sexta-feira, setembro 30, 2005

Um Cont(inh)o (VI)

De novo, um microconto (cerca de 50 caracteres):


  • Um dia, ao arrumar as ideias, arriscou-se a perder a cabeça.

quarta-feira, setembro 28, 2005

Na linha dupla das estações

Nuno Júdice regressa ao Local & Blogal como já sucedeu várias vezes (visite a compilação ao fundo da página), quase sempre quando aquilo que dele leio condiz com o que me alegra e me rejubila, ou com o que me atormenta, me inquieta e me incomoda, enfim, com o meu "estado de alma", seja lá isso o que for.

  • Poema

    Escrevo na linha dupla das estações:
    o outono, o inverno; e ainda
    a primavera, ou o verão - quando
    o azul cai, ao fim da tarde,
    ou não chega a nascer
    das grandes névoas matinais.

    Sei que, no fundo do poema,
    um sentimento se arrasta;
    e coincide com o tempo
    que o inspirou, com esse lodo
    de emoções que se juntou
    na alma, submergindo na sua
    monotonia o impulso divino.

    Não perco tempo a ver
    as árvores, os arbustos que se
    enchem de flor com o primeiro
    sol, ou as pedras molhadas como
    dorsos de antigos animais. Volto
    para mim próprio como quem
    regressa de viagem; e não
    estava à minha espera,

    intruso, visita
    indesejável na minha vida.

Nuno Júdice
Meditação sobre Ruínas (1994)
Poesia Reunida (1967-2000)
Publicações Dom Quixote, Lisboa 2000

segunda-feira, setembro 26, 2005

As laranjas, de Ibn Sara

Faz tempo que aqui não deixava um poema daqueles autores que habitaram este mesmo espaço geográfico, se bem que noutra época e civilização, e aqui escreveram sobre um imaginário que nos é comum e que o tempo e os homens ainda não conseguiram dirimir.
Ibn Sara, de Santarém, figura entre os meus poetas preferidos e aqui mais citados. (Veja a compilação ao fundo da página)
O poema que vou transcrever, e que me toca de perto porque o seu tema é o horizonte do meu dia-a-dia, já aqui foi referido, numa outra tradução, a que podeis aceder através de um link que figura neste post, de Maio de 2005.
Dedico-o à Manuela, de Dias com árvores.

  • As Laranjas

    laranjas são brasas vivas sobre ramos
    ou rostos espreitando entre colinas verdes?
    e a ramaria, folhas que baloiçam
    ou formas frágeis que me causam pena?

    vejo-te, laranjeira, com os teus frutos,
    lágrimas rubras dos tormentos do amor.
    são sólidos mas, se fundidos, vinho seriam
    moldados pelas mãos mágicas da natureza.
    são bolas de cornalina sobre ramos de topázio
    à espera do açoite da brisa.
    porque tais frutos beijamos,
    ou seu cheiro aspiramos,
    eis que às vezes nos parecem
    ou rostos de raparigas
    ou pomos feitos perfume.

Adalberto Alves
O meu coração é árabe
Assírio & Alvim, Lisboa 1999

Improvisation
Alla
Fondou de Béchar
al sur (1994)


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quinta-feira, setembro 22, 2005

Um Conto (XIV)

A marca outonal do conto que se segue, mais precisamente de fim de férias, de final de Verão, leva-me a quebrar o hábito de publicação de um conto à sexta-feira.
Hoje, quinta-feira, o Equinócio de Outono apresentar-se-á pelas 22h23, para as coordenadas de Silves, e será mais pacífico, conto eu, do que o que vem acontecendo nas estradas portuguesas, ano após ano, pelos finais de férias e feriados.

  • O efeito da luz no ocre da falésia

    Só teve tempo de travar. O carro ainda embateu, ligeiramente, de encontro ao rail que delimitava a via. Atordoado, apercebeu-se de que estava fora de mão, numa situação de elevado perigo para si e para os outros que ali circulavam, intensamente, no regresso de férias.

    Que férias!!!

    Sorria, certamente, enquanto revia as preguiçosas e despreocupadas manhãs, a longa e descontraída cavaqueira ao jantar, com os amigos, as animadas e despreconceituosas festas, noite fora. As tardes, na praia, a ler, a ouvir música, banhando-se amiúde nas tépidas águas do mar ou fitando, abstraído, o efeito da luz no ocre da falésia.

