sexta-feira, abril 29, 2005

Um Conto (III)

Este não é o conto que desde a semana passado havia prometido. Este é um outro que se lhe interpôs:

  • Um 1º de Maio em Silves

    Era tarde na véspera do 1º de Maio. Passaria já mesmo da meia-noite. Ali, no Largo dos Bombeiros, sob as arcadas dos Paços do Concelho, um grupo de rapazes conversava. Trocavam sonhos e falavam de um tempo em que era possível desejar um mundo melhor sem ter que se refugiar de ouvidos indiscretos ou ler livremente o livro que agora passavam, escondido, de mão em mão, sem pôr em risco a sua segurança e a dos outros.
    Durante o dia alguns homens tinham sido presos, dizia-se que preventivamente, por suspeição da polícia política. Eram homens que já haviam passado pelas prisões do regime ou tinham sido conotados com Humberto Delgado, na sequência da visibilidade permitida no período "legal" que precedera as eleições.

    Entretanto, amedrontado, porque sozinho na noite, em serviço de segurança na estação elevatória da barragem, junto a Mata Mouros, o homem que ali velava telefonara à GNR relatando ruídos suspeitos nas imediações.

    De súbito, em desesperado alarme, sai por detrás do grupo de rapazes a ambulância, abertos os portões do Quartel dos Bombeiros. Frementes de curiosidade acorrem junto do telefonista de serviço inquirindo sobre o sucedido. Um homem fora baleado.
    A íngreme ladeira da rua da Sé fora fácil naquele dia. A dose de adrenalina libertada facilitou o esforço imposto na corrida até junto à porta de urgência do hospital. Alguns minutos depois, transportado numa maca, a partir do interior da ambulância, avistavam um agente da PSP, inconsciente, baleado no ventre. Um fino risco de sangue desenhava-se-lhe na pele.

    No 1º de Maio daquele ano não se falava de outra coisa.
    Ao tempo havia duas forças policiais: a GNR, que patrulhava as zonas rurais e as sedes de freguesia, e a PSP que policiava a cidade. Ao apelo do vigilante da estação elevatória, a GNR enviara dois agentes que se camuflaram no local.
    Mais amedrontado ainda, talvez pelo ruído dos agentes da guarda republicana que entretanto vigiavam as imediações, mas cuja presença desconhecia, resolvera o segurança da estação elevatória interceder junto da PSP.
    O guarda-republicano vigiava a aproximação furtiva daquele vulto.
                - «Alto ou disparo!», gritou.
    O vulto avançou para ele. Disparou.

    O agente da PSP veio a recuperar dos ferimentos. Mas o ridículo da situação foi, para aqueles rapazes, mais um traço na composição da caricatura do regime.


quarta-feira, abril 27, 2005

A poesia serve-se fria!

Da antologia "A Poesia serve-se fria!", lançada por altura da II Bienal de Poesia de Silves - "Silves, capital da palavra ardente" - transcrevo um poema:

  • Algarve

    Os árabes te deram a brancura.
    Algarve branco e grave
    no exercício do sal.

    Os árabes te puseram a brancura no nome
    e assim permaneceste branco e árabe
    nas ranhuras da cal.

    Por Ocidente foste designado,
    a praia mais longínqua, terra
    estranha que habita em Portugal.

Manuel Simões
A poesia serve-se fria!
Câmara Municipal de Silves, Silves 2005


terça-feira, abril 26, 2005

Uma vez mais, a Bienal

Ninguém estará certamente a pensar que o êxito ou não-êxito de uma bienal de poesia se possa medir pelo número de pessoas que consegue congregar, tanto mais quando se trata de uma pequena cidade de província com cerca de 10 mil habitantes. Também não será fácil determinar quantas dessas pessoas foram afectadas pela publicidade da iniciativa, ainda que funcionando de uma forma menos usual, tentando surpreender com aposição de poemas nas montras dos estabelecimentos comerciais, nas bases de copos em bares e cervejarias, nas toalhas de mesa dos restaurantes, como descrevo em post de 19 de Abril.
Não. Todos sabemos que o êxito das "coisas" da cultura não se mede dessa maneira, porque todos sabemos que a cultura não mora aqui. A cultura não tem lugar no dia-a-dia do cidadão, não tem valor porque não é traduzível em termos de "deve e haver" nesta sociedade de consumo. O quotidiano é o "circo", o mero divertimento alienante, e o "pão", a satisfação das necessidades primárias; TRINTA E UM ANOS DEPOIS DE ABRIL.

