segunda-feira, dezembro 26, 2011

Um poema a cada segunda-feira (LVIII)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga proveio da safra de Mário Soares.
Prossigo, agora com Miguel Veiga.


  • [ONDE MORA A MEMÓRIA OBSCURA,ONDE]

Onde mora a memória obscura, onde
esse cavalo persiste como um relâmpago de pedra,
onde o corpo se nega, onde a noite ensurdece,
caminho sobre pedras na minha casa pobre.

Não conheço esse lago, não fui a esse país.
Mas aqui é um termo ou um princípio novo.
Com a baba do cavalo, com os seus nervos mais finos
reconstruí o corpo, silenciei os membros.

Não se estancou a  sede, no mesmo caos de agora,
mas a língua rebenta, as vértebras estalam
por uma nova língua, por um cavalo que una

a terra à tua boca, e a tua boca à água.

António Ramos Rosa
Os poemas da minha vida
Miguel Veiga
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, dezembro 19, 2011

Um poema a cada segunda-feira (LVII)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga proveio da safra de Mário Soares.
Prossigo, agora com Miguel Veiga.


  • HEXAGRAMA KAN, DEPOIS DE FINISTERRA
          TRONO SOBRE TRONO

O perigo é companhia para o soberano
que instalou seu trono sobre a dinastia
seu projecto (recto) vem do longe donde
se ameaçam o riso o corpo o movimento
o segredo (segrego) a fala o linguajar
do dia anterior continuadamente.
Nem todos são os súbditos, quem o conduziu
ao trabalho do quotidiano (ano) inquieto
entre o sono iniciado tarde nas manhãs?

Breve é o receio de (o meio) deslocar-se
da paisagem mar apreendida extensa
entre o fio a fio assíduo da janela.
O momento é pouco para olhar as tintas e a criança
acode à chamada urgente (gente) dos vizinhos
Surpreende (prende) o plano do levantamento
apropriado à sede (sede da melancolia)
no curso das leis seu código fechado
em área de confusos (usos) dos lugares.

Não é de desistência ainda o tempo
de há muito em sua mão a rédea de colares:
eu estou aqui segura e cúmplice
nada pretendo (entendo) além do encadeado
de anéis colhidos (escolhidos) devagar.
Talvez seja amor o medo da assistência
talvez seja amor a culpa de não ter
o objecto (o ente) predilecto que refaz
solene esta alegoria do frágil (ágil) vidro
e nos separa (pára) à margem do poder.

Marta Cristina de Araújo
Os poemas da minha vida
Miguel Veiga
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, dezembro 12, 2011

Um poema a cada segunda-feira (LVI)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga proveio da safra de Mário Soares.
Prossigo, agora com Miguel Veiga.


  • SONETO QUASE MUDO
                       Para o Miguel Veiga, "gauchement"...

Há o silêncio, às vezes, entre nós,
e é um silêncio denso, ou uma fala
críptica, uma linguagem que abdica
do som, para ser só a voz da alma...

Há súbitas catarses de palavras
em torrente, cachoeiras de espuma
efervescente, ou talvez a timidez
dos gestos reprimidos ou represos.

Há os olhos que dizem sem dizer,
há o fluido subtil de quem se entende
mais longe do que a vida nos permite.

E há a confiança na ausência,
há segredos sabidos sem saber,
manhãs comuns em cada amanhecer.

Rui Polónio Sampaio
Os poemas da minha vida
Miguel Veiga
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, dezembro 05, 2011

Um poema a cada segunda-feira (LV)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga proveio da safra de Mário Soares.
Prossigo, agora com Miguel Veiga.


  • NÃO SEI DE AMOR SENÃO
Não sei de amor senão o amor perdido
o amor que só se tem de nunca o ter
procuro em cada corpo o nunca tido
e é esse que não pára de doer.
Não sei de amor senão o amor ferido
de tanto te encontrar e te perder.

Não sei de amor senão o não ter tido
teu corpo que não cesso de perder
nem de outro modo sei se tem sentido
este amor que só vive de não ter
o teu corpo que é meu porque perdido
não sei de amor senão esse doer.

Não sei de amor senão esse perder
teu corpo tão sem ti e nunca tido
para sempre só meu de nunca o ter
teu corpo que me dói no corpo ferido
onde não deixou nunca de doer
não sei de amor senão o amor perdido.

Não sei de amor senão o sem sentido
deste amor que não morre por morrer
o teu corpo tão nu nunca despido
o teu corpo tão vivo de o perder
neste amor que só é de não ter sido
não sei de amor senão esse não ter.

Não sei de amor senão o não haver
amor que dure mais que o nunca tido.
Há um corpo que não pára de doer
só esse é que não morre de tão perdido
só esse é sempre meu de nunca o ser
não sei de amor senão o amor ferido.