    Foi aí que um violento raio de sol o despertou da sonolência e o acordou, no momento em que o seu carro seguia perigosamente descomandado.


terça-feira, setembro 20, 2005

A abstenção é o descrédito na mudança

O que escrevo por aqui tem a ver com as minhas preocupações pessoais, nas quais incluo a minha relação com a cidade, os cidadãos e a cidadania.
Se, porventura, ultimamente me venho referindo com maior frequência à actuação da Câmara Municipal de Silves, particularmente à da sua presidente, a quem, em última análise, cabem as responsabilidades, tal se deve a uma maior profusão de manifestações públicas e declarações, em crescendo certamente até ao acto eleitoral.
É assim natural que eu tenha um maior número de assuntos locais sobre que me pronunciar, evitando as diatribes do diz-que-disse, contribuindo com a minha opinião crítica, contrapondo sugestões e actuando com isenção e independência em relação ao jogo partidário.

Acontece que o acto eleitoral traz consigo outras vozes, que muito raramente se fazem ouvir, e que se me dirigem, dizendo contar connosco, com as pessoas, com mais ou menos energia renovável ou tradicional.
Acho que a oposição também tem contas a prestar, embora não pareça. É que muitos de nós, muitas vezes a maioria de todos nós, acabamos por votar na oposição.

O que me pergunto é o que farão de futuro os que não vierem a alcançar o poder e cuja atitude, nessa circunstância, poderia ser um dos motivos que me conduziriam ao voto.
Não estou interessado em quem detém o poder - «o poder sempre corrompe» - mas antes em quem o fiscaliza, em quem se lhe opõe, contrapondo uma outra forma de encarar as soluções políticas, que não as partidárias ou de mera gestão da coisa pública.
Se as actuações das autarquias se limitassem a decisões sobre o que é "melhor para o concelho", como se cada um não tivesse um entendimento próprio do que é ou não o "melhor para o concelho", não precisaríamos de eleições. Bastar-nos-ia um bom gestor, escolhido em concurso público.

O que espero, então, dos que vierem a ficar na oposição, é poder contar com eles nos actos de fiscalização e na disponibilização regular dessa informação:

  • da parte dos vereadores, sobre a forma como votaram e por que o fizeram dessa maneira, em cada uma das decisões da câmara municipal, exigindo, não só, que se tornem públicas as actas, mas que o seu teor consiga chegar ao conhecimento do mais comum dos cidadãos, envolvendo-nos na compreensão das decisões políticas, fazendo viver a cidadania;
  • da parte dos representantes na Assembleia, que se não limitem a disputas partidárias, quando não pessoais, em mimetismos da actuação parlamentar, que afastam os cidadãos pelo desinteresse; quanto às actas e sua divulgação, exigir que não se fique pelo mero cumprimento da lei, mas que elas sejam um contributo à discussão pública, à participação democrática dos cidadãos; eventualmente um tema de debate nas assembleias de freguesia.

Sonhos meus, dirão.
É porque existe o sonho que eu acho que votamos, tentando mudar, talvez mais a maneira como os partidos procedem, inovando, do que propriamente a cor no poder.
Quando deixarmos de crer na mudança, para que servirá o voto?

sexta-feira, setembro 16, 2005

Um Conto (XIII)

  • Aquela paz sem fim

    Deitado de costas sobre a areia molhada, comecei a aperceber-me de que estava rodeado de gente. Surpreenderam-me os olhares atónitos, os grotescos ritos faciais.

    Era uma plena tarde de Verão. Uma faixa de areia dourada demarcava o contorno da baía. O mar confundia-se com o céu num matizado de azul, de um inebriante azul.
    Desci à praia. A calma ondulação convidava ao mergulho. O corpo aceitou com agrado o contacto com a água tépida. Mergulhei. Pareceu-me avistar um rochedo, isolado naquele fundo de areia. Tomei fôlego. Mergulhei de novo, mais profundamente. A refracção do sol projectava fantasmagóricos cambiantes de luz, evolucionando ao sabor da corrente que agitava as algas em atraentes movimentos baléticos. Curiosos peixes, pequenos e irrequietos camarões, até um polvo, que se escondia na sua toca, participava, com os seus tentáculos, nesta coreografia.

    Subitamente algo aconteceu.