Quanto às escolhas dos poetas, sobre as quais fui interrogado através dos "comentários", remeto para a apresentação da Antologia "A Poesia serve-se fria!", lançada no decurso deste evento: (...) «O critério de selecção dos Poetas revisitados por Oradores e Actores baseia-se em aproximações ao "corpus" poético de cada Autor, simbolizado em António Ramos Rosa, o nosso poeta do sul azul...» (...).
Deixai-me dizer ainda, satisfazendo um outro "comentário" aqui deixado, que, à laia de prefácio, dessa antologia consta a "Evocação de Silves", de Al-Mu'tamid ibn Abbad, que há dez séculos atrás aqui viveu.

sexta-feira, abril 22, 2005

Um fim-de-semana em Abril

Tenho um conto que não publicarei hoje. Ninguém me virá ler. Vem aí um fim-se-semana que durará até terça-feira.
Eu também estarei pelo Algarve, como muitos outros portugueses, se o Sol nos fizer o seu favor. Mas vou em busca de outro Sol. Espero embeber-me de Abril mergulhando na Bienal de Poesia da minha terra; nesse Abril que é ideia em construção, que é utopia a perseguir... "Sempre".

  • 25 de Abril

    Esta é a madrugada que eu esperava
    O dia inicial inteiro e limpo
    Onde emergimos da noite e do silêncio
    E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner
Quinze Poetas Portugueses do Século XX
Selecção de Gastão Cruz
Assírio & Alvim, Lisboa 2004


quinta-feira, abril 21, 2005

II Bienal de Poesia (III)

Tem início amanhã (22) a II Bienal de Poesia.
Pelas 21h30, na Igreja da Misericórdia, "Escreve que eu notarei", uma Perfomance/Teatro, pelo Teatro da Estrada.

Marque encontro com António Ramos Rosa, Herberto Helder, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner.

  • Pastelaria

    Afinal o que importa não é a literatura
    nem a crítica de arte nem a câmara escura

    Afinal o que importa não é bem o negócio
    nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

    Afinal o que importa não é ser novo e galante
    - ele há tanta maneira de compor uma estante!

    Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
    e cair verticalmente no vício

    Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola
    antes de haver cinema madame blanche e parola

    Que afinal o que importa não é haver gente com fome
    porque assim como assim ainda há muita gente que come

    Que afinal o que importa é não ter medo
    de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
    Gerente! Este leite está azedo!

    Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
    à saída da pastelaria, e lá fora - ah, lá fora! - rir de tudo

    No riso admirável de quem sabe e gosta
    ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

Mário Cesariny
Quinze Poetas Portugueses do Século XX
Selecção de Gastão Cruz
Assírio & Alvim, Lisboa 2004


quarta-feira, abril 20, 2005

II Bienal de Poesia (II)

A II Bienal de Poesia, de Silves, a decorrer entre 22 e 24 de Abril, apresentar-se-á sob variadas formas:

   - Perfomance/Teatro, "Escreve que eu notarei", pelo Teatro da Estrada, dia 22
   - Perfomance/Dança, "Em mar de encantamentos", pelo Teatro da Estrada, dia 24
   - Lição de Sapiência, por Estela Guedes, dia 23
   - Leitura de poemas, por Sandro William Junqueira e Fernando Aires, dia 23
   - Mesas Redondas, com Estela Guedes, Luís Serrano, Manuela Barros Moura, Maria Azenha, Maria Teresa Meireles, Paulo Penisga e Teresa Tudela, no dia 23, moderada por Sandro William Junqueira ou Carina Infante do Carmo, Ivo Miguel Barroso, Lucas Serra, Manuel Simões, Maria Gomes, Maria do Sameiro Barroso e Rui Mendes, no dia 24, moderada por Glória Maria Marreiros.
   - Lançamento de uma antologia, "A poesia serve-se fria!", no dia 23
   - Jantar, no dia 24


  • (...)
    Senhores juízes que não molhais
    a pena na tinta da natureza
    não apedrejeis meu pássaro
    sem que ele cante minha defesa

    Sou uma impudência a mesa posta
    de um verso onde o possa escrever
    ó subalimentados do sonho!
    a poesia é para comer.

