quarta-feira, novembro 12, 2014

Tanis, o rapazinho de Cilpes (séc. V a.C.) - A Máscara de Ouro





(frente e verso de uma moeda da época, inspiradora deste conto, da coleção do Dr. Luís  Fraga da Silva)



Tanis sentiu um ligeiro rumor que provinha da zona onde o pai e a mãe dormiam.

Ergueu ligeiramente a cabeça e inquiriu, dirigindo-se à figura que se recortava contra a parede da casa:

          -Onde vai, meu pai? Posso ir consigo?

          - Vem, sim, meu filho. Podes ordenhar os animais enquanto vou à fonte e trago água.

          - E se fizéssemos ao contrário?

          - Não. A tua mãe irá precisar de água e a fonte ainda fica um pouco longe. Demorarias demasiado tempo.

          - Eu? Chego lá num instante, encho o odre e volto.

          - Talvez venhamos a necessitar de água lá mais para o final da tarde. Irás tu, então.

Tanis nascera há 12 invernos, naquele ano em que o vento derrubou a paliçada onde guardávamos os animais. Foi uma trabalheira para os trazer de volta ao redil e eu grávida, já quase sem me poder mexer. Agora está um mocetão, forte e vigoroso, observava a mãe, olhando com orgulho os dois homens da casa.

*

Vindos da ordenha dos animais, o pai permitiu então que o filho fosse à fonte.

          - Vai lá então à água, mas segue pela margem esquerda do rio e toma atenção à corrente junto à ilha, pois choveu lá para a serra e deve vir forte, aí, onde onde as duas correntes se cruzam.

          - Serei cauteloso, meu pai.

Tanis entrou na canoa, que mais parecia o que realmente era, um tronco de cedro escavado ao centro para lá caber uma pessoa.

Passou a ilha sem sobressaltos e ali um pouco mais à frente, onde o rio se espraia como que parecendo adivinhar a foz, seguiu pelo braço de rio que se abria à sua esquerda.

Avançou devagar, dirigindo-se para o local da fonte, quando avistou uma trirreme, de origem fenícia ou cartaginesa.

Continuou, com precaução, mas chamando a atenção dos que já lá estavam.

Saudaram-no, de longe e, ao aproximar-se ouviu chamar pelo seu nome.

          - Tanis? És mesmo tu?

          - Sou, sim, meu senhor.

          - Vem. Sou Melkat, amigo de teu pai.

Tanis encostou à margem, perto da fonte. Retirou o odre que pretendia encher de água e foi acolhido pelo homem que parecia chefiar a galera.

          - Como cresceste, rapaz! Dá cá um abraço. És a cara chapada do teu pai.

E deu ordens para a equipagem:

          - Guardem aí a canoa, encham o odre e abram um espaço para o rapaz. Ele segue connosco.


*

De regresso a casa, na embarcação de Melkat, rapidamente atingiram o local do cruzamento dos dois rios, junto à ilha, e na sua aproximação já avistavam ao longe o cerro da Rocha Branca.

Tanto no topo da elevação, como cá em baixo, no porto junto ao rio, vislumbrava-se o movimento das pessoas, que reagiam à curiosidade de uma embarcação de tais dimensões e com tantos remadores, além da enorme vela central insuflada pelo vento.

Ao atingir o cais, Melkat fez questão de que fosse Tanis o primeiro a pôr os pés em terra firme, levando o seu odre cheio de água.

Seu pai ali estava, a recebê-lo de braços abertos.

Apertou-o contra o peito e aguardou a chegada de Melkat, que dirigia algumas instruções à equipagem.

Melkat abraçou o pai e teceu qualquer comentário que Tanis julgou que se lhe referia, pois o pai olhou-o com um sorriso cúmplice.

Encaminharam-se para a estrada que subia em direção à povoação.

Ao erguer os olhos, Tanis viu como toda a população apareceu a receber os visitantes e ouviu, prazenteiro, exclamações de júbilo e gritos de boas-vindas.


*

Terminada esta manifestação de acolhimento aos visitantes, pouco durou até que toda a frente do cais fosse invadida por uma completa exposição de produtos disponíveis para comercialização.

A população de Cilpes também se aprestava com a sua própria exposição de produtos a negociar.

Numa agitação pouco comum a esta gente pacata de uma região remota, trocavam-se ânforas de azeitonas por ânforas de azeite, curtumes por ovelhas e cabras, cereal por farinha, carne salgada e pasta de peixe por artigos de cerâmica ou bronze...  A moeda servia para compensar a diferença no valor das trocas.

Esgotada esta fase comercial e até porque a noite se aproximava, teve início a festa de confraternização: comia-se, bebia-se, cantava-se até não poder mais.

Já recolhido para adormecer, Tanis despertou sobressaltado por uma gritaria infernal que parecia provir lá de baixo, do porto. O pai ergueu-se, saiu e intimou-o a ficar.

