Estes muros caiados de branco passam-me quase sempre uma sensação de pertença, como quando, de viagem, os reconheço nestas paragens do sul, ou quando regresso à minha terra vindo de terras do norte.
Até que chegue de novo a hora de a caiar, a parede, à sorte
dos elementos, ganha esta crosta como a da pele enrugada das mãos dos mais
velhos.
E quando caiada, bem branca, os nossos olhos quase não
suportam a luz que dela emana.
E por isso a cal é branca;
para afastar esse calor esbraseado do meio-dia de todas estas casas tão
semelhantes entre si à volta desse mar fechado.
É que à volta desse mar e da sua proximidade somos todos
vizinhos de passado comum e herdeiros de saberes partilhados no uso dos
materiais, das técnicas, dos processos, como se tivéssemos sido aprendizes dos
mesmos alarifes.
E as estreitas aberturas, quase postigos a proteger do sol e
do olhar dos outros, e não janelas, abertas ao exterior? Aqui a casa é da
família; a rua é de todos.
Neste mundo mediterrânico, apesar da imensa diversidade de
culturas e religiões, que se batem e guerreiam pela verdade que reivindicam
para cada uma, apesar das diferenças culturais e civilizacionais, há um
substrato que permite reconhecermo-nos uns aos outros, desde a margem que vai do
sul de Portugal até o Líbano e do Líbano a Marrocos.
Há entre nós algo de profundo e comum que não é só
geografia e cor de pele, e que provém, certamente, de um saber milenar que
aprendemos nas lides da terra e do mar.
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