terça-feira, março 26, 2013

Sombras do passado






Esta imagem fala de meras sombras do passado; ruínas de uma sociedade que findou, mas que ainda perdura na memória dos mais velhos, que hoje constituem a maioria da população.

Nessa altura tudo girava ao sabor do tempo, das estações do ano, das grandes festividades ou acontecimentos.

Este lagar, na fotografia, preparava-se para acolher o Outono e era a grande azáfama da apanha da azeitona.

Chiavam os carros de besta com o peso das azeitonas que, esmagadas pela trepidação, deixavam correr um suco que se misturava com a água da chuva e enchia o ar com  aquele cheiro acre tão característico do Outono, a coincidir com a abertura do ano escolar e pouco depois com a Feira anual, a de Todos-os-Santos.

Começava o frio e era junto às fornalhas dos lagares que nos reuníamos a esfregar as mãos, aguardando o pão torrado, com azeite novo e sumo de laranja, que um copo de vinho ajudaria a descer melhor até ao estômago. Era também numa brasa dessas da fornalha, que se acendiam os primeiros  cigarros da adolescência.

Ali se fazia o azeite e nos fazíamos homenzinhos.

Há um desajuste enorme entre a sociedade dos serviços e das novas tecnologias em que hoje vivemos e o entendimento que a generalidade dessa geração dos mais velhos tem deste novo mundo.

O hiato geracional deixou-os desprovidos dos meios para o entendimento da mudança e agora, ao ouvi-los, é como se se negassem a falar do presente, pois constantemente estabelecem comparações com o passado, com critérios que são os seus, que consideravam perenes, e que envelheceram com eles.

1 comentário:

Alberto disse...

Muito bom!