Natália Corrreia


terça-feira, abril 19, 2005

II Bienal de Poesia


Esta imagem foi-me apresentada este fim-de-semana num bar, em Silves, servindo de base ao copo que continha a minha cerveja. Como esta conheci ainda outras, não necessariamente sob um dos meus copos, com poemas de Maria Teresa Horta, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Natália Correia e Fernando Pessoa (Alberto Caeiro).
As montras dos estabelecimentos comerciais ostentam cartazes com os mesmos motivos e até os restaurantes passaram a servir-nos poesia nas prosaicas toalhas de mesa.

Gosto da forma como se está divulgando a iniciativa. Os meus parabéns a quem a concebeu.

segunda-feira, abril 18, 2005

"Chain Letters"

Só há pouco soube da passagem de testemunho de uma certa chain letter que corre por aí. Não nego que me sinto honrado por ver este meu blog entre as escolhas de Alerta Amarelo, um dos meus blogs de referência, mas vejo-me na obrigação de ter de declinar o seu elogioso convite.
Detesto e repudio toda essa panóplia de PDFs com cenários de ocasos e paisagens maravilhosas, acompanhados de temas musicais capazes de pôr a chorar as pedras da calçada; todos os spam que me querem vender afrodisíacos e medicamentos para aumentar o tamanho do pénis (para que quereria eu tais coisas); e, principalmente, estas "cadeias" que me podem trazer azares inenarráveis se não lhes proporcionar a sequência que reclamam e garante a sua sobrevivência.
De modo que Afonso Cruz (AC), vai desculpar-me, mas não quero ser livro nenhum, tanto mais quando na questão que me propõe, se supõe que não consigo sair do Farenheit 451.
Também não vislumbro qual o interesse em dar a conhecer a minha particular predilecção pelo Capitão Nemo e pelo órgão do seu gabinete no Nautilus, onde se refugiava em abissais fugas de Bach em tons maiores.
A quem interessará saber que o último livro que comprei foi "mil e uma pequenas histórias", de Luís Ene, depois de tão ampla publicidade como a que fiz neste mesmo local, ou que fiquei com medo de existir depois de ter lido José Gil?
Revelar que estou a ler "Pássaros de Banguecoque", de Montalbán, e toda a gente julgar que sou adepto da literatura policial!
Ah, essa não. Essa de enumerar quais os cinco livros que levaria para uma ilha deserta está absolutamente fora de causa, nem que um deles fosse "A Ilha", de Aldous Huxley, a "Odisseia" e a "Ilíada", na tradução de Frederico Lourenço ou, para responder com mais do que cinco, só para chatear, revelar que preciso de pôr em dia a "História e Antologia da Literatura Portuguesa", desde o séc. XIII, em edição da Gulbenkian.

Manter a "cadeia"? Revelar os links do Padre Pedro, do Asulado ou da Helena, só porque são meus amigos, nestas cumplicidades bloguistas!

Que me desculpe AC, mas seria trair-me.

Albert Einstein (II)


O quadro preto do seu escritório, na Universidade de Princeton, no dia em que faleceu, faz hoje 50 anos.

sexta-feira, abril 15, 2005

Um Conto (II)

  • Privilegiar o que nos aproxima

    Amin Toledo acabava de regressar ao seu gabinete particular, nas instalações do Parlamento Europeu, em Estrasburgo.
    Passava um pouco das nove, no final de um dia extenuante; tão extenuante, aliás, como qualquer outro destes últimos seis meses, desde que se envolvera naquela investigação.
    Acendeu o candeeiro sobre a sua mesa de trabalho e apagou a luz do gabinete.
    Sentou-se na sua poltrona, recostou-se, mãos atrás da cabeça apoiando a nuca.

