segunda-feira, abril 06, 2009

Apresentação de livro em 3 actos


  • Sabemos (e compreendemos) hoje melhor, depois deste livro, que além do património, da arquitectura, da paisagem, das hortas e dos campos de figueiras, da luz da Ria poisada nas paredes de cal - Cacela é sobretudo uma realidade urbana (e intangível) feita de poesia e milagre.

Assim o disse José Carlos Barros, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, por ocasião da apresentação do livro - Cacela e o seu poeta Ibn Darraj al-Qastalli na História e Literatura do Al-Andalus.

Houve cerimónia, sim, e a palavra coube ao anfitrião, como já citei; ao autor, Ahmed Tahiri, Professor Catedrático de História Medieval, que ao longo de dois anos trabalhou as mais variadas fontes numa investigação que conduziu a esta obra; à coordenadora editorial por parte da Fundación Al-Idrisi Hispano Marroqui para la Investigación Histórica, Arqueológica y Arquitectónica, Fátima Zahara Aitoutouhen; e Teresa Rita Lopes, enquanto poeta de raízes cacelenses.

Após a cerimónia, que teve lugar no antigo Cemitério, hoje desactivado, todos os que ali se juntaram a homenagear o poeta de Cacela saíram a percorrer o largo e as quatro ruas do aglomerado urbano que, como alguém disse em voz alta, com piada, citando os U2, "where the streets have no names".
A partir de agora as ruas de Cacela têm nomes, topónimos que se referem a poetas de Cacela ou que escreveram sobre Cacela e ali passaram a figurar nas placas do Largo Ibn Darraj al-Qastalli e das ruas de Teresa Rita Lopes, Sophia de Mello Breyner Andresen, Abû al-Abdarî e Eugénio de Andrade.

Para o terceiro acto todos regressámos ao velho cemitério e aí, então, houve lugar à música, à poesia e até à dança.
Em árabe, rifenho (língua berbere da zona do Rif, no Norte de Marrocos, sobre o Mediterrâneo, donde provieram os antepassados de Ibn Darraj), castelhano e português, se declamaram alguns dos poemas que constam deste livro, com fundo musical da guitarra de Pepe Vela.
Houve depois lugar à música, da que permanece viva desde a fuga para Marrocos dos expulsos de Granada, os andalusinos, que ainda hoje cultivam os seus costumes, os seus hábitos, a sua cultura, com a riqueza patrimonial que nos foi dado escutar. Findou numa fusão instrumental desses instrumentos andalusinos com a guitarra, a voz requebrada e a dança sincopada do flamenco, a que se juntou a plateia com as palmas das suas mãos, numa percussão ritmada de quem não pode manter-se quieto e agradece a tarde que o poeta Ibn Darraj, que aqui viveu há mil anos, proporcionou.

1 comentário:

Judô e Poesia disse...

Mais que blog sensasional! Que bela matéria! Compareço aqui as vezes, silencioso, para que meu ruído opaco não perturbe a limpidez do que vejo, mas, me desculpe, hoje não pude resistir. Eu não poderia estar aí, não tenho recursos, mas me proporcionaste as asas que me convinham. Muito obrigado, Domingos, Brasil, Minas Gerais.