    O rochedo ganhava a configuração do corpo dela, nua e palpitante. O seu sorriso, de maliciosa inocência, o penetrante olhar, os braços ondulantes abrindo-se para mim, o corpo em abandono, oferecendo-se-me.
    Recordo o amplexo do nosso desejo e uma inquebrantável vontade de me aninhar a seu lado e com ela ficar, docemente, naquele sossego, naquela paz sem fim.


P.S.
A propósito do desastre de New Orleans, chamo a atenção para estas três galerias de fotos, com música, sob o título "Jazz em silêncio", no Público. (clique no sublinhado)

quarta-feira, setembro 14, 2005

Uma Revista dedicada a Silves e seu Património

Sé de Silves, Agosto de 2005, © António Baeta Olveira

No Dia da Cidade, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, ocorreu o lançamento do último número da revista Monumentos, uma publicação semestral da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, na sua maior parte dedicada a Silves.

Um dos artigos da citada revista, assinado por Fernando Pessoa, arquitecto paisagista, refere-se a «Silves e a sua paisagem».
Na sequência do meu post anterior, dedicado à Serra, ocorreu-me trazer-vos algumas transcrições do referido artigo, pela sua importância e já que não será fácil ter acesso a esse documento.

O autor começa por afirmar: "Falar da paisagem envolvente de Silves não é, infelizmente, tão agradável como poderia ser se a sua qualidade ambiental fosse outra".
Descreve então Silves com algumas referências à sua história, à sua situação geográfica, à sua geologia e à natureza diversificada do seu concelho, «do litoral ao barrocal e até à serra».
Prossegue, referindo a flora e a degradação a que foi sendo sujeita a cobertura florestal, aceleradamente a partir do século XX com as campanhas do trigo do Estado Novo: «O abandono das terras declivosas, face às magras colheitas de cereal, deixou as encostas entregues à erosão, e apenas a esteva acabou por se fixar nos solos pedregosos e quase estéreis. Por fim, nas últimas décadas, foram as campanhas do eucalipto que completaram a desolação».
Depois, os fogos florestais.
Discorre em seguida sobre alguns produtos da serra, nomeadamente o gado e o mel e regista algumas várzeas cultivadas. «A ribeira de Odelouca é um dos cursos de água que atravessa a paisagem da envolvente de Silves e que apresenta ainda uma galeria ripícola bem conservada, nomeadamente com grupos de amieiros, representando um dos melhores trechos de património natural do Algarve».
Descreve mais algumas zonas, a que se refere como «...relíquias de flora indígena...». Propõe passeios a pé, à descoberta da natureza, pela Sapeira e vale da ribeira de Odelouca, pela «água calma dos pegos» e ainda pela ribeira de Benafátima. Refere então as barragens, do Arade e do Funcho, a irregularidade do regime de chuvas e o seu baixo armazenamento, e a pobre, desordenada e monótona paisagem envolvente, «... com base em eucaliptais de tipo industrial.»
Segue-se uma nota às décadas de fundos comunitários desperdiçados e desce ao vale do Arade e aos seus extensos laranjais, para afirmar: «Pomares e hortas ainda vicejam, mas se não se implantar uma política coerente de gestão global dos recursos hídricos é mais um sector da economia agrícola que fica seriamente ameaçado e, com ele, toda uma bela paisagem com séculos de existência».
Então o rio, a partir de Portimão, onde: «... os meandros acentuam-se, deixando ilhotas de sapal e margens de sapais altos, onde as garças, patos reais e muitas outras aves aquáticas nidificam ou ali encontram refúgio e alimento. Muitos trechos marginais mantêm um relativo bom estado de conservação».
Quase a terminar, lastima: «Hoje, ao subir-se o rio Arade, e à medida que nos aproximamos da cidade, a poluição e o cheiro retiram o prazer da viagem, e a água apresenta o mau aspecto dum rio de qualquer país onde os cuidados com a saúde pública sejam neglicenciados. O apregoado Projecto de Navegabilidade do Rio Arade talvez venha a ter como consequência positiva a solução destes problemas, até mesmo o do péssimo aspecto urbanístico que a cidade apresenta na sua urbanização marginal, sobretudo para quem chega de barco, e que contrasta negativamente com a formosura da encosta da cidade antiga».
Conclui: «A possibilidade [de poder «cantar a paisagem de Silves como o faziam os antigos senhores que dela fizeram capital sumptuosa...»] existe, assim venham também a existir a consciência ambiental e a capacidade cultural de quem terá que decidir o futuro da paisagem envolvente de Silves».