    Reviu a viagem de avião a Bruxelas e rememorou o relatório que teve oportunidade de dactilografar, no seu portátil, durante o percurso: "Privilegiar o que nos aproxima, em detrimento do que nos afasta".
    O seu sonho de aproximação dos povos.
    Já em Bruxelas, reuniu com uma delegação da comunidade islâmica de Paris. Ainda manteve uma longa conversa com o Núncio Apostólico antes de regressar a Estrasburgo.
    No final da tarde, aguardou num restaurante um pequeno grupo internacional de jornalistas de investigação, a que se juntaram alguns detectives da INTERPOL. Jantaram, depois de uma esclarecedora reunião de trabalho.

    Ligou o computador.
    Trabalhou sobre algumas notas que a sua secretária particular havia deixado sobre a mesa. Lançou-se sobre o relatório. Finalmente estabelecera as ligações de cúpula entre certos grupos radicais islâmicos, movimentos de extrema direita, o negócio internacional de armas de guerra, esquemas e métodos de lavagem de dinheiro proveniente do submundo da droga e infiltrações de grupos religiosos cristãos, de diversas tendências, bem como apoios financeiros de grupos sionistas, junto de altos responsáveis políticos dos mais variados quadrantes.
    Redigiu a denúncia e anexou factos, testemunhos e provas irrefutáveis, que vinha acumulando ao longo do tempo, guardadas no seu cofre forte particular.
    Entregou o relatório de denúncia a um emissário diplomático, que tinha previamente convocado, e que aguardava a sua chamada num determinado departamento do mesmo edifício.
    Trabalhou ainda um pouco mais sobre um outro projecto de carácter pessoal, que enviou por email.
    Dispunha-se a terminar quando ouviu um ruído estranho proveniente do corredor de acesso ao seu gabinete.
    Enquanto se levantava viu abrir-se a porta e, abruptamente, entrar dois homens armados, que reconheceu de entre as fotos que há pouco anexara ao relatório.
    Um deles avançou, com um ar displicente e irónico, e exclamou:
                - «Privilegiamos o que nos aproxima!»
    Disparou.
    Amin caiu, mortalmente ferido, sobre a sua mesa de trabalho.

    Uma enorme e prolongada salva de palmas inundou a sala.
    Ergueu-se, a agradecer.

    Acabava de sobreviver através da descrição da sua própria morte, num relato dramático da sua vida que acabara de enviar por correio electrónico e agora se representava em teatros por todo o Mundo.


quarta-feira, abril 13, 2005

Há polémica a propósito do CELAS

CELAS - Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves, © António Baeta Oliveira

Isabel Soares, presidente da Câmara Municipal, revelou a uma delegação do CELAS (Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves), a sua intenção de que venha a ser o executivo camarário o responsável pela gestão do espaço multiusos da futura sede do CELAS (antigo edifício do Matadouro Municipal).

O espaço multiusos é o corpo central daquele edifício, o espaço que abrirá o CELAS ao mundo exterior, «através dos eventos culturais que derivam dos objectivos estatutários», como expressamente refere o PROA (Programa Operacional do Algarve) em documento oficial no qual se confere o montante do apoio financeiro a prestar pelo Estado para a reabilitação do edifício que será a sede desta associação.

Retirar ao CELAS o direito ao exercício da gestão do espaço multiusos, é proceder como o senhorio que aluga ao inquilino uma determinada moradia e pretende gerir o que se passa no seio da família que para lá vai habitar.

Mais do que a ironia que faço entre o senhorio e o inquilino, o que a Câmara pretende é ilegal, e Isabel Soares é signatária da decisão do executivo camarário que cede o edifício do ex-Matadouro para «futura sede do CELAS, bem como as obras necessárias para a sua reparação e adaptação para aquele fim», conforme consta nessa decisão do executivo.

Ilegal será também a recente decisão do Executivo de ceder um outro corpo do edifício a uma designada "Fundação Al Moutamid Ibn Abbad", assumindo-se já como gestora garantida do CELAS, numa posição que, além de prepotente, liquidaria por inteiro o projecto do Centro de Estudos Luso-Árabes, que de um edifício completo de três corpos - direcção, multiusos e biblioteca - ficaria confinado ao seu espaço de direcção, o que menos falta faria a esta associação que continua à espera da sua sede definitiva, pelo menos desde 1997, data em que o compromisso camarário foi assumido.