Não sei de amor senão o tempo ido
em que o amor era amor de puro arder
tudo passa mas não o não ter tido
o teu corpo de ser e de não ser
só esse é meu por nunca ter ardido
não sei de amor senão esse perder.

Cintilante na noite um corpo ferido
só nele de o não ter tido eu hei-de arder
não sei de amor senão amor perdido.

Manuel Alegre
Os poemas da minha vida
Miguel Veiga
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, novembro 28, 2011

Um poema a cada segunda-feira (LIV)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga proveio da safra de Mário Soares.
Prossigo, agora com Miguel Veiga.


  • AINDA ME ACOLHO
Ainda me acolho, Pai,
à tua madresilva.
Ali tens a passiflora,
não envelheceu.
O cedro grande, maior ainda.
O forno, dedadas
expungidas pelas portas.
A buganvília, não esqueço,
é preciso cortá-la.
A Mãe não está nem volta.

António Osório
Os poemas da minha vida
Miguel Veiga
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, novembro 21, 2011

Um poema a cada segunda-feira (LIII)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga proveio da safra de Mário Soares.
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  • BARCAROLA
quero falar aqui do meu amor, quero falar
quando o silêncio é de oiro ensimesmado,
o tempo é de ferrugem,
e o espaço é de água na longa solidão
riscada pelas aves.

pobre relento dos sonhos que sonhámos:
passámos por aqui, os olhos rasos de luz
e o coração embalado por um fio de música
a diluir-se no crepúsculo
com as águas morosas, a

sombra a carregar-se ao rés das casas, as
rosas semicerrando-se numa leve respiração.
águas do douro que corriam, para onde
levavam as lembranças como barcos
que se esquecessem do seu rumo?

leve brisa do mar que nos chegava,
salina sem sabermos
que anunciava as lágrimas, de que fundo
dos mares atormentadas arrancava?
cais humilde das cargas, quem diria

que ali só atracavam desventuras?
ali, só quero falar desta golfada a desprender-se
de sonho e oiro a que te misturavas
num ledo encantamento entre rumores
que se apagavam fulvos em surdina

e sílabas, sílabas que na alma a pouco e pouco
emudeciam comovidas. noite, ó noite
que cobriste essas horas do teu luto,
quando será manhã para que seja
outra tarde outra vez essa harmonia?

Vasco Graça Moura
Os poemas da minha vida
Miguel Veiga
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, novembro 14, 2011

Um poema a cada segunda-feira (LII)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga proveio da safra de Mário Soares.
Prossigo, agora com Miguel Veiga.


  • AS PALAVRAS
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade
Os poemas da minha vida
Miguel Veiga
Público, Lisboa 2005

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quarta-feira, novembro 09, 2011

Colóquio: Estudos Árabes em Portugal



O Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves (CELAS) vai realizar no próximo sábado, 12, às 14:30 horas, um colóquio sobre a temática Estudos Árabes em Portugal, marcada para o auditório do Instituto Superior Jean Piaget, em Silves, com entrada livre.

Serão abordados os seguintes temas: Arabismo em Portugal: 500 anos de uma temática nunca esquecida, por António Rei; O Arabismo português e a escola orientalista europeia, por Mostafa Zekri; Alandalus, 1300 anos – Novas polémicas de interpretação histórica, por Adalberto Alves.

Em paralelo, será lançada a obra O Gharb Al-Andalus, primeiro volume de textos do arabista Garcia Domingues, “textos que se encontram dispersos e esquecidos apesar da sua pertinência e actualidade científicas” e que o CELAS tem vindo a recolher para publicação.

Este projeto teve início em 2010 com a reedição da obra «História Luso-Árabe», por ocasião das comemorações do centenário do nascimento de Garcia Domingues.

Texto adaptado de um comunicado de imprensa

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segunda-feira, novembro 07, 2011

Um poema a cada segunda-feira (LI)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga proveio da safra de Mário Soares.
Prossigo, agora com Miguel Veiga.


  • PUDESSE EU
Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Pra poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes.



Sophia de Mello Breyner Andresen
Os poemas da minha vida
Miguel Veiga
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, outubro 31, 2011

Um poema a cada segunda-feira (L)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga provém da safra de Mário Soares.


  • SEGREDO
Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça

nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço

Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar

nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar



Maria Teresa Horta
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, outubro 24, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLIX)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga provém da safra de Mário Soares.


  • O GRANDE ZIGUEZAGUE
"Classe ao ataque". Outubro. Dezassete.
"Os sovietes mais a luz eléctrica".
A própria poesia é um soviete.
Quem busca de Virgílio a antiga métrica?

"A História não se faz em linha recta".
Foi o século do grande ziguezague.
"A barca do amor quebrou-se" - disse o poeta.
São ásperas as letras do Gulag.

