecer a actuação dos vereadores e habilitar-nos a um voto coerente com o nosso julgamento, e não pelos cartazes, com "carinhas" mais ou menos "larocas" ou pelas promessas mais ou menos vãs.

Olhem o que, numa só reunião, fiquei a saber:

          - que a Sra. Presidente quer, agora, colocar à apreciação da vereação o protocolo que dizia não necessitar dessa apreciação, na sequência da queixa que a CDU apresentou ao Tribunal Administrativo e ao Ministério Público;
          - que a água que bebemos não é captada e tratada a partir da Barragem do Funcho pelas Águas do Algarve, (o que só acontece nas freguesias de São Marcos, Messines e Armação ), mas sim proveniente de furo no aquífero Querença-Silves, que ainda o ano passado ameaçava níveis preocupantes. É que para o aumento do preço da água, a Sra. Presidente justificava-se com o aumento de tarifas das Águas do Barlavento;
          - que os pedidos de documentação solicitados pela oposição são sistematicamente esquecidos por tempo indeterminado, ou entregues tardiamente, inibindo o trabalho de fiscalização que à oposição compete;
          - que a Sra. Presidente recusa a elaboração do Relatório de Observância do Estatuto de Direito da Oposição, obrigatório por lei, e que a maioria PSD votou pela manutenção dessa irregularidade.

Querem saber mais e como? Aconselho a leitura do Blogue do Vereador, no que se refere ao relato da reunião de 7 de Junho e seus links para documentação adequada.

sexta-feira, junho 16, 2006

Dez anos depois

Dez anos passaram sobre o falecimento de David Mourão Ferreira.
Não vos venho falar da sua morte, mas da sua vivacidade.

  • Ternura

    Desvio dos teus ombros o lençol,
    que é feito de ternura amarrotada,
    da frescura que vem depois do sol,
    quando depois do sol não vem mais nada...

    Olho a roupa no chão: que tempestade!
    Há restos de ternura pelo meio,
    como vultos perdidos na cidade
    onde uma tempestade sobreveio...

    Começas a vestir-te, lentamente,
    e é ternura também que vou vestindo,
    para enfrentar lá fora aquela gente
    que da nossa ternura anda sorrindo...

    Mas ninguém sonha a pressa com que nós
    a despimos assim que estamos sós!

David Mourão Ferreira
Obra Poética (1948-1988)
Editorial Presença, Lisboa 1988

quarta-feira, junho 14, 2006

Um Conto (XXII)

  • Quando o nosso sonho pode não ser nosso

    Hoje, com 28 anos, Filipe, sentado à secretária do seu escritório, reflecte sobre a sua vida.

    Mal cumprira os seis anos de idade e já seguia, pela mão de seu pai, até às "escolinhas" do clube de futebol lá da terra. E o pai ali ficava, deslumbrado, a vê-lo jogar, agitando braços e palavras de ordem. No final do treino, Filipe aguardava que o pai terminasse a conversa com o seu treinador. Com uma das mãos acariciando a sua nuca e a outra a gesticular insistentemente, quase em risco de socar a cara do treinador, tal o calor que o pai emprestava à conversa, discutiam coisas que ele não entendia, embora soubesse, isso sim, que falavam de si.
    O seu pai sabia de tudo. Era o maior!
    Já da outra escola, quem se ocupava era a sua mãe, verificando os trabalhos, esclarecendo as dúvidas, preparando-lhe a roupa e o lanche.
    Aos doze anos, a cada sábado, o pai assistia aos jogos. Filipe tinha sempre lugar na equipa. Na outra escola também tudo corria de feição.
    Aos 18 anos o futebol já ocupava grande parte da sua vida, com responsabilidades na equipa principal, agora acrescentadas com a convocatória para a selecção regional. Mal tinha tempo para se dedicar à Literatura, à História e à Física, as áreas da sua preferência, as que lhe permitiam entender melhor o mundo e os homens. Fazia-o a maioria das vezes às escondidas, não fosse o pai ralhar-lhe por se deitar tarde e não descansar como deveria. No ano seguinte deixou mesmo os estudos, ao ingressar numa equipa do escalão principal. Era sempre ele o jogador escolhido para as entrevistas e reportagens; exprimia-se com mais facilidade que os outros.
    Fora o pai quem o levara à cidade grande, a treinar naquela equipa, e agora repartia-se em esforços e contactos para o levar para um dos três maiores.
    Não pararam naquele verão. Assim fizeram no verão seguinte e no outro, até que o convidaram a ingressar numa das grandes equipas do país.
    No banco, a maior parte das vezes, acabou por ser emprestado à equipa donde saíra.
    Acalentando o sonho de Filipe, o pai, todos os anos, esforçava-se por um melhor contrato. Passou a dedicar-se exclusivamente à sua promoção, abandonando a empresa onde trabalhava.
    Chegou então um dia em que, depois de muito pensar, desalentado com uma carreira que se arrastava, decidiu deixar o futebol. Contra a vontade de seu pai, que acabou finalmente por ceder, pegou nas suas economias e montou uma empresa de comércio e serviços relacionada com a prática desportiva.
    Agora lê à vontade, pensa mesmo voltar a estudar e ainda joga futebol, mas é por desporto, por prazer, com os amigos.

