Medina az-Zahra (Cidade da Flor), Córdova - Foto de uma visita em 2006
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Medina az-Zahara foi uma cidade palatina mandada construir pelo primeiro Califa de Córdova, 'Abd ar-Rahman III (912-961), como afirmação do seu poder sobre todo o mundo islâmico.
O centro do poder, ontem como hoje, está sempre rodeado por toda uma série de interesses que tentam influenciar os que detêm o poder de decisão.
Frequentemente, na antecâmara do poder, há quem filtre essa aproximação e, sem que de facto detenha o poder de decisão, pode vir a influenciá-lo de maneira determinante.
'Abd ar-Rahman III foi um homem decidido e de forte e incontestável carácter. Do seu poder já aqui falámos em episódios anteriores.
Rodeou-se, bem como depois seu filho, al-Hakam II, de uma aristocracia palaciana recrutada junto de oficiais e escravos fiéis, provenientes da Europa Oriental (eslavos), como forma de afastar o poder da aristocracia de origem árabe e reforçar o seu poder pessoal.
A al-Hakam II sucedeu seu filho, Hixam II, que assumiu o poder com 10 anos de idade.
Se 'Abd ar-Rahman e al-Hakam conseguiram conter os poderes da aristocracia palaciana que eles próprios fomentaram e apoiaram, já Hixam, com 10 anos, irá sofrer a influência desses interesses.
Quem veio a encabeçar todo o jogo de influências sobre o pequeno califa foi Abu 'Amir Muhammad Ibn Abi 'Amir, que praticamente encerrou o califa de todo o contacto com o exterior no seu palácio de Medina az-Zahara e construiu para si próprio um novo palácio, o de Medina az-Zahira (Cidade Brilhante), donde, a partir de 980 (AD), passou a governar toda a Península. Em 981 assumiu o cognome de Al -Mansur (O Vitorioso).
Com al-Mansur, o estado islâmico do al-Ândalus atinge o auge da riqueza e do poderio militar. Bate leoneses, castelhanos e aragoneses, toma Barcelona e Catalunha, atravessa todo o território do que é hoje Portugal, instala a sua corte em Lamego, e arrasa Santiago de Compostela.
Apoiado nos berberes, como antes 'Abd ar-Rahman III tinha procedido com os eslavos, entrega a estes seus fiéis aliados os portos de mar e as praças de guerra.
Após a morte de al-Mansur segue-se um período controverso, que acabará por determinar o fim do Califado de Córdova.
É neste período que antecede a queda do califado, ao tempo de Sulaiman II, que, conforme Garcia Domingues, são nomeados, em 1016, os chefes berberes do Gharb, entre os quais Abu Otman Said Ibn Harun.
Em 1027, segundo Dozy, o Algarve foi dividido em dois principados: o de Santa Maria (atual Faro) e o de Silves.
Em Santa Maria teria continuado a governar Ibn Harun e em Silves assume o poder Abu Bakr Muhammad ibn Said ibn Muzain, em 1028.
Esta data marca Silves como um estado verdadeiramente independente e, diz Garcia Domingues: "... a partir desse momento não cessará a sua ascenção."
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Garcia Domingues, História Luso-Árabe, edição do Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves, 2010
António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, vol. 2 - Editorial Caminho
António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, vol. 2 - Editorial Caminho
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Se estiver interessado na leitura dos episódios anteriores, siga os links abaixo:
Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (I)
Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (II)
Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (III)
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