Regressou, passado pouco tempo com um ar divertido, sorriso nos lábios.

          - Que se passa? - perguntou a mãe.

          - Está lua cheia. A maré inundou o cais. Os que lá dormiam acordaram encharcados.

          - A festa parece ter recomeçado!  -  segredou Tanis, de ouvido à escuta.

          - Creio que não vai durar muito mais. - adiantou o pai - Já estão todos exaustos.

          - Exaustos?! - exclamou a mãe, com o seu particular sorriso de dislate.


*

          - Pai?

          - Sei, filho, e acho que vou precisar de ti.
            Ouviste rumores ali para os lados do armazém, foi?

          - Foi, sim, meu pai.

Tanis foi solicitado a partir para uma empresa de adultos.

O pai pediu-lhe que saísse com a maior das cautelas, virasse à esquerda, e fosse à casa de Baki informá-lo de que o pai iria reunir homens nas traseiras do armazém e que Baki deveria fazer o mesmo lá em baixo.

Ao som de um assobio que imitasse uma coruja, deveriam partir em fila cerrada a caminho do armazém.

Quem fosse encontrado entre as duas filas deveria ser aprisionado por tentativa de assalto.

Em breve, junto de Baki e outros homens, organizados em extensa fila, Tanis aguardava o assobio do pai.

Ao som do assobio, partiu com os homens.

O coração de Tanis parecia querer saltar-lhe do peito. Em passo seguro, caminhava em direção ao armazém.

Passado algum tempo avistaram, por trás do armazém, a outra fila, que se aproximava em sentido contrário.

Nada de anormal.

Mas quando chegaram junto do armazém, cuja porta se encontrava entreaberta, depararam com um corpo inanimado, estendido no chão, caído de costas.

Era Melkat, sem vida, com uma enorme ferida na cabeça.

No chão havia uma poça de sangue.


*

          - Pai. Para uma ferida como aquela seria necessário um machado de bronze, não achas?

          - Sem dúvida, meu filho. Mas há vários machados de bronze por aí.

          - Achas que o assassino seria alguém da nossa aldeia?

          - Duvido, pois o armazém é da coletividade e qualquer um pode usá-lo a seu critério.

          - Poderia ter sido em legítima defesa.

          - Não creio, meu filho. Por aqui já todos conheciam Melkat e consideravam-no um amigo.

          - Mas o machado que o matou teve de ser limpo ou então ainda terá vestígios de sangue, não é, meu pai?

          - Vai a casa descansar a tua mãe, dizendo-lhe que estamos bem e que eu já lá irei.

Tanuk, o pai de Tanis, desceu até ao cais e aproximou-se da sentinela de serviço.

          - Gostaria de falar com o comandante, por favor.

          - O comandante saiu e ainda não voltou, senhor.

          - Poderei falar com quem o substituiu?

       - Ninguém o substituiu, senhor. Na ausência do comandante ou de quem está a exercer essa função, passa a comandar o que lhe estiver a seguir na ordem hierárquica.

          - Posso então saber quem é?

          - O segundo comandante, que também saiu e ainda não voltou. Saiu até antes do comandante.

          - Mais alguém saiu, entretanto?

          - Mais ninguém.

          - Tem a certeza?

      - Absoluta. Mesmo que alguém tivesse saído sem ser por esta escada que eu vigio, tê-lo-ia avistado sobre o cais.

          - Posso falar com quem está agora no comando?

          - Se ele estiver disponível, sim. Um momento.

A sentinela deu instruções em voz alta para o barco.

          - Chamem o oficial de serviço.

Tanuk ouviu chamar por  Radir, provavelmente o oficial de comando.

Quando Radir se apresentou, Tanuk, em voz baixa, inteirou-o do que se estava a passar.

O homem parecia ter ficado sem pinga de sangue. Lívido.

Tanuk perguntou-lhe:

          - Vocês costumam usar machados de bronze?

          - Eu tenho um, por sinal, mas não conheço qualquer outro a bordo.

          - Não se importa de mo mostrar?

          - Oh! - exclamou, com as mãos apertando a cabeça.

          - Que se passa, homem!?  - disse Tanuk, tentando acalmá-lo.

          - Não o tenho comigo. Alguém o roubou. Dei por tal há minutos.

*

Enquanto Radir e Tanuk conversavam, a mulher de Tanuk, Anorah, aproximou-se.

          - Que te traz por estes lados?

          - Creio ter ouvido Tanis a chamar o cão e agora não encontro nem um, nem outro.
         Estou preocupada, porque ele não disse nada e interrogo-me sobre sobre a razão que o terá levado  a vir buscar o cão e não me ter avisado.

          - Estranho! - exclamou Tanuk.
            Anda. Vem comigo.

Tanuk começou  apressadamente a subir a encosta e a dado momento teve que se voltar para trás, esperando por Anorah e disse-lhe:

          - Eu vou apressar-me. Vem no teu passo. Vou na direção do desfiladeiro; tenho um palpite.