    Hoje, à sua secretária, reflectindo sobre a sua vida, questiona-se, sem saber, se o sonho de ser jogador de futebol fora mesmo um sonho seu ou um anseio do seu pai.


segunda-feira, junho 12, 2006

Pelo advento do Solstício

É nesta primeira noite de fogueiras, prenúncio do Verão, que a pele se inquieta e as pessoas saem para a rua procurando alívio na brisa e no cheiro da maresia.

  • FÁBULA

    Todos os anos neste dia
    os árabes
    silenciosamente
    voltam-se para os lados de Chenchir
    beijam a terra em suas mãos
    e lamentam o fascinante país
    onde já não vivem o mar
    sem peso as noites inclinadas a terra
    volúvel
    onde seus antepassados
    acenderam as álacres fogueiras do amor

Casimiro de Brito
ALGARVE todo o mar
(Colectânea)
Publicações Dom Quixote, Lisboa 2005

sexta-feira, junho 09, 2006

Um Cont(inh)o (XII)

Um microconto (cerca de 50 caracteres), no dia do pontapé de saída do "Mundial 2006":


  • Não sabia se o ser futebolista fora um sonho seu ou do seu pai.

quarta-feira, junho 07, 2006

O caos do sonho

De entre o que materialmente pude reter de Faro 2005, conto a publicação, pela Assírio & Alvim, de poemas de Gastão Cruz ditos por Luís Miguel Cintra.

É um desses poemas que me apetece trazer-vos hoje:

  • O caos do sonho

    Estou deitado no sonho não
    perturbes o caos que me constrói
    Afasta a tua mão

    das pálpebras molhadas
    Debaixo delas passa
    a água das imagens

Gastão Cruz + Luís Miguel Cintra
Poemas de Gastão Cruz, ditos por Luís Miguel Cintra
Assírio & Alvim, Lisboa 2005


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terça-feira, junho 06, 2006

Maria João Pires


© www.theanvil.org.uk


Maria João Pires foi ontem agraciada com o I Prémio Internacional Don Juan de Borbón.
Presto aqui a minha homenagem, evocando esta sua interpretação de um breve Nocturno de Chopin, em dó menor.

Maria João Pires
Chopin: The Nocturnes
Deutsche Grammophon, 1996

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P.S.
Desculpem esta intromissão, mas não posso passar sem dizer que apreciei bastante o programa que há pouco se apresentou no canal 2 da RTP, Périplo é o seu título, sobre a história do Mediterrâneo. Aconselho, na próxima segunda-feira, pelas 23h30.

segunda-feira, junho 05, 2006

Os meus contos

Desde Março que não publico um conto e, com o aproximar do Verão e esta preguiça algarvia que me começa a invadir, não sei quando voltarei a fazê-lo.
Há, no entanto, quem o faça por mim.

© Voz de Loulé

Em cada mês e em cada primeiro dia de cada mês, a Voz de Loulé passou a publicar, a seu critério, um conto, de entre os contos que concebi para este meu blog, na sequência de um convite que me foi formulado por Helder Raimundo, de Contrasenso, colaborador daquele quinzenário.
Em Maio publicou "Um 1º de Maio em Silves" e, neste mês de Junho, um outro conto que intitulei "Quem não lê, é como quem não vê", que no blog foi dividido em duas partes, dada a sua particular extensão para este meio de comunicação. É possível aceder ao conto, através de link colocado na coluna da esquerda ou aqui mesmo: em 1ª parte e 2ª parte.

quinta-feira, junho 01, 2006

Saudando Junho e a serra algarvia

Flores da esteva, Março 2006, © António Baeta Oliveira
  • A flor da esteva

    Para mim a esteva é sobretudo o cheiro:
    a resina a esforço suado
                                                        para romper
    das entranhas do monte até acima
    vencendo a terra adversa
                                                      quase só
    xisto
                até desfraldar a branca bandeira
    do seu cântico
                                          do seu cândido espanto
    de viver

Teresa Rita Lopes
ALGARVE todo o mar
(Colectânea)
Publicações D. Quixote, Lisboa 2005