Uma reacção rápida é vital
Paulo acabava de recobrar a sua consciência. Mantivera-se inanimado, por três dias e três noites, na sequência de um traumatismo craniano. O médico disse ter sido causado pelo que lhe pareceu ser o resultado de um pontapé, desferido por uma bota militar, de biqueira reforçada a aço.
David sentia-se delirante, fremente, de nervos à flor da pele, depois de um dia inteiro frente à consola de jogos. Era exímio no domínio dos golpes de defesa e ataque das artes marciais, no manejo dos pequenos botões com que dirigia o seu herói face a qualquer inimigo, «venha donde vier!», na sua expressão.
Paulo, com alguma dificuldade, conseguiu recordar que se dirigia ao encontro de um amigo. Ao aproximar-se da esquina de uma rua pareceu-lhe ouvir os seus passos, que se aproximavam.
David, frente ao espelho, simulou alguns golpes, antes de sair a caminho do ginásio. O treino permitia-lhe obter uma reacção rápida; o que é vital.
Paulo delineou uma brincadeira enquanto escutava os passos, cada vez mais próximos. Adivinhava já a surpresa, o sobressalto, estampados no rosto do seu amigo. Aguardou que ele se aproximasse da esquina e, de repente, saltou-lhe em frente, numa atitude de ataque marcial, como nos filmes chineses ou japoneses.
Não conseguia lembrar-se de mais nada.
quinta-feira, dezembro 15, 2005
Um Conto (XIX)
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6 comentários:
Muito bem escrito, como sempre. Na sequência do micro-conto de sexta-feira passada. Um abraço.
Muito bem :)
Bjx
Gostei muito. Voltarei.
Sempre a inesperada construção que as palavras acentuam.
Obrigado, meus amigos.
Que estas festas de Ano Novo nos tragam esperanças de prosperidade e a segurança de vivermos em paz.
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