- As hespérides são moças algarvias
E em parte alguma encontramos a fina areia doirada
que os pés nus das deusas podiam pisar com delícias.
Teixeira Gomes: Agosto Azul
Ao descrever o Promontório Sagrado, ou cabo de
S. Vicente-Sagres, diz Estrabão, fundando-se nas
palavras de Artemidoro: "... que ali não é permitido
sacrificar, nem ir de noite àquele lugar, porque se
assevera que os deuses estão lá, então."
José Leite de Vasconcelos: Religiões da Lusitânia
No Garb realça o azul deuses morenos
À doçura dos figos submetidos.
Vieram gregos. Ficaram Sarracenos.
Nardos enfolham seus nomes esquecidos.
À noite ordenham luas nos terraços,
Dão leite à sombra. Abrolham os perfumes.
Silêncio. Só de um lírio ouvem-se os passos.
Madruga a pesca, rompe um mar de lumes.
Esvoaçam suas túnicas de abelhas
Entre vinhas, seus bêbados recintos;
E quando a amendoeira nas orelhas
Põe flores, deram-lhe os deuses esses brincos.
Vem de turbante o sol e toma posse
De corpos, cactos, milhos e vinhedos.
Excita o açúcar na batata-doce
E despe as almas gregas dos penedos.
Ouro firme, crepúsculos de cinabre
Senhorio de azul. Balcões mouriscos.
Ferve a prata na pesca. O cheiro abre
No ar quente uma vulva de mariscos.
Jardins de Hespéria? Ninfeu de ondas macias,
O mar. As ninfas guardam os pomares.
As hespérides são moças algarvias
Todas jasmim, da testa aos calcanhares.
Garb de praia pele magia e lendas,
Branco de extasiadas geometrias.
Absorto o tempo. São gregas as calendas
Com pálpebras de mouras gelosias.
Laranjas, cal, areia e rocha ardente
têm sede da luz que dá mais vida.
Índigos deuses. Ardor. Tudo é presente.
Causa clara de beira-mar garrida.
Natália Correia
Neste lugar onde os Deuses
Poesia Completa. Publicações Dom Quixote, 1999
Adosinda Providência Torgal
Madalena Torgal Ferreira
ALGARVE todo o mar
(Colectânea)
Dom Quixote, Lisboa 2005
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