A alguma distância do desfiladeiro ouviu ladrar e apressou-se, quase corria.

A dado momento avistou o que procurava.

Quase à beira do precipício, de frente para ele, um homem, provavelmente o segundo comandante, e de costas seu filho, Tanis, que segurava o cão, em fúria, e mantinha o marinheiro imobilizado, junto do precipício.

Aproximou-se.

A lua cheia permitia divisar bem a cena. O marinheiro tinha numa mão um machado de bronze e na outra um certo volume que não conseguia identificar.

Muita gente começou a aproximar-se.

A dado momento o marinheiro deu alguns passos atrás e colocou-se à beira do precipício.

          - Tenha calma, homem, não há nada que não se resolva. Vamos conversar.

Quando falou deu um ligeiro passo à frente.

O marinheiro lançou ao chão o machado e o volume que tinha na outra mão.

Tanuk parou.

          - Venha! -  disse Tanuk - tudo tem solução.

O marinheiro deu mais um passo atrás e precipitou-se.


*

Tanis entregou o cão ao cuidado do pai e foi recolher o machado e a outra peça, caídos no chão.

O machado seria devolvido a Radir, o novo comandante da trirreme, ancorada no cais.

A outra peça não era senão a MÁSCARA DE OURO, o símbolo identificativo da comunidade, até então incrustado num pedestal de madeira de cedro, e que se dizia ser oferta dos deuses aos primeiros habitantes deste lugar.

Grande festa se preparava no cais, em homenagem a Tanis, o rapazinho de Cilpes, o herói que salvou de perda definitiva a Máscara de Ouro.

A festa foi também de despedida da tripulação da trirreme, na pessoa do seu comandante, Radir, que pela manhã seguinte, bem cedo, partiria de regresso a Cartago.

Tanis foi levado em pé, sobre um estrado, como um andor, apoiado em dois suportes de madeira, a que se sustinha, até junto da porta da sua casa.


*

Mais tarde, na noite, a mãe veio deitar-se junto dele para que adormecesse.

A mãe sabia que sem a sua presença ele não conseguiria conciliar o sono, depois de tanta aventura.

Abraçou-o, beijou-o ternamente e disse-lhe ao ouvido, em voz muito baixinha, quase num sussurro:

          - Tanis, meu querido filho, és o herói de Cilpes, e estarás sempre no coração do teu pai e da tua mãe.


Fim
Conto de:
António Baeta Oliveira
http://blogal.blogspot.com
https://www.facebook.com/baeta.silves


segunda-feira, julho 28, 2014

Telhados






Foi esta minha foto que me sugeriu o tema, se bem que de telhado já pouco há; restam algumas telhas.

Como esta, há pela cidade dezenas de situações semelhantes.

A cidade envelheceu e os "novos" prédios de apartamentos, construídos ao longo dos anos 70 nas zonas onde, em enormes quintais murados, se guardava a cortiça em prancha, ainda por laborar, absorveram a migração das pessoas que abandonaram as velhas e tradicionais casas de família na zona do centro histórico e zonas adjacentes.

São essas casas que, agora destelhadas, se encontram ao abandono.

Na maioria das situações os passantes nem se dão conta do estado destas casas, pois as fachadas, apesar de envelhecidas, não apresentam o ar de ruína dos telhados. Mas para os que , como eu, se põem a olhar pelas fechaduras, pelos vãos das portas, pelas janelas entreabertas, sabem bem como a Natureza tomou conta do interior das casas, com ervas e destroços.

Esta ruína, um dia tomará conta das fachadas e nessa altura serão dezenas de casas em perigo de ruína iminente, como se a cidade subitamente envelhecesse.

Há que prevenir esta situação com uma boa antecedência. Um estudo, seguido de um plano de abordagem da situação, já deveria ter sido iniciado.

Sabemos que os executivos têm prazos diminutos e que há muitas e variadas coisas a que têm que dar atenção. Os seus prazos de vigência não comportam planos de médio e longo prazo, mas deveria haver entendimento entre partidos para a elaboração de um estudo desta natureza, ou mais cedo ou mais tarde, terão entre mãos um problema com que não poderão lidar.

Aí então será tarde.


segunda-feira, julho 21, 2014

Chaminés





Esta chaminé teve a oportunidade de chamar a atenção sobre si devido ao infortúnio do telhado desta casa e até da própria casa, atingida pela velhice e pelo abandono.

Sem a queda do telhado ela mal seria avistada da rua e mesmo que o fosse não chamaria a atenção de ninguém. 

Que importância tem uma chaminé, quando há tantas? Pelo menos uma em cada casa e as casas são tantas numa cidade, por pequena que a cidade seja.

Você é capaz de descrever a chaminé da sua casa?

Quantas pessoas numa cidade serão capazes de o fazer com algum pormenor?



E já pensou na importância de uma chaminé? 

