Visões do Sul (clique), foi o título atribuído a esta 1ª Mostra Internacional de Cinema, numa louvável iniciativa do Museu de Portimão, de atenção voltada para o cosmopolitismo de um dos seus maiores, Manuel Teixeira Gomes, e às suas viagens pelo Mediterrâneo, este Mar do Sul.
Assisti a todos os filmes das sessões da tarde, à excepção das projecções de segunda e sexta, e vibrei intensamente com os testemunhos, quase diria manifestos, deste olhar sobre as sociedades da outra margem, a não-europeia deste mar comum.
Em Jellyfish (clique), o autor, israelita, sem a preocupação das motivações associadas ao cinema comercial, trouxe-nos uma sociedade cuja descrição não assenta no terrorismo nem no ódio, antes se debruça sobre o dia-a-dia de uma série de personagens, cujas histórias se entrecruzam, numa teia reveladora das dificuldades e dos anseios de gente comum e nos fala sobretudo de problemas de comunicação: ou pela solidão, ou pela idade e mentalidade, pela diferença linguística dos que imigram, pela busca do emprego, pelo absurdo das situações e da própria vida, pelo amor...
Em My Marlo and Brando (clique), de realização turca, seguimos a história de amor de uma mulher; que deixa tudo para trás e percorre os difíceis caminhos que a levam de Istambul ao Irão para se encontrar com o seu amado, que em sentido inverso a procura, partindo ao seu encontro, em fuga de uma guerra no Sul do Líbano. Assim têm lugar os fortes contrastes sociais e morais entre uma mulher urbana, proveniente de uma grande cidade, e o mundo masculino do Irão rural.
Em Bab Septa (A Porta de Ceuta), Pedro Pinho, que esteve presente para comentar e responder a questões do público sobre o seu filme, realizou com Frederico Lobo este documentário sobre o fenómeno da migração sub-sariana para a Europa, a partir do Norte de África. É tocante a forma como nos revela o desespero desta gente em busca do El Dorado, como única forma de libertação de uma vida sem horizontes, nas sociedades para lá do Saara, e onde, apesar do drama, esta gente brinca sobre o seu infortúnio, acalentando o sonho de vir a dar aos seus filhos um futuro melhor.
Com Under the Bombs, de realização franco-libanesa, vivi o filme que mais profundamente mexeu comigo. Uma mulher, emigrada na Europa, vem para o Líbano mal sabe dos ataques israelitas no Sul do seu país, para se juntar a seu filho e a sua irmã, com quem o tinha deixado.
Deixem-me que vos diga que este filme é realizado em cenário real, com gente real, sendo a história protagonizada por actores, que se misturam com gente comum. Trata-se de uma ficção sobre a realidade, um novo modelo de cinema, onde o documentário e a ficção se fundem num todo.
Esta mulher não quer saber da guerra, de quem ataca ou de quem defende, se o inimigo é o israelita ou o culpado é o Líbano e a sua política, ela quer saber do seu filho cuja vida está em perigo e não aceita estas sociedades vizinhas, de rostos iguais em ambos os lados da fronteira, mas permanentemente em guerra em nome de Deus e das interpretações religiosas.
Se estes filmes fossem vistos pela população que comummente vai ao cinema, talvez muita coisa mudasse nos preconceitos que o desconhecimento gera.
segunda-feira, novembro 10, 2008
Visões do Sul
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1 comentário:
"...Se estes filmes fossem vistos pela população que comummente vai ao cinema, talvez muita coisa mudasse nos preconceitos que o desconhecimento gera."
Ainda tenho o rosto molhado das lágrimas que se soltaram...
O Amor devia de ser a maior arma do mundo.
Grata por partilhar estes momentos...
Um abraço
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