P.S.
1. A propósito do meu post anterior vai daqui um grande abraço ao João, de Asul.
2. Ainda um abraço a outro João, o Scotex, pela referência elogiosa.
3. Amanhã, sexta-feira, haverá um novo conto, o 13º.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Que viva a SERRA!

A Serra em abandono, Abril de 2005, © António Baeta Oliveira

Vai regressar Silves, depois de uma itinerância por Querença, Salir, Alte, São Bartolomeu de Messines e São Brás de Alportel, locais serranos, desde Maio passado, a exposição da 4ª Batida Fotográfica do APARTE/Racal Clube, dedicada à Serra e que contou com a colaboração da In Loco, uma Associação para a Intervenção, Formação e Estudos para o Desenvolvimento Local.
Apresentando a exposição, como quem comenta as fotografias, segue um texto de minha autoria que quero compartilhar com os que aqui me visitam, como um canto de alerta, numa chamada de atenção para a nota que se lhe segue:


  • Observem os rebentos dos novos plantios e das flores da esteva, do rosmaninho e doutras plantas silvestres vestidas de Primavera. Vejam as árvores que crescem, parecendo querer atingir o firmamento. Notem as casas abandonadas, os fornos que um dia serviram para fazer pão, os utensílios que se usaram para matar a sede. Olhai as máquinas e os apetrechos que remendaram uma camisa ou umas calças gastas pelo uso ou costuraram o vestido da filha para ir à festa. Aqui estão os animais, a seca, as represas, os caminhos. Aqui ficaram as máquinas agrícolas apanhadas de surpresa pelo fogo destruidor e as marcas indeléveis que o seu furor deixou. Aqui está também a quietude que se não interrompe, antes se conjuga com o cantar das aves e se prolonga nos horizontes longínquos de uma serra quase em abandono, tantas vezes mal tratada, e sem a qual não poderemos sobreviver, por mais tecnologias e processos que a civilização humana possa inventar.
    Ainda aqui figura o Homem.

    Que viva a SERRA!

Nota muito importante:
Em Julho passado caducou a concessão, à Câmara Municipal, da Zona de Caça Turística da Serra de Silves. Foram retiradas as tabuletas que informavam e delimitavam essa zona. As candidaturas à gestão deste espaço de caça ainda não foram apreciadas pelas entidades competentes. Está criado um vazio legal que torna este vasto espaço da Serra de Silves numa zona de caça de regime livre.

Ao longo destes anos de caça condicionada e apesar dos fogos, cresceu imenso o número de exemplares de espécies cinegéticas, deixando cobiçosos os caçadores, nomeadamente por veados e javalis, que ali abundam.

Se a 2 de Outubro, com a abertura da caça, esta situação não for prevenida, irá ocorrer um massacre, para além dos perigos a que estarão sujeitos os próprios caçadores, numa zona de regime livre, sem segurança nem ordenamento.

Vai daqui o meu veemente apelo: às entidades responsáveis para a urgência de uma decisão que tarda e para a reposição das tabuletas, aos visitantes deste blog para a divulgação desta nota.


Uma das formas de alertar para este meu apelo é clicar no envelope igual a este, aí em baixo, enviando esta página para:

Direcção Regional de Agricultura do Algarve
draalg@draalg.min-agricultura.pt
Chefe de Gabinete da Presidente da Câmara Municipal de Silves
cms.chefegabinete@oninet.pt
Gabinete Técnico Florestal
cms.jsilva@oninet.pt
Assim, não poderão escudar-se no desconhecimento. Conto convosco!

sexta-feira, setembro 09, 2005

Um Cont(inh)o (V)

É tempo de outro microconto (cerca de 50 caracteres):


  • À excitação do medo sucedia-lhe a paralização pelo pavor.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Aí está o teatro. Que viva o Teatro!

Teatro Mascarenhas Gregório, Setembro 2005, © António Baeta Oliveira

Está aí, finalmemente restaurado, o querido Teatro Mascarenhas Gregório.
É certo que falta concluir algumas obras e acabamentos, nomeadamente no hall de entrada, agora expandido a toda a nova frente virada à rua Cândido dos Reis, mas o restauro, mais exactamente a sua reabilitação, é já uma realidade.

Foi devolvida à cidade uma peça preciosa do seu património e uma infraestrutura básica do deficitário equipamento cultural de Silves, passadas três décadas de poder local.
Não há mais desculpa para que a Câmara de Silves continue a ser uma das poucas que, no Algarve, não presta apoio à sua orquestra, a Orquestra do Algarve, e à sua companhia de teatro, a ACTA. Os silvenses têm sido privados do acesso à música e ao teatro que se faz e dignifica a região, numa vergonhosa quebra de solidariedade institucional.