Ela é o escoadouro de fumos, de cheiros, de humores, de palavras mais ou menos gritadas, por desespero, por raiva, por alegria. 

Por elas passam cantos e exclamações que mais ninguém ouviu. Por ela se renova o ar que se respira. 

As chaminés são mesmo indispensáveis numa casa, mesmo quando no exterior não se apresentam com a aparência desta, na foto, e se resumem a um simples tubo ou bocal.

As nossas chaminés cá do sul, as algarvias, até são famosas pelos recortes e estilizações e pela cuidada brancura que a cal lhes confere.

São vaidosas.



Esta outra chaminé, por exemplo, é bem vaidosa.

Apreciem bem como se estica, como se eleva, na pretensão de atingir a altura das muralhas mais altas do castelo.

É como se soubesse como ficou bem na fotografia, rivalizando com a outra, pretensiosa na sua aparência, mas que ficou bem mais abaixo, já lá no limite do telhado.

É certo que a perspetiva desempenha aqui um papel de relevo, pois nem as muralhas são tão baixas, nem as chaminés tão elevadas, mas isso já é por conta da câmara fotográfica e do olhar do fotógrafo, que até inscreve na própria foto ramos de árvores mais altas que o castelo e que as próprias chaminés, mas que, na realidade se ficam bem mais abaixo do que o mais baixo dos telhados.

O olhar tem destas coisas enganosas e as chaminés aproveitam-se destas circunstâncias para se mostrar, quando não são os fotógrafos a querer chamar a atenção para as coisas que o nosso olhar de todos os dias acaba por não ver.

Hoje dispus-me a prestar-lhes esse favor.

Que vivam as chaminés, que hoje aqui  estiveram para lembrar que há muita coisa que todos os dias avistamos e parece não ter importância, só porque o nosso olhar não atingiu ou não prestou atenção.

E estivemos a falar de coisas. Como seria se falássemos de pessoas?

Há na realidade muitas pessoas que todos os dias avistamos sem dar por elas e são essas as que provavelmente mais precisariam que as tivéssemos visto com outro olhar.

Vamos ser mais atentos?!




segunda-feira, julho 14, 2014

Há que olhar ao chão que se pisa







Não acredito muito nesta premissa contida no título, cujo sentido ultrapassa o mero cuidado com o chão e pode mesmo atingir o nível do preconceito e da afirmação de superioridade em relação a outros (supostamente inferiores perante o superior), mas acho que devemos mesmo ter atenção ao chão que se pisa, por variados motivos: pode estar enlameado, mal nivelado, esburacado, conspurcado, ou antes possuir sinais de advertência ou de intenção de embelezamento, como o dos arranjos da chamada "calçada portuguesa" ou os tais pequenos paralelepípedos decorados a tinta e mesmo a fios de lã, como já tenho avistado por aí.

O chão da fotografia passa a ideia de um chão irregular e incómodo, mas quem o percorre sabe que não é assim e que até faculta alguma firmeza no andar, sem erosão significativa da sola do calçado e é até permeável, garantindo o regular escoamento da água após as chuvas ou lavagens, enriquecendo o subsolo com a humidade que deixa passar e evitando as águas de escorrência em demasia.

É pena que o nosso caminho, vida fora, raramente se nos apresente com as vantagens desta calçada sem sobressaltos e até há épocas, como a que agora vimos a atravessar, que lamentavelmente se fecham às ambições e aos esforços dos que se prepararam para enfrentar uma vida melhor do que a de seus pais ou ainda aos que trabalharam toda uma vida na esperança de uma velhice como uma "calçada sem sobressaltos" e se veem  com as solas rompidas pelo mau caminho.

Temos que olhar ao chão que se pisa e exigir uma calçada que não dificulte tanto os nossos melhores esforços e que nos mereça os sacrifícios que nos impõem e a que nos impomos.

Saibamos usar os nossos direitos de cidadania e reclamar uma "calçada" melhor.

terça-feira, julho 08, 2014

segunda-feira, julho 07, 2014

Compulsão






Interrogo-me sobre esta compulsão que faz com que as formigas se organizem em coletivo, de forma a garantir um determinada finalidade.

Sofreremos nós, também, algum efeito compulsivo que, de tão habituados ao nosso livre arbítrio, nem demos por tal?

Muito plausivelmente as formigas nem se dão conta disso, mas procedem em conformidade.

Estou agora a pensar na fábula da cigarra e da formiga, que usa estas duas espécies para contrapor a preguiça aos valores do trabalho, como se a cigarra não tivesse que se esforçar para  a obtenção do seu alimento. É que as formigas o fazem desta forma que nos parece penosa, enquanto a cigarra "canta".

Eu detesto ser um indivíduo, desde que me entendo como pessoa.

De tal maneira isso está presente na minha natureza libertária que desconfio compulsivamente das maiorias e é com dificuldade e algum recuo que me integro em coletivos, e se provisoriamente o faço, ainda que de "alma e coração", a minha experiência revela que não me fixo de todo. 

