terça-feira, dezembro 05, 2006

ECO DE VIAGEM

  • Eco de viagem

    Partir - ouvindo a noite bater
    contra os vidros da memória! Linhas
    sucedendo às linhas, nos grandes
    continentes onde o gelo se desfaz
    num curso de rios disperso no mapa
    da vigília. Deixar que o ruído
    dos carris embacie as frases murmuradas
    no corredor, enquanto os viajantes
    procuram um bar por entre
    as carruagens. Decorar nomes de cidades
    que a treva oculta, e só se deixam
    adivinhar num súbito brilho de estação
    onde alguém dorme, num banco
    de madeira, sob o relógio parado
    num outro século. Respirar o calor
    tépido dos dormitórios improvisados,
    convivendo com sombras que
    ressonam uma ressaca de álcoois
    baratos. E ver a imagem
    que nasce num súbito abrandar
    de rodas, perto da fronteira,
    deitando sobre mim um olhar
    que ainda hoje não sei ler, como
    se a sua linguagem se tivesse
    perdido num alfabeto de velhas
    emoções.

Nuno Júdice
As coisas mais simples
Dom Quixote, Lisboa 2006

5 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom.

Unknown disse...

Ó capa, 27!

Anónimo disse...

Como gostei desta viagem!

Unknown disse...

Helena
Há um clima e um vocabulário de viagem nestes ecos, não há!?
Também gostei muito.

Anónimo disse...

Gostei e lembrei-me da nossa velha Estação... de quando ela era...