E depois? (perguntava eu, já em 8 de Janeiro de 2004):

    Que estruturas técnicas e humanas existem para edificar um projecto criterioso para aquele edifício? Que meios financeiros?
    É que, sem a criação dessas estruturas técnicas, humanas, financeiras, com um plano de base que vise a formação de públicos diversificados, teremos um edifício fechado na maior parte do tempo, com um programa sujeito à oferta ocasional, ou, no pior mas mais credível dos cenários, ao serviço do gosto bacoco e novo-rico dos musicais e revistas na moda ou das propostas alarves dos programas de recreação à maneira da SIC ou da TVI, tão ao gosto do "povo", como se diz, que tem costas suficientemente largas para ter que aguentar com o que lhe querem oferecer.
    Não estou a defender o meu gosto, que provavelmente só mereceria também o interesse de muito poucos, mas a chamar a atenção para a necessidade da criação de uma estrutura profissional, que garanta que os dinheiros públicos sirvam a promoção da cultura e nos torne cidadãos mais capazes.

Mas não tenhamos ilusões. Apesar de tudo, este edifício não vem suprir a necessidade de um auditório, a articular com uma estratégia ligada à indústria turística, de vocação científica e cultural, a apoiar conferências, encontros, sessões de estudo, em ligação com o Instituto Piaget, os pólos universitários locais, o Centro de Estudos Luso-Árabes.

A cultura não se pode confinar ao mero consumo. Há que apoiar e incentivar a fixação de profissionais nas várias áreas de expressão cultural e nas tecnologias associadas, fomentando a formação e a produção, tornando o acto cultural uma prática que, desde as escolas, chegue às famílias e envolva o tecido social, mudando mentalidades e contribuindo para o progresso social, a par do desenvolvimento económico.

segunda-feira, setembro 05, 2005

Ainda a inauguração do Teatro Mascarenhas Gregório

Confirmou-se o teor do título do meu post anterior:

Equipamento público em inauguração privada

Entrada livre foi uma mentira.
Teatro Mascarenhas Gregório, Setembro 2005, © António Baeta Oliveira
Nesta sala os convidados, com convites verificados pela segurança da Fábrica do Inglês, sem contar com os que sempre se "safam" nestas situações. Teatro Mascarenhas Gregório, Setembro 2005, © António Baeta Oliveira

Em espaço contíguo, ao ar livre, o público anónimo, que acorreu na esperança de um lugar, assistindo, em projecção vídeo, ao que se passava na sala.

Eu não estive presente. Estas fotografias foram tiradas na tarde do mesmo dia. Quem lá esteve confirmou-me a descrição que aqui fiz do tipo de público que lá estaria e da escassa presença de silvenses.
É claro que nem todos podem caber na sala; isso acontece e espero que venha a acontecer muitas outras vezes, em sessões esgotadas, com muita afluência de público. Mas aí, apesar de alguns convites, que também sempre existirão, haverá bilhetes - públicos. E quando a sessão estiver esgotada, paciência, como em todos os espectáculos.
Poderei ter a oportunidade de assistir a uma segunda sessão, de ver através da televisão, mas não posso dizer que nesse dia estive no estádio, mesmo que à sua porta, no concerto, mesmo que ouvisse o som no exterior do recinto, na inauguração do teatro, mesmo que tivesse entrado para ir à casa de banho e espreitado por alguma porta entreaberta.

P.S.
Mais um exemplar testemunho das decisões da Sra. Presidente, reveladoras da forma como entende o que é estar ao serviço da comunidade. Leia em Saco dos Desabafos.
Da mesma maneira actuou com o CELAS (Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves) em circunstâncias que aqui relatei em Há polémica a propósito do ... Dizia eu então, descrevendo a atitude da Sra. Presidente: «... é proceder como o senhorio que aluga ao inquilino uma determinada moradia e pretende gerir o que se passa no seio da família que para lá vai habitar.»

sábado, setembro 03, 2005

Equipamento público em inauguração privada

Dia da Inauguração, após restauro, do Teatro Mascarenhas Gregório, em Silves, © António Baeta Oliveira

A Câmara Municipal de Silves vai inaugurar, após restauro, o velho Teatro Mascarenhas Gregório, mas vai fazê-lo numa cerimónia privada, já que só há lugares para convidados; por sinal com a exigência cerimoniosa de black tie, conforme me foi revelado.
"Gente fina é outra coisa!"