Desagrega-se a rosa e a gramática
os sovietes já não dão sinais
perde-se a alma em selva burocrática.

Conspiradores do impossível: onde estais?
Dai-me de novo a rosa iniciática.
O sonho que passou não volta mais.


Manuel Alegre
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, outubro 17, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLVIII)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga provém da safra de Mário Soares.


  • SE PERGUNTAREM DAS ARTES
Se perguntarem das artes do mundo?
Das artes do mundo escolho a de ver cometas
despenharem-se
nas grandes massas de água: depois, as brasas pelos
recantos,
charcos entre elas.
Quero na escuridão revolvida pelas luzes
ganhar baptismo, ofício.
Queimado nas orlas de fogo das poças.
O meu nome é esse.
E os dias atravessam as noites até aos outros dias, as
noites
caem dentro dos dias - e eu estudo
astros desmoronados, mananciais, o segredo.

Herberto Helder
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, outubro 10, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLVII)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga provém da safra de Mário Soares.


  • ESTA GENTE / ESSA GENTE
O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente

Gente que seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente

Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente

Gente que enterre o dente
que fira de unhas e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente

O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente

Ana Hatherly
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, outubro 03, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLVI)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga provém da safra de Mário Soares.


  • OUTRA COISA
Apresentar-te aos deuses e deixar-te
entre sombra de pedra e golpe de asa
exaltar-te       perder-te       desconfiar-te
seguir-te de helicóptero até casa

dizer-te que te amo amo amo
que por ti passo raias e fronteiras
que não ne chamo mário que me chamo
uma coisa que tens nas algibeiras


lançar a bomba onde vens no retrato
de dez anos de anjinho nacional
e nove de colégio        terceiro acto

pôr-te na posição sexual
tirar-te todo o bem e todo o mal
esquecer-me de ti como do gato

Mário Cesariny
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, setembro 26, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLV)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga provém da safra de Mário Soares.


  • CORPO DE AROMA
Se foste corola ou barco,
mas quando?
minha irmã,
minha leve amante, minha árvore,
que o mundo levantava
na inocência absoluta
do instante.
Alta estavas no amplo e recolhida
como uma lâmpada,
alta estavas na varanda branca.
Se acaso ainda podes ser aroma
dos meus olhos,
corpo no corpo,
retiro e substância,
linha alta
da delícia,
nada te pedirei na minha ânsia
de puro espaço,
de azul imediato,
de luz para o olvido e o deserto.

António Ramos Rosa
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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segunda-feira, setembro 19, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLIV)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga provém da safra de Mário Soares.


  • Em Lisboa com Cesário Verde
Nesta cidade, onde agora me sinto
mais estrangeiro do que um gato persa;
nesta Lisboa, onde mansos e lisos
os dias passam a ver as gaivotas,
e a cor dos jacarandás floridos
se mistura à do Tejo, em flor também,
só o Cesário vem ao meu encontro,
me faz companhia, quando de rua
em rua procuro um rumor distante
de passos ou aves, nem eu já sei bem.
Só ele ajusta à luz feliz dos seus
versos aos olhos ardidos que são
os meus agora; só ele traz a sombra
de um verão muito antigo, com corvetas
lentas ainda no rio, e a música,
sumo do sol a escorrer da boca,
ó minha infância, meu jardim fechado,
ó meu poeta, talvez fosse contigo
que aprendi a pesar sílaba a sílaba
cada palavra, essas que tu levaste
quase sempre, como poucos mais,

à suprema perfeição da língua.

Eugénio de Andrade
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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quinta-feira, setembro 15, 2011

BRUTAL



A 17 de Setembro, às 17h00, estarei na Biblioteca Municipal de Silves para apresentação do romance BRUTAL, da autoria de Fernando Esteves Pinto, escritor, editor, poeta, romancista.

Nasceu em Cascais em 1961. Colaborou no DN Jovem e no Jornal de Letras. Em 1960 recebeu o Prémio Inasset Revelação de Poesia do Centro Nacional de Cultura. Está publicado em Espanha, México e Marrocos e representado em várias antologias nacionais e internacionais.

Em 1968 obteve uma bolsa de criação literária pelo Ministério da Cultura / Instituto Português do Livro e das Bibliotecas. Foi co-fundador e coordenador do "Sulscrito" - Círculo Literário do Algarve - e também do projecto literário Hispano-Luso "Palavra Ibérica".

Da sua obra destacam-se: Na Escrita e no Rosto (poesia); Siete Planos Coreográficos (poesia, edição bilingue português/castelhano); Ensaio entre Portas (poesia); Conversas Terminais (romance): Sexo entre Mentiras (publicado também em Espanha); Privado (novela, edição bilingue castelhano / português); Área Afectada (poesia).








A apresentação de BRUTAL está a cargo de Tiago Nené, poeta.











