quinta-feira, maio 08, 2008

Guitarra

Passeando ainda a memória pelo fim-de-semana passado, que motivou o meu último post, dedico a Pepe, o homem da guitarra, este poema de Lorca, numa tradução de Eugénio de Andrade; desta feita numa fusão luso-espanhola.

  • Guitarra

    Começa o choro
    da guitarra.
    Quebram-se os copos
    da madrugada.
    Começa o choro
    da guitarra.
    É inútil calá-la.
    É impossível
    calá-la.
    Chora monótona
    como chora o vento
    sobre a nevada.
    É impossível
    calá-la.
    Chora por coisas
    distantes.
    Areia quente do Sul
    pedindo camélias brancas.
    Chora flecha sem alvo,
    tarde sem manhã,
    e o primeiro pássaro morto,
    nas ramadas.
    Oh guitarra!
    Coração malferido
    por cinco espadas.

Eugénio de Andrade
Poemas de Garcia Lorca
Fundação Eugénio de Andrade

2 comentários:

Manuel Ramos disse...

Um poema alheio por um par de castanholas baptizadas à tua frente! Belo negócio esse!
Brincadeira minha aparte, Pepe Vela vai ficar certamente muito contente com esta dedicatória e por ler Lorca (falando da sua inseparável guitarra) através de outro homem do mundo como ele, o nosso E. Andrade.
Dá-lhe conhecimento...

hfm disse...

E eu que o não conhecia! obrigada.