segunda-feira, junho 18, 2012

Um poema a cada segunda-feira (LXXXIII)



O Público divulgou, há alguns anos, uma série de antologias de poesia que encomendara a certas personalidades da vida portuguesa não diretamente relacionadas com a literatura.

É desse manancial que esta rubrica se irá sustentar por algum tempo, confinando-se as minhas escolhas às opções dessa personalidades e a poetas que viveram, ou ainda vivem, sob o bafo civilizacional do séc. XXI.

A primeira vaga proveio da safra de Mário Soares, a que se seguiram Miguel Veiga, Diogo Freitas do Amaral e Urbano Tavares Rodrigues.
Irei terminar com Marcelo Rebelo de Sousa.


  • SE EU MORRER DE MANHÃ

Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho.


Não me lamentes. Eu não me entristeço:
ter tido a morte é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho.


Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu
- o único que sei.


Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.


Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
e do mistério nada te direi.


Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei.
Rosa Lobato de Faria
Os poemas da minha vida
Marcelo Rebelo de Sousa
Público, Lisboa 2005

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