Conhecia o Fernando Assis Pacheco dos jornais e o da literatura, embora este um pouco tarde, pouco tempo antes da sua morte, em Trabalhos e Paixões de Benito Prada, esse romance inquietante, de violência justificada na defesa da honra, numa Galiza a que estava vinculado pelo seu avô Santiago.
À sua poesia nunca antes acedera.
Tomei contacto com ela agora, durante a IV Bienal de Silves, e apresso-me a divulgá-la.
- Monólogo e Explicação
Mas não puxei atrás a culatra,
não limpei o óleo do cano,
dizem que a guerra mata: a minha
desfez-me logo à chegada.
Não houve pois cercos, balas
que demovessem este forçado.
Viram-no à mesa com grandes livros,
com grandes copos, grandes mãos aterradas.
Viram-no mijar à noite nas tábuas
ou nas poucas ervas meio rapadas.
Olhar os morros, como se entendesse
o seu turpor de terra plácida.
Folheando uns papéis que sobraram
lembra-se agora de haver muito frio.
Dizem que a guerra passa: esta minha
passou-me para os ossos e não sai.
Fernando Assis Pacheco
Câu Kiên: Um Resumo, 1972
Poemas Portugueses - Antologia de Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI
Porto Editora, Lda., Porto, 2009
3 comentários:
um dos maiores da segunda metade do século XX. é para mim uma referência...
abraço amigo, amigo
Lembrei-me de ti durante a Bienal.
Um grande abraço, Manuel.
Uma homenagem que já tardava... Em boa hora foi feita. Merecida.
Bem-hajam.
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