A mim compete-me a leitura de passagens significativas do romance.

Contamos convosco.

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segunda-feira, setembro 12, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLIII)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

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  • Camões e a Tença
Irás ao Paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.


Em tua perdição se conjugaram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou seu ser inteiramente


E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto


Irás ao Paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência


Este país te mata lentamente


Sophia de Mello Breyner Andresen
Os poemas da minha vida
Mário Soares
Público, Lisboa 2005

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quinta-feira, setembro 08, 2011

Conversas Informais



A intenção deste post é a de divulgar esta iniciativa das Conversas Informais, no Museu da Marinha, com particular destaque para  esta comunicação da Doutora Eva Maria von Kemnitz, já no próximo dia 10 de Setembro.

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segunda-feira, setembro 05, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLII)


Fui surpreendido, neste período com sabor a férias, pela publicação do último poeta desta antologia que Paulo Pires compilou e a Biblioteca Municipal de Silves editou.

Neste momento ainda não defini um critério de publicação que dê continuidade a esta rubrica, mas prometo fazê-lo a breve termo.

Não vos quero, no entanto, privar de um poema nesta segunda-feira.




  • 1964 - Um dia igual
Fascinam-me as meninas da praia-do-peixe.
Pela tarde fresca fazem o pino encostadas à muralha,
e pelos seus corpos escorre a fina areia
como numa ampulheta.
Os homens do mar embarcam nas chatas
e remam até desaparecerem no fim do dia.


Voltamos todas para a taberna.
Acendemos cigarros umas às outras
e bebemos juntas pelos lábios do mesmo copo.
As histórias são sempre as mesmas:
o amor e a gonorreia.
As escamas que não se despegam do dinheiro.
A tentação de subir ao segundo andar
sem a obrigação da carne encomendada e a preço razoável.
Apenas subir como se fossemos ao baile
com fogo de artifício e música impregnada de vaselina.


Fernando Esteves Pinto
O tempo que fala
Temas Originais, Lda., Coimbra, 2010

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segunda-feira, agosto 29, 2011

Um poema a cada segunda-feira (XLI)



Quando das comemorações do Dia Mundial da Poesia, Paulo Pires, Técnico Superior da Biblioteca Municipal de Silves, compilou uma antologia que intitulou POESIA 21, porque se refere a 21 poetas e ao dia 21 de Março.
São trabalhos desses 21 poetas, gente que se vem afirmando no nosso mundo literário, que aqui estou a incluir desde a XX edição.



  • *

A minha alegria é um aroma de tangerinas nos dedos,
comer aos gomos a paisagem
e limpar depois
a boca
à manga do espanto.

Vasco Gato
Um Mover de Mão
Assírio & Alvim, Lisboa, 2000
IMO
Quasi, Vila Nova de Famalicão, 2003
47
edição de autor, Vila Nova de Famalicão, 2005
A Prisão e Paixão de Egon Schiele
& Etc., Lisboa, 2005
Omertà
Quasi, Vila Nova de Famalicão, 2007
Cerco Voluntário
Cadernos do Campo Alegre/13, Fundação Ciência
e Desenvolvimento, Porto, 2009

Rusga
Livraria Trama, Lisboa, 2010
Poesia 21
Parceria Biblioteca Municipal de Silves / Escola Secundária de Silves

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sexta-feira, agosto 26, 2011

Teatro grego num Teatro Romano


Quando pela primeira vez visitei Mérida e o seu monumental Teatro Romano soube que nesse lugar, em cada verão, ali acontece um festival de teatro.

Em cada verão que entretanto passou ou esquecia ou nem sequer tinha notícia desse acontecimento, salvo uma vez em que um amigo me chamou a atenção para uma peça que estava ser transmitida em direto pela televisão espanhola.

Este ano foi de novo uma amiga que me disse ter assistido a uma peça neste local e, lastimando-me por sempre acabar por perder oportunidades, disse-me ela que a peça continuaria em cena até dia 28 deste mês de agosto.

Desta vez não perdi a oportunidade, se bem que já na 57ª edição deste festival.

O anfiteatro, de que vos podeis aperceber na foto, proporciona este belo enquadramento.
Não possuo fotos da representação, com muita pena minha, dada a interdição de fotografar.

Deixem-me que vos diga que as coreagrafias, a música e os cantos, os efeitos cénicos, toda a encenação pensada para este lugar tão nobre, tão monumental, tão adequado à representação desta tragédia de Sófocles - Antígona - foi um completo deslumbramento dos sentidos. Nunca tinha assistido a um espetáculo tão envolvente.

Atores e coros agradecendo, no final do espetáculo.


Já os atores se recolheram, o público abandona o anfiteatro e a iluminação brinda-nos com este efeito.

P.S. Saibam que, ao clicar nas fotos, obtém uma cópia ampliada.

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