E esta minha atitude mostra-se-me compulsiva, se de alguma forma reflito sobre ela, como o estou a fazer agora.

Tenho esta natureza libertária, apesar de todas as prisões a que me sujeito no dia a dia, muitas vezes com gosto e com prazer.

Deve ser alguma compulsão que recuso reconhecer, já que entendo o efeito gregário como uma necessidade egoísta de satisfação das minhas necessidades mais diversas.

Gosto muito de estar só, mas não aturo isso por muito tempo.

Deve ser essa tal compulsão gregária. :)



segunda-feira, abril 07, 2014

Os balaústres






Os balaústres são elementos arquitetónicos perfeitamente dispensáveis; a sua utilização é meramente decorativa.


Na foto acima em vez dos balaústres poderia haver um simples muro, com decoração, ou tão somente  essa mesma abertura, cujo vão poderia ser suportado por outro elemento arquitetónico, sem recurso ao balaústre.



Mas o balaústre é um elemento simpático, elegante, não só na forma, como também na natureza dos materiais comummente utilizados. Daí a sua frequente utilização ao longo dos tempos. 



Em Silves, se olharmos com atenção vê-los-emos com frequência em edifícios de várias épocas e tendências estilísticas.



A política, mais no sentido da jogo partidário, do que propriamente no seu sentido etimológico, usa demasiados balaústres; quero significar, como descrevi acima, elementos meramente decorativos.



Esses balaústres políticos assumem o poder, que deveria ser exercido por políticos capacitados para gerir a vida em sociedade, como fantoches, elegantes, que se colocam em lugares que necessitam de ser preenchidos para um determinado desempenho, mas que só lá estão para fazer figura, como os balaústres da arquitetura, para suportar um vão.



Preenchido o lugar, fixam-se por tanto tempo quanto possam, iludindo com a sua aparência os que confundem a política com o futebol, apoiando de olhos fechados o seu clube predileto e o treinador responsável, zangando-se quando os resultados não satisfazem, mas apoiando sempre o seu clube favorito.



E isto tanto se passa a nível nacional como a nível local.



Continuamos a votar nos "clubes" favoritos sem ter em conta as propostas, os projetos, a capacidade das pessoas que se propõem cumpri-los, sem ter em conta os balaústres que só lá estão para preencher as vagas necessárias, os vãos.


quinta-feira, abril 03, 2014

E não vai ser fácil, não.




Estrada rural, a montante da margem esquerda do Arade.


Onde nos conduz esta velha estrada, que simula dirigir-se ao céu?

Quis percorrê-la, devagar, como quem busca.

Encontrei quintas abandonadas, muros desfeitos pelo abandono, pela incúria e pelo tempo.

Vivemos numa sociedade que mudou. Mudou tão profundamente que já não há capacidade para manter uma propriedade como estas; e se porventura houvesse oportunidade para uma destas propriedades, já não haveria para as outras.

A sociedade mudou, mas as pessoas não mudaram com ela; desadaptaram-se.

E agora a desadaptação vai necessitar de uma mudança de paradigma, que esta nossa crise prolongada já prenuncia.

E não vai ser fácil, não.


terça-feira, abril 01, 2014

Última hora!




SILVES: Pormenor da fachada dos Paços do Concelho.



O coletivo da Câmara Municipal de Silves demitiu-se.

A Câmara viu-se desautorizada com as intervenções sucessivas da GNR sobre os caravanistas e decidiu por unanimidade demitir-se, provisoriamente, até que o Governo da República encontre uma solução que defina as responsabilidades que competem a cada um destes poderes.

Foi solicitada uma resolução que não ultrapasse o dia de hoje.



quinta-feira, março 27, 2014

Nós não vemos com os olhos















O título é propositadamente um desafio, mas de facto nós não vemos com os olhos, mas sim através dos olhos.

Na escuridão completa nada se vê, por que o que vemos, vemos através da luz refletida nos objetos e é essa luz que o nosso cérebro interpreta.

O orgão que de facto vê, ou nos dá a ver, é o nosso cérebro, ao interpretar a luz que lhe chega através do nosso olhar.

É claro que a interpretação cerebral é tanto melhor quanto melhor informação for filtrada pelos olhos. Com bons olhos vê-se melhor do que com olhos com deficiência.

Com um cérebro habituado ao exercício de pensar, o que depende sobremaneira da quantidade e da qualidade da informação recebida, tanto mais profunda e complexa é a interpretação que se faz da imagem ou imagens que afluem ao cérebro.

Uma cadeira é uma cadeira, mas perante duas cadeiras diferentes já duas pessoas podem ter ideias diferentes sobre essas cadeiras, gostando mais de uma do que da outra, por razões que nada terão a ver com as cadeiras em si, mas sim com a maneira como apreciamos o belo.



