Em tarde de domingo chuvoso, mexendo em papéis e remexendo memórias, recordei este poeta italiano, talvez o maior poeta italiano do séc. XX, exilado no Brasil durante o fascismo de Mussolini.
- SILÊNCIO
Conheço uma cidade
que cada dia se enche de sol
e tudo desaparece num momento
Cheguei lá quase à noite
No coração durava o ruído
das cigarras
Do navio
envernizado de branco
eu vi
a minha cidade perder-se
deixando
um pouco
um abraço de lumes no ar indeciso
suspensos
Giuseppe Ungaretti
Sentimento do Tempo
Publicações Dom Quixote, Lisboa 1971
2 comentários:
Neste sol-posto, ainda acredito que a nossa cidade se possa "encher de sol". Em resposta aqui te deixo um poema:
"Não serei um poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o meu futuro.
Estou preso à vida e olho os meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente,
Os homens presentes.
A vida presente.»
Carlos Drumond de Andrade, Sentimento do mundo
ora aí está um poeta do caraças!
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