Quem opta decide, apesar das circunstâncias, de acordo com as suas ideias e a forma como entende o mundo. Daí que as decisões sejam reveladoras de quem opta.

Cada um convida quem quer e não tem que se justificar perante alheios, mas a sua decisão não deixa de ser reveladora.
Já uma câmara municipal não se pode alhear dos seus munícipes, e as suas decisões não deixam de ser reveladoras de uma maneira de ser e estar, sujeitas ao parecer e julgamento dos cidadãos. Uma democracia vive do julgamento dos cidadãos, mas não sobrevive sem a sua participação activa.

O Teatro Mascarenhas Gregório foi durante meio século, aproximadamente, sede da Sociedade Filarmónica Silvense. Ali, por via da música, do teatro, de outras actividades que solicitam a participação colectiva, a expressão artística e cultural, passaram muitas gerações dedicadas e altruístas. Será que entre os convidados, e por esta específica razão, estarão algumas dessas pessoas, particularmente os seus dirigentes e figuras mais representativas, já que a todos seria impossível convidar para uma só sessão inaugural e eventualmente muitos seriam esquecidos?
Aos que mais interessa a actividade cultural são os seus agentes, os que usam parte do seu tempo na realização de actividades e se congregam em associações e colectividades afins. Será que entre os convidados, e por esta razão específica, estarão algumas dessas pessoas, particularmente os seus dirigentes e figuras mais representativas?
Houve até em tempos uma Comissão visando a restauração deste velho teatro e que encaminhou muitas das iniciativas que conduziram à definição e aquisição do edifício como de interesse municipal, o planeamento de projectos apresentados em várias instâncias europeias e a definição de intenções do restauro que hoje se inaugura. Será que entre os convidados, e por esta razão específica, estarão algumas dessas pessoas, particularmente os seus dirigentes e figuras mais representativas?
Duvido de que estes fossem os critérios utilizado pela Sra. Presidente, responsável, em última análise, pelas decisões da autarquia. Melhor. Tenho a certeza de que esse não foi o critério, pois conheço-o através de outras decisões desta câmara municipal, sempre reveladoras da sua maneira de pensar e da forma como interpreta o mundo.

Quem serão então os convidados? Haverá quem não saiba?
Claro que serão a classe política regional e local, eventualmente um ou outro ex-ministro ou secretário de estado, com predominância para os correligionários políticos laranja, alguma oposição para não parecer mal, certas associações e instituições, empresários e amigos próximos da Sra. Presidente.
Poucas pessoas de Silves, para além das que integram a comitiva que descrevi.

«Isto é só p'ra nós!», quero dizer, é só para eles.

E tudo isto para fechar o teatro no dia seguinte, pois as obras terão que continuar.

Fico por aqui, embora tenha mais algumas coisas para dizer a este propósito, mas a escrita já vai longa.

P.S.
Já me constou que se publicitou na televisão que a entrada é livre.
Se tal for verdade é porque o assunto foi repensado à última hora.
Contactei por telefone um responsável pelo departamento cultural, perguntando como deveria proceder para adquirir um bilhete e fui informado de que a inauguração era exclusiva para convidados. Se não fora convidado não poderia assistir à inauguração.
Tal responsável ainda não me informou em contrário.
Contudo, privada ou pública, o fundamental da minha posição sobre o assunto não sofre alteração, pois a análise recai sobre o critério de escolha dos convidados.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Recuar no tempo

Feira Nova, Marco de Canaveses, Verão de 2005, © António Baeta Oliveira

À escassa distância de alguns passos afasto-me da "feirinha" local, animada ao som do mais recente cantor de charme, que vende milhares de CDs junto da comunidade-portuguesa-espalhada-pelo-mundo, e mergulho no silêncio da aldeia, rodeado de espigueiros e velhas construções em pedra, sem que tenha chegado a entender se recuei no tempo ou se simplesmente se verificou um desajuste tecnológico.

Regresso de um fim-de-semana prolongado por terras de entre Douro e Tâmega, num retemperar de forças, como vos contei o ano passado aqui, (à distância de um clique) ou aqui , (ao fundo dessa página), em posts de 1, 2 e 3 de Setembro do ano passado.