segunda-feira, agosto 05, 2013

Silves, em Almeida Garrett




                                                                                                                         Almeida Garrett


Este texto já tinha sido publicado neste blogue em 7 de Junho de 2004, mas pareceu-me bem recordá-lo agora no decurso da Feira Medieval de Silves, já na sua 10ª edição.

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Folheando a História Luso-Árabe, de Garcia Domingues, de Silves, numa edição da Empresa Editora Pro Domo, Limitada, Lisboa 1945, decidi revelar-vos alguns trechos de Dona Branca, de Almeida Garrett, a cujo poema é possível aceder através do primeiro dos links que coloquei atrás, num excelente serviço que nos é prestado pela Biblioteca Nacional Digital, da Biblioteca Nacional.

O poema, que tem o subtítulo A Conquista do Algarve, fala dos lendários amores de Ibn Mahfot (Aben-Afan), último dos reis árabes de Silves, por Dona Branca, filha de D. Afonso III.
Um primeiro trecho (ortografia da época), onde Garrett nos traça o perfil de Aben-Afan:
  • (...)
    Quem é êste inimigo generoso,
    Que alma tão nobre em peito infiel encerra?
    Quem é êste guerreiro muçulmano,
    Que tão gentil, tão majestoso brilha
    Nas picturescas árabes alfaias
    Que o talhe heróico, o altivo porte, a graça,
    Esbelta, de marcial beleza arreiam?
    (...)

Ainda um outro excerto (ortografia da época), onde Garrett descreve a conquista de Silves:
  • (...)
    Ai de ti, Silves, de tuas nobres tôrres,
    Teu alcácer tão forte! Quem resiste
    Às espadas terríveis de Santiago?
    Já derredor dos muros, que de lanças,
    De frechas, de bèsteiros se coroam,
    Suas tendas assentou, suas azes(1) posta
    O invencível mestre. Já trabucos
    Assestam, catapultas vêm de rôjo,
    Máquinas, ígneas tôrres; e se dobram
    Acobertados couros, protectores
    De escaladas e assaltos. Mas de dentro
    Dos muros os cercados se apercebem
    Para a defesa: ardentes alcanzias(2),
    Duros cantos, ferradas longas varas
    Que os incendiários fachos arremessam
    Às inimigas fábricas. Redobra
    Coragem em uns e noutros o perigo
    Pregam no campo frades indulgências,
    Na cidade os imãs novas promessas
    Fazem de huris(3) e paraísos: folga
    Entanto a morte, e para a ceifa crua
    C'o um pérfido sorriso a fouce afia.
    (...)

Notas:
(1) Az, s.f. (do lat. acie-). (...) || Arraial, acampamento. || (...), in Grande Dicionário da Língua Portuguesa, José Pedro Machado, Tomo II, Amigos do Livro e Sociedade de Língua Portuguesa
(2) Alcanzia, s.f. (do ar. al-kanzia). (...) || Panela de barro, que continha matéria explosiva e se usava nas guerras antigas. || (...), in Grande Dicionário da Língua Portuguesa, José Pedro Machado, Tomo I, Amigos do Livro e Sociedade de Língua Portuguesa
(3) Huri, s.f. (do fr. houri). No paraíso de Mafoma, mulher formosa, de natureza angélica e dispondo de eterna juventude e beleza, que Mafoma prometera como recompensa aos seus fiéis, quando alcançassem a bem-aventurança., in Grande Dicionário da LínguaPortuguesa, José Pedro Machado, Tomo VI, Amigos do Livro e Sociedade de Língua Portuguesa


 

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