Quando se trata de objetos de arte, já a informação que se tem sobre a história da arte ou os conceitos estéticos que preenchem a nossa informação serão tanto mais importantes quanto a quantidade ou qualidade da informação que se tem a tal respeito.

Quem pouco frequenta galerias de arte ou exposições terá certamente um gosto e uma capacidade de interpretação inferior aos que são frequentadores assíduos e informados.





















A arte muda com o tempo e quem não acompanhou esse percurso histórico irá ter dificuldade em entender a arte contemporânea, pois ela já não se preocupa com a representação dos objetos, mas mais com  as impressões sensoriais transmitidas pelas formas, pelas cores, pela composição... e outros conceitos ao longo do tempo irão sempre mudando o nosso olhar sobre as coisas.



quinta-feira, março 20, 2014

Quase se pode dizer: "Esta cidade vegeta".




Ruína de Fábrica de Cortiça em Silves.
A Natureza toma conta do abandono

Esta ruína foi um dia, em finais do séc. XIX, a maior unidade industrial do país.


Não com esta dimensão, houve muitas outras fábricas, de dimensão considerável, nesta localidade - Silves.



A macrocefalia da capital acabou por chamar a si todas estas fábricas a instalar-se na margem sul do Tejo. A Salazar também não deveria agradar esta elevada concentração operária, com experiência de luta acumulada sob a ideologia do anarco-sindicalismo e distante dos grandes meios de repressão.



Para os proprietários destas fábricas, os custos de exportação, com transporte até à capital, não lhes traziam vantagem. Havia também uma crise internacional na sequência de duas guerras mundiais.



Uma após outra, as fábricas começaram a incendiar-se, os proprietários obtinham o valor do seguro e partiam a instalar a sua fábrica na região da macrocéfala Lisboa, levando consigo todos os especialistas, da área da produção como da área administrativa, num sangradouro que levou as fábricas, os operários, o capital e o trabalho.


Os grandes e belos edifícios que ainda hoje permanecem no âmago da baixa silvense, bem como praticamente toda a rua Cândido dos Reis, erguida na altura da implantação industrial, com fábricas e residências de proprietários e quadros administrativos, e os bairros operários das cercanias, são fruto dessa época de esplendor.

Hoje já não há indústria corticeira.

Assistimos à degradação das fábricas abandonadas, receamos o futuro da maioria dos edifícios de maior porte e passeamo-nos tristemente numa cidade sem vida e sem perspetiva de futuro, que se vai entretanto mantendo com base na vida administrativa das escolas, do tribunal, das finanças, da autarquia, dos serviços e de restaurantes que servem parte desta gente que nem sequer vive na cidade.

Há por aí um turismozinho de meia tigela, que vem de autocarro e até de barco, que sobe ao Castelo e à Sé e se vai embora.

Ficam umas migalhas de gente no hotel ou caravanistas, nestes últimos tempos, enquanto a cidade dorme, embalada na nostalgia do seu passado ou no mito do desassoreamento do rio, que quando muito traria mais uns quantos turistas além dos dos autocarros e dos que já vêm de barco.

É a cidade que precisa de mudar por dentro.

Falta-lhe uma estratégia, como a que, no passado, levou à implantação da indústria corticeira. 

No Algarve, com uma Universidade na região, estou em crer que se poderia dar por bem empregue o investimento num estudo estratégico.

Esta é a minha proposta e é gritada com urgência. Há por aí mais alguma?



segunda-feira, março 17, 2014

A boia






A boia, boia.

Presa a uma corrente metálica, oscila conforme a corrente do rio.

O local onde a boia está presa é mais fixo do que a própria boia, apesar da intenção de se manter a boia presa.

A boia assinala a presença de algo que se quer saber onde se encontra, mas a boia não se encontra no local preciso que se pretende identificar através da posição da boia.

Já tinham pensado nisto? Eu ainda não e provavelmente nunca chegaria a pensar sobre tal coisa se não tivesse resolvido escrever sobre a boia que resolvi fotografar.

Mas o facto é que isto acontece com muitas e variadas coisas. 

Pensemos, por exemplo, no governo, que nos deveria governar e nos desgoverna, subtraindo rendimento ao nosso rendimento, em nome do nosso governo, para com tal subtração, supostamente, nos governar melhor, mas não governa.

Ora o governo não governa, mas a boia boia. Certo?!

Viva a boia! Abaixo o governo!


quinta-feira, março 13, 2014

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (XIV)




Imagem de Ibn Qasi em:
http://www.nova-acropole.pt/a_ibn_qasi_rei_iniciado.html


Após o assassínio de Ibn Qasi, em 1151, a cidade de Silves passou a ser governada por Ibn Al-Mundhir, um cavaleiro murida que já conhecemos de episódio anterior.

Este governo teve, no entanto, uma curta duração, pois Al-Mundhir entrou em conflito com Ibn Wazir e acabou por ser derrotado.

Ibn Wazir tornou-se senhor de Silves.

