
A fotografia reproduz um fragmento de lintel, em madeira de cedro. Provém do Museu Batha, em Fez, e data do período almoada, no final do séc. XIII.
Está exposto em Silves, até 10 de Fevereiro, no Museu Municipal de Arqueologia, integrando a exposição A Arte da Madeira em Marrocos: saber e tradição milenar, uma produção conjunta da Câmara de Silves e do Ministério da Cultura de Marrocos, com a colaboração de Faro, Capital Nacional da Cultura 2005.
O período almoada marca o fim de uma civilização comum aos povos que habitavam o Sul do que é hoje o nosso território, o Sul do que hoje se designa por Espanha e o que hoje constitui o Reino de Marrocos.
Este belo fragmento de madeira poderia ter sido talhado em Silves com os mesmos caracteres cúficos e semelhante decoração floral. Poderia até ter sido trabalhado pelo mesmo artista ou artistas que se ocuparam da sua concepção e do seu talhe, caso a sua encomenda tivesse sido proposta por um habitante desta cidade. O que atrás adiantei, por mera suposição, não seria de todo inverosímil, dada a proximidade das relações. O início do poder almoada no al-Ândalus deve-se a Ibn Qasi, senhor de Silves, que procurou o apoio almoada na sua luta contra os almorávidas, tribo cujo poder os antecedeu.
O séc. XIII assinala o desmoronar desse poder no Norte de África e a queda, em Silves, da civilização muçulmana, às mãos dos bárbaros portugueses do Norte.
O fragmento de madeira a que me venho referindo, de decoração requintada, regista o declínio cultural de Silves, à época uma cidade de referência na arquitectura, na matemática, na história, na literatura, na poesia; um passado histórico de que muitos silvenses se orgulham, mas para o qual ainda não se atingiu paralelo cultural neste séc. XXI, já lá vão mais de oitocentos anos.