Painel com a introdução da "Evocação de Silves", de Al-Mu'tamid, à entrada da porta do meu pátio. |
O último episódio deixou-nos com Abu Bakr Ibn 'Ammar a entrar em Silves "com pompa verdadeiramente real".
Deve ter sido no momento em que Ibn 'Ammar se deslocou a Sevilha, junto do rei Al-Mu'tamid, para tomar posse do seu cargo como governador do Gharb, em Silves, que o rei o terá feito portador de um poema, em que recorda os tempos em que aqui viveu, e que passo a transcrever.
EVOCAÇÃO DE SILVES
saúda por mim, Abu Bakr,
os queridos lugares de Silves
e diz-me se deles a saudade
é tão grande quanto a minha.
saúda o Palácio dos Balcões,
da parte de quem nunca o esqueceu,
morada de leões e de gazelas
salas e sombras onde eu
doce refúgio encontrava
entre ancas opulentas
e tão estreitas cinturas.
moças níveas e morenas
atravessavam-me a alma
como brancas espadas
como lanças escuras.
ai quantas noites fiquei,
lá no remanso do rio,
preso nos jogos do amor
com a da pulseira curva,
igual aos meandros da água,
enquanto o tempo passava...
ela me servia de vinho:
o vinho do seu olhar,
às vezes o do seu copo,
e outras vezes o da boca.
tangia-me o alaúde
e eis que eu estremecia
como se estivesse ouvindo
tendões de colos cortados.
mas se retirava as vestes
grácil detalhe mostrando,
era ramo de salgueiro
que me abria o seu botão
para ostentar a flor.
Al-Mu'tamid
in "O meu coração é árabe"
Adalberto Alves
Assírio & Alvim
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Garcia Domingues, História Luso-Árabe, edição do Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves, 2010
António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, vol. 2 - Editorial Caminho
Adalberto Alves, O meu Coração é Árabe, Assírio & Alvim
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Se estiver interessado na leitura dos episódios anteriores, siga os links abaixo:
Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (I)
Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (II)
Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (II)
Silves, ao tempo da civilização do al-Ândalus (IV)
3 comentários:
Amante de Silves, e dos poetas Luso-Árabes (tenho a obra e sou poetisa), dou-lhe os meus parabéns por este maravilhoso blog.
Obrigado, Julieta.
Desculpar-me-á, Antonio Baeta, o meu nome é Violeta.
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