Em 1156, o governador de Sevilha pede ao emir dos almoadas, 'Abd al-Mu'min, que lhe envie um dos seus filhos, de forma a assegurar o governo da cidade. O emir envia o seu filho Abu Iaqub.

Este, faz a sua primeira campanha sobre Tavira e nesse mesmo ano de 1156 ocupa a região sob o domínio de Ibn Wazir, tomando Évora e Beja.

Ibn Wazir fica assim reduzido à posse do território de Silves.

Em 1157 Ibn Wazir é expulso de Silves pelo exército de Abu Iaqub, e assim todo o território de Silves e do Gharb fica definitivamente sob o poder almoada.

O sonho de Ibn Qasi e dos seus cavaleiros muridas acabou às mãos dos almoadas, a quem Ibn Qasi tinha pedido que viessem ajudá-lo, contra o poder dos almorávidas.

Curiosamente, um século antes destes episódios, já tinha sido Al-Mu'tamid quem se dirigiu ao emir dos almorávidas, a pedir apoio na luta contra os cristãos, e acabou subjugado ao poder dos que o vieram ajudar.


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Garcia DominguesHistória Luso-Árabe, edição do Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves, 2010

António Borges CoelhoPortugal na Espanha Árabe, vol. 2 - Editorial Caminho


Ibn Qasi, o rei iniciado do Algarve e seus Discípulos Muridinos, in A Nova Acrópole

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Se estiver interessado na leitura dos episódios anteriores, siga os links abaixo:



Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (I)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (II)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (III)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (IV)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (V)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (VI)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (VII)




Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (XII)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (XIII)




segunda-feira, março 10, 2014

Atirados para a margem






O rio é uma corrente que, implacavelmente, arrasta ou contorna os obstáculos até atingir o mar ou, simplesmente, atira para as margens o que se afasta do seu curso principal.

O rio é um pouco como a vida; a nossa vida.

Dia após dia somos arrastados pelos condicionalismos e pelas nossa opções para os enfrentar, e se não seguirmos a corrente ver-nos-emos atirados para a margem.

Como um rio, a corrente é forte e condiciona logo à partida de acordo com a origem social, condicionando o rendimento nos estudos, mais tarde o tipo de emprego e o valor da remuneração, vem depois a idade, eventualmente o desemprego e somos, muitos de nós, inelutavelmente atirados para a margem.

Em tempo de crise a vida corre como um rio em hora de tempestade e tudo se acelera, arrastado pela corrente.

As margens enchem-se de detritos, dos que não encontram um emprego, dos que o perderam, dos que adoeceram, dos que envelheceram, dos que perderam a casa, os haveres, dos que foram atirados para margem.

E o rio continua inexoravelmente indiferente.

quinta-feira, março 06, 2014

Abandonado






Sempre achei que gostaria de ter um barco.

Passo todos os dias junto ao rio e seria agradável, sempre que a maré o permitisse, passear rio abaixo, rio acima...

Duvido, no entanto, que fosse capaz de o manter conservado com os cuidados indispensáveis de pintura e outros arranjos que admito que existam, mas que não sei bem quais serão. 

Nunca me ocupei em trabalhos que exigissem habilidade manual, pois sou um desastrado quando necessito de usar as mãos para fazer o que quer que seja, para além das necessidades mais usuais do dia-a-dia.

Mas ter um barco exige atenção e trabalho de manutenção.

Muito provavelmente, se tivesse possuído um barco já lhe teria acontecido o mesmo que sucedeu a este e me parece que vai acontecer com mais alguns que por aqui vejo encostados ao cais.

Muito me engano ou o meu barco seria um barco abandonado como o da foto e não suportaria vê-lo ali, a "morrer" no próprio meio onde, seguramente, o seu dono se divertiu com ele e foi feliz.

Falo de um barco...


segunda-feira, março 03, 2014

A marca de água e a marca da água







A chuva marca a sua presença na janela do quarto.

Observar a chuva na janela, deitado na cama, não produz na mente, ainda meio adormecida, a mesma vaga de sensações e considerações que produziria se estivesse a pé, apesar de ainda meio adormecido.

A cama, assim como a água, são meios envolventes, onde habitualmente relaxamos o corpo e com ele a mente, no sono ou no banho.

O vaso de flores, espetral, desfocado pelo enfoque das gotas da chuva, recria uma marca de água, esse ténue sinal que subsiste num plano mais remoto, afastado do tema principal, mas cuja presença, se bem que secundária, desperta uma atenção que diria, talvez, mais exigente, a solicitar uma interpretação que não se evoca num primeiro olhar.

Apesar disso são as gotas de água que deixam a marca principal; a marca da água.

Ou não estivesse na cama a observar a chuva na janela e não o vaso das flores, que é tema sempre presente, com ou sem chuva.


quinta-feira, fevereiro 27, 2014

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (XIII)




Estátua de Ibn Qasi em Mértola

No último episódio Ibn Qasi encontrava-se de visita a 'Abd al-Mu'min, senhor dos almoadas, solicitando apoio militar no combate aos almorávidas.