A polémica não pára por aqui, pois a direcção do CELAS não aceitou tais decisões e prepara-se para defender os seus direitos legais.

Eu deixo aqui esta chamada de atenção para uma problema que reputo de elevada gravidade e que é do desconhecimento geral da população da cidade e do concelho de Silves.
O CELAS prepara entretanto a sua Assembleia Geral, já agendada para 7 de Maio, e as decisões aí assumidas serão então dadas a conhecer através da imprensa e outros meios de divulgação.

P.S.
Fui informado, entretanto, já depois da publicação deste post, que Isabel Soares procedeu à inauguração de umas obras que a Câmara fez num edifício cujo proprietário é a Sociedade de São Marcos da Serra, sem "dar cavaco" à Sociedade.
Coincidências?!

terça-feira, abril 12, 2005

Fotografar a Serra de Silves


A 22 de Setembro de 2003, neste blog, comentava uma visita à Serra de Silves depois do fogo de 14 de Agosto desse mesmo ano. Podeis ler aqui esse comentário.
Esta semana, pelas 09h00 da manhã de 16 de Abril, a partir da Quinta Pedagógica da Serra de Silves, o APARTE/Racal Clube, espaço de dinamização cultural em que me integro, sugere, numa chamada de atenção para a riqueza e os problemas da serra algarvia, uma proposta de itinerário para a 4ª Batida Fotográfica APARTE /Racal Clube - A Serra de Silves. Pode obter informações mais detalhadas clicando no link associado à expressão sublinhada, atrás.

Se estiver no Algarve nessa ocasião, terá oportunidade para se debruçar sobre propostas temáticas como o fogo, a seca, a reflorestação, a fauna, a flora, os produtos, os residentes e a economia local, o lazer, a paisagem, e partilhar depois a sua experiência num convívio serrano, em volta da mesa do almoço. Não esqueça de reservar o seu lugar, de acordo com as informações que pode recolher no link já atrás referido.

Permito-me ainda insistir na Serra, propondo a leitura de alguns textos da minha lavra, com datas de 15 de Agosto e 22, 23, 24 e 25 de Setembro de 2003, a partir deste link.

segunda-feira, abril 11, 2005

Qual herói grego

Paulatinamente, post a post, comentário a comentário, dia após dia, mês após mês, contra a má vontade e os frequentes obstáculos impostos por um BLOGGER todo poderoso, consegui repor todos os comentários do template anterior, retrocedendo no tempo, até Janeiro de 2004.

Já só me faltam seis meses de comentários para a recuperação total.

Se por estes dias encontraram ou vierem de futuro a encontrar a seguinte asserção - Comments have been disabled on this post - podeis estar seguros de que, na rectaguarda, há alguém que luta por repor comentários que se julgavam perdidos, intrepidamente, apesar do impedimento de prosseguir a tarefa até à madrugada seguinte.

