A Sé Catedral de Silves
Quando, em 1248, D. Paio Peres Correia, ao serviço da ordem castelhana de Calatrava, conquista Silves, que estava sob o domínio de Niebla e de Ibn Mahfot, seu último rei, gerou-se uma certa disputa entre Afonso III de Portugal e Afonso X de Castela sobre quem era o senhor de Silves e do Algarve.
Conta-se até um episódio, com alguma graça: Afonso X, avô de Dinis por parte de sua mãe, Beatriz de Castela, sentou o neto ao colo, durante uma visita do menino, e perguntou-lhe que quereria ele do seu avô, ao que Dinis lhe terá respondido:
- Quero Silves, avozinho!
O facto é que este conflito sobre o domínio do Algarve estava resolvido ao tempo de D. Dinis.
Deve ter sido no reinado de D. Dinis que se avançou em força para a construção da Sé.
Refere o Dr. Manuel Ramos: Foi talvez D. Dinis o rei que maior influência teve na sua obra, isto a dar fé a uma lápida encontrada referindo Domingos Joanes falecido em 1280 como seu primeiro mestre de obras e a visita do rei a Silves em 1282.
A obra prolongou-se no tempo e só deve ter terminado no séc. XV, quando da visita de D. Afonso V a Silves, para se inteirar das obras da Sé e da Ponte.
Irei prosseguir de acordo com o texto de Dr. Manuel Ramos, escrito para figurar em quiosques multimédia, há cerca de duas décadas, e que integrou depois o "Guia da Cidade de Silves", página na Internet.
Trata-se duma igreja de planta em cruz latina, da qual se destaca a bela abside em grés vermelho, de três capelas. Esta, pode ter tido início ainda no séc. XIII-XIV, mas são do séc. XV a maioria dos seus pormenores, seja no exterior (marcas de canteiro, por exemplo) como no interior (bocetes de abóbada com o escudo real da Dinastia de Avis).
Bocete de abóbada
É também do séc. XV parte da fachada principal desta antiga Sé.
A torre alta e o remate em volutas, no Sul de Portugal caiadas de cor, emprestam-lhe a alegria curvilínea da arte Setecentista que faltava à estrutura da fachada tripartida própria do gótico mendicante português.
O pórtico de alvenaria de pedra clara apresenta desenho muito clássico no gótico nacional e, no Algarve em particular, assim incorporado num alfiz (moldura em pedra em que se encaixa todo o portal, com tradições românicas e mesmo muçulmanas).
Mas quem reparar cuidadosamente no magnífico friso esculpido na última arquivolta ou nos motivos decorativos dos capitéis, não poderá deixar de reconhecer o trabalho do pórtico da Matriz de Portimão executado depois deste pelos mesmos canteiros, por volta de 1476.
Ainda no exterior, hoje a porta lateral sul pela qual se tem acesso ao templo, uma porta rococó pós-terramoto datada de 1781.
No interior a variedade estilística mantém-se, refletindo as então duas tendências dominantes na arquitetura nacional. A cabeceira de três naves e o transepto são abobadados e a sua decoração aproxima-se dos exemplos que chegavam das obras do Mosteiro da Batalha.
Nas naves, nas quais se desistiu do abobadamento, dominam os sóbrios pilares otogonais, exemplares dum gosto mais simples de raiz mediterrânica, presente na Igreja de Santiago em Palmela.
Nas paredes das naves laterais, capelas de decoração em talha barroca.
Também iniciada com a dinastia de Avis foi a moda da construção de capelas-funerárias.
Na Sé, à parte a cripta ainda por abrir, existe, no mais simples gótico de abóbada de ogivas cruzadas, uma pequena capela, dos Regos, onde repousam os túmulos de Gastão da Ilha e João do Rego, altos funcionários da administração silvense de Quatrocentos.
Túmulos de bispos e alguns outros notáveis de Silves repousam pelas paredes e chão das naves. No altar-mor , ao centro, a pedra tumular do rei D. João II que aqui sepultado em 1495, foi depois transladado para o Mosteiro da Batalha.
Igreja dedicada a Nª Sª da Conceição, possui desta uma belíssima imagem gótica, ao centro da capela-mor.
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Edições anteriores:
Património silvense (I) - Claustro interior nos Paços do Concelho
Património silvense (II) - Igreja da Misericórdia
Património silvense (III) - Arte Nova em Silves
Património silvense (IV) - O Palácio Grade
Património silvense (V) - Cruz de Portugal
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