Nesse encontro, em Salé, em  setembro de 1145, Ibn Qasi persuadiu-o a invadir o al-Ândalus, sob o comando do general Barraz.

Desembarcam na Península e conquistam Tarifa e Algeciras, duas povoações estratégicas.

Ibn Qasi não perde tempo a avançar em direção ao Gharb e nessa viagem passa por Jerez, onde o senhor local lhe presta homenagem, o mesmo vindo a suceder em Niebla.

Recebe dois reforços militares enviados pelo emir dos almoadas, retoma Silves e Mértola, e submete Beja, Badajoz e o rebelde Ibn Wazir ao poder almoada.

Regressa então a Mértola onde passa o inverno com o exército vindo do Norte de África.

O poder almoada começa a instalar-se no Gharb, afastando os almorávidas e Ibn Qasi começa a receber notícias, que o contrariam, a propósito de atitudes opressivas e perseguições de chefes almoadas sobre as populações do Gharb. O senhor de Niebla, al-Batruji, que tinha prestado vassalagem a Qasi, vê-se destituído do seu poder sobre esse território, numa cilada cometida durante uma visita que efetuara a Sevilha. Segue-se uma série de dissidências, por ambições de poder que percorrem o Gharb e se refletem no Norte de África.

A situação atingiu tal ponto de rutura que 'Abd al-Mu'min, senhor dos almoadas, exigiu que todos os responsáveis pelo poder almoada renovassem pessoalmente, junto dele, os seus votos de vassalagem.

Ibn Qasi não vai, afirmando o seu direito à independência.

O seu reino fica debilitado face à ofensiva dos almoadas, por um lado, e a dos cristãos, por outro, que já se aproximavam conquistando Lisboa, Santarém e Alcácer, entre outras.

Aposta então, estrategicamente, numa aliança com os cristãos.

Afonso Henriques oferece-lhe um cavalo, um escudo e uma lança, afirmando essa aliança.

Os almoadas tentam abater Ibn Qasi, visando quebrar esta sua aliança a Norte.

Um grupo de conjurados consegue iludir a vigilância penetrando na alcáçova de  Silves, residência de Qasi, e assassinam-no no famoso Palácio dos Balcões, o Xarajib.

A seguir decapitam-no, espetam a sua cabeça na lança que Afonso Henriques lhe oferecera e passeiam-no, gritando "Eis, o Mahdi dos Cristãos!"

Corria o mês de agosto de 1151.



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Garcia DominguesHistória Luso-Árabe, edição do Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves, 2010

António Borges CoelhoPortugal na Espanha Árabe, vol. 2 - Editorial Caminho


Ibn Qasi, o rei iniciado do Algarve e seus Discípulos Muridinos, in A Nova Acrópole

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Se estiver interessado na leitura dos episódios anteriores, siga os links abaixo:



Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (I)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (II)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (III)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (IV)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (V)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (VI)

Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (VII)




Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (XII)



segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Caravanistas que há anos visitam Silves foram expulsos do parque




Na passada sexta-feira deixei na minha página do facebook (clique) este texto e esta imagem:




"Estas esplanadas, habitualmente bem preenchidas de gente, hoje apresentam-se vazias.




Os caravanistas, que há anos frequentam a nossa cidade, foram mandados sair do parque ribeirinho pela GNR, cedo pela manhã.




A falta de 300 caravanistas vai fazer-se sentir.



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Na referida página do Facebook, acima, é possível consultar dezenas de manifestações de cidadãos que se pronunciaram desgostosos com a situação criada.




Muito provavelmente, quando a notícia começou a passar de boca em boca, acabou por merecer um comunicado por parte da Câmara Municipal de Silves.




Ei-lo!



No dia seguinte, pela manhã, no meu regular passeio pelo parque, com o meu Doggy, verifiquei a existência de caravanas no parque a nascente das Piscinas, normalmente ocupado por caravanistas de passagem.

















Já no parque acima, junto à FISSUL, o panorama era o seguinte:


















Em vez das habituais caravanas, de turistas que aqui vêm há anos e que nos teriam merecido o maior respeito, o parque, de resto vazio, estava ocupado por estes autocarros que serviram à deslocação de muitas centenas de escuteiros que aqui promoveram um encontro regional na FISSUL.

Não quero acreditar que a pesada logística de integrar centenas e centenas de escuteiros não fosse do conhecimento da Câmara Municipal e não tenho dúvidas de que os caravanistas que aqui estavam foram expulsos para abrir lugar a estes autocarros.


Quero significar que o comunicado da Câmara Municipal evitou referir esta situação e essa omissão ganhou um significado que eventualmente não tinha.


Posso estar enganado ou então a Câmara Municipal está muito mal informada ao não ter conhecimento de iniciativas desta grandeza.