sexta-feira, abril 08, 2005

Um conto a fazer de conta


  • Jack quase que se mordia de desespero com o incómodo que aquilo lhe provocava. Só um longo banho conseguia aliviar-lhe tamanha tensão.
    Isto acontecia-lhe frequentemente quando se dirigia ao restaurante, ao aproximar-se pelas traseiras a partir da rua onde morava. Também várias vezes se confrontou com aquela situação quando lhe dava para deambular pela cidade, sem destino definido, enquanto aguardava a saída de Louis, o seu melhor amigo, que frequentava a Universidade.
    Uma tarde até, na sequência de um encontro com Linda, lhe aconteceu o inesperado. Tinham saído para a periferia da cidade e entraram no parque. Nessa tarde aprazível, inocentemente, fizeram amor e banharam-se depois nas águas refrescantes de um pequeno curso de água que havia por perto. Deitados ao sol, sobre a relva, depararam-se com o que temia. Eis que se aproximavam, ameaçadores.
    Fugiram precipitadamente até que os perderam de vista. Já próximo de casa, despediram-se com um beijo, seguindo cada um para seu lado.
    Foi a partir desse dia que passou a estranhar o comportamento de Linda.
    Uma noite, nas imediações do beco onde se acumulavam os contentores de lixo da vizinhança, viu-os chegar. Um autêntico gang. Trajavam roupagens escuras, muito semelhantes, talvez até iguais umas às outras, feitas de um material que brilhava, mesmo à luz mortiça do candeeiro de rua. Linda vinha com eles.
    Essa noite foi um horror. Sonhou. E o sonho agigantava as dimensões. Pareciam-lhe negros, enormes vampiros, chupando-lhe o sangue.
    No dia seguinte Louis chamou-o e colocou-lhe, em torno do pescoço, uma fita colorida. Sorriu e disse-lhe:
              - «Vais ver como eles fogem.»
    Nesse final de tarde, regressando a casa, pelo beco, eles ali estavam de novo. Só lhe ocorreu fugir, mas concentrou-se nas palavras de Louis e avançou para eles, determinado. Sentiu que um frémito de hesitação atravessou o gang, de olhos postos na sua fita colorida. Linda aproximou-se. O grupo de "vampiros" adquirira a sua dimensão real e afastava-se, receoso. Linda, a seu lado, parecia a mesma que ele sempre conhecera: terna, afável, compreensiva.
    Subitamente, Linda como que fungou, tossiu e esquivou-se, sem nada comentar.
    Ao chegar a casa quis falar a Louis do sucedido, mas nada conseguiu dizer. Lembrou-se então que, também ele, fungara e tossira, incomodado com um certo cheiro irritante, um odor a gasolina, a que se fora habituando ao longo do dia.
    Na manhã seguinte, no caminho para a Universidade, Louis desviou-se do percurso habitual. Seguiu-o. Alguns passos adiante avistaram a casa de Linda. Ela estava à porta e recebeu-os com alegria.
    Louis parou, retirou da algibeira uma fita colorida, semelhante à de Jack, e colocou-a cuidadosamente ao pescoço de Linda.
    Jack e Linda agradeceram a oferta que os libertava definitivamente daquele gang de pulgas e pulgões, lambendo-lhe as mãos. Quase em coro, ainda articularam um "obrigado", enquanto Louis se afastava:
              - «Ão, ão...!»


quarta-feira, abril 06, 2005

Passe a Pobreza a História

Não sei se a fitinha branca no canto superior esquerdo do blog, de tão discreta, conseguiu despertar o interesse de quem por aqui aparece.

MAKEPOVERTYHISTORY, neste ano de 2005, em que o governo britânico acolhe a cimeira do G8 e assume a presidência da União Europeia, é uma oportunidade muito plausível para pressionar, com sucesso, os grandes líderes mundiais a acabar com a pobreza global.

Visite o site da MAKEPOVERTYHISTORY e apoie este movimento, bem como a ACT!ONAID, enviando emails e postais a Tony Blair ou George Bush, divulgando a iniciativa com a aposição da fitinha branca no seu site ou blog e adquirindo para seu uso pessoal uma fitinha branca, não virtual, usando-a no seu próprio pulso, chamando a atenção dos seus amigos e dos que consigo convivem no dia-a-dia.

Eu procedo dessa forma, lutando pelo cancelamento da dívida internacional dos países em vias de desenvolvimento e por mais justiça nas trocas comerciais.

HELP US
MAKEPOVERTYHISTORY


terça-feira, abril 05, 2005

Vossemecê disse "Rali"!?

No passado fim-de-semana, com um Rally de Portugal em terras algarvias e duas provas de classificação denominadas "Silves", resolvi meter-me à serra com alguns amigos.

Fiquei boquiaberto com a quantidade de gente, de Norte a Sul do país, que se desloca em busca destes eventos, suponho que com alguma regularidade pelo aparato dos meios de que dispõem para ficar de noite e manter-se por alguns dias acompanhando esta manifestação desportiva.
As imagens abaixo, se bem que batidas sobre diversos locais, são fotografias tiradas a propósito da mesma prova de classificação. Suponho que noutras provas esta movimentação possa ser maior ou pelo menos idêntica, já que há outros atractivos como os reabastecimentos, as partidas e as chegadas, sem os inconvenientes que podem trazer os caminhos rurais e as suas surpresas; os meus amigos que o digam, a propósito do mau estado dos caminhos de acesso ou da passagem do pequeno curso de água, a vau.

