quarta-feira, outubro 27, 2010

Variações sobre o ritmo do vento


Teresa Matias, jovem natural do Algarve, licenciou-se pela Escola Superior de Música de Lisboa, depois da frequência do Conservatório Regional Maria Campina, em Faro, onde desde os 6 anos de idade aprendeu ballet, piano e o instrumento que escolheu e em que se especializou, a flauta de bisel.

Ela confessou-nos que é um instrumento com certas limitações e, à exceção da Música Antiga, tem um repertório pouco extenso para o seu ânimo e para a sua necessidade de expressão artística.

Em certo momento da sua vida decidiu expandir horizontes e conhecimentos e foi admitida, depois de prestação de provas e após madura reflexão, no Conservatório de Amesterdão, na classe de Paul Leenhouts (Amsterdam Loecki Stardust Quartet).

É aí que tem o seu primeiro contacto com as mais contemporâneas formas de expressão musical e concentra o seu projeto pessoal na música eletroacústica e na reflexão sobre a performance musical segundo uma estética sonora da nossa atualidade.


Noise (clique, para se inteirar do conceito) é um dos estilos musicais com que Teresa nos surpreendeu, particularmente pela utilização de uma flauta de bisel absolutamente estranha para mim e creio que para todos os que me leem. (Vejam a foto sobre a direita)

Noise, apesar de alguns sons mais ou menos estridentes, é música, numa forma de expressão minimal.
Nas situações que utilizou no seu concerto, a inspiração teve por base sons da natureza, que em si mesmo não são "musicais" no sentido estrito do termo, mas que nos passam essa sensação rítmica da sonoridade do vento, como na peça que Teresa interpreta nesta foto acima.

É importante que se diga que esta estética sonora não vivencia os conceitos da estética tradicional, aristotélica, como a beleza e  a harmonia, baseadas no compreensível e no agradável, mas antes pelo contrário os contesta.

O meu primeiro contacto com estas tendências musicais aconteceu com os Miso Ensemble  há mais de 20 anos, desde um concerto no Teatro Mascarenhas Gregório, em Silves, e não me foram de todo estranhos estes sons que a Teresa nos trouxe com tanto empenho e tanto entusiasmo.

Como informação mais detalhada, informo que o concerto, sob o título genérico que dá o nome a este post, tinha o subtítulo "Noise e Minimalismo para um solista" e o programa contou com:

Austro (1991-1993) Giorgio Tedde (nasc. 1958)
Armilla (2010) Teresa Matias (nasc. 1978)
O Ermita junto à água (1993) Isang Yun (1917 - 1995)
4 Variazioni sul ritmo del vento (1995 - 2007) Agostino di Scipio (nasc. 1962)

Foi um prazer esta audição e instrutivo o diálogo com os espetadores presentes.

Espero que também vos tenha despertado algum interesse por este tipo de música e isso ajude a quebrar alguma frieza ou preconceito, abrindo a mente ao novo e ao desconhecido, de forma a permitir que a sensibilidade seja tocada por novas sensações. A música é um campo inesgotável.

P.S.
Em alguns links é possível a audição de composições dos autores citados.

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