Rally de Portugal, Abril 2005, ©António Baeta Oliveira Rally de Portugal, Abril 2005, ©António Baeta Oliveira Rally de Portugal, Abril 2005, ©António Baeta Oliveira

Apesar de tudo ainda há quem, se bem que instado pela curiosidade, revele algum alheamento, mesmo em cima do seu próprio telhado e sujeito ao pó, à enorme nuvem de pó que tudo cobre à passagem de cada concorrente.

Durante o Rally de Portugal, Abril 2005, ©António Baeta Oliveira           Rally de Portugal, Abril 2005, ©António Baeta Oliveira

segunda-feira, abril 04, 2005

Um olhar sobre nós e sobre a democracia

Günter Grass, o Nobel da Literatura em 1999, visita o Algarve, preferencialmente na Primavera e no Outono, há mais de duas décadas.
Entrevistado por ocasião de uma sua exposição de litografias, a ilustrar contos de Hans Christian Andersen, no Centro Cultural de São Lourenço, respondia assim a algumas questões da entrevistadora, Malin Löfgren:

    (...)

    - Acha que a região tem vindo a mudar muito desde que começou a passar aqui as suas férias?
    - Sim, sem dúvida. Essa modificação começou depois da chamada Revolução dos Cravos, quando o país se abriu. E tivemos a esperança de que Portugal não copiasse os erros dos espanhóis. Mas, infelizmente, as pessoas tendem a repetir os mesmos erros. E assim construiu-se desmesuradamente ao longo de grandes extensões de costa. Também a paisagem se alterou com os numerosos campos de golfe, de uma forma que já não tem nada a ver com Portugal. Podia-se estar noutro sítio diferente. E esses campos de golfe são prejudiciais para a região, porque fazem gastar muita água. E isso faz descer sempre o nível dos lençóis de água subterrâneos. Como esta região, de tempos em tempos, tal como acontece presentemente, é ameaçada por secas, esta é uma maneira muito irresponsável de lidar com a terra. É de lamentar.

    (...)

    - Sendo uma pessoa com uma preocupação social, política e cultural, como descreve o seu engajamento?
    - ... com a globalização, e paralelamente com o chamado neo-liberalismo, os Parlamentos, que são verdadeiramente os únicos órgãos eleitos em todas as democracias, têm sido, cada vez mais, despojados de poder. Na Alemanha, pode observar-se isto muito claramente e creio que noutros países também. A ingerência da economia, dos bancos, embora não estejam democraticamente legitimados, tornou-se tão forte que algumas decisões saídas dos Parlamentos se parecem mais com demonstrações de impotência. No fundo, este é o maior perigo que existe actualmente para a democracia. É que ela se transforme numa farsa. É que as pessoas se dêem conta que votam todos os quatro ou cinco anos, mas as decisões já não são tomadas nos Parlamentos, mas sim nos lobbys, nas sedes das grandes empresas industriais, de forma global, e que eles não passam de peões no jogo da economia. Este é o maior perigo para a democracia, desde que as ideologias foram desfeitas. Depois do fascismo e do comunismo ortodoxo, ficou o capitalismo como o último verdadeiro perigo, a ameaça, capaz de minar os fundamentos da democracia.

    (...)

in Barlavento, nº 1445, de 31 de Março de 2005

P.S.
Sobre o falecimento do Papa remeto-vos para um post que publiquei, em 7 de Outubro de 2003, sob o título Como os que escondemos... longe da vista....

sexta-feira, abril 01, 2005

Finalmente!


Nunca mais será assim.
Finalmente o BLOGGER renovou-se com um grafismo de fazer inveja, mas sobretudo acabando definitivamente com as dificuldades de acesso aos "comentários", as indisposições a que a zona de "posting" era frequentemente acometida, gerando duplicação de posts e dificuldades acrescidas de publicação, as perdas de templates, as inacessibilidades temporárias, por tempo indeterminado, os (as)...

Acabaram as dificuldades e as nefastas perdas de tempo.

Daqui para o futuro será mais fácil blogar.