quinta-feira, fevereiro 17, 2005

A democracia não se pode confinar ao acto de votar

Se ontem me congratulava com a salvaguarda da memória das muralhas do "Mirante" é porque soube, por pessoa da minha confiança, de um parecer especializado que impediu a sua destruição, conforme constava em anterior projecto do POLIS. Quanto à memória das antigas árvores e da velha pimenteira, apesar de ainda estar em pé, foi porque não a identifiquei ontem, quando me inteirava dos pormenores do projecto actual.
Quero significar que a muralha esteve em perigo e a pimenteira ainda pode estar. Talvez tenha sido salva por alguns boatos que por aí circularam.

Sim. Desloquei-me ao edifício onde está instalado o POLIS (antiga Central Eléctrica, hoje Águas do Algarve).
Fui recebido com atenção, mas não possuíam projectos detalhados das intervenções em curso (várias, inesperadamente, apesar de entretanto terem parado as obras na alcáçova). Fui, simpaticamente, remetido para o mandatário do projecto, em edifício próximo, onde, depois de prévio telefonema a confirmar o encontro, fui recebido com gentileza e disponibilidade. Pude apreciar e tomar notas (daí as designações das várias árvores que menciono no post de ontem).

Estes serviços públicos cumprem escrupulosamente (de acordo com a lei) as normas, mas não estão preparados para acções de cidadania de uma população sem hábitos do seu exercício, nem procuram, didacticamente, dinamizar esses mecanismos. Imaginem só que ontem, como eu, tivesse comparecido uma dezena de cidadãos (o que até nem seria muito numa população de 10 mil habitantes)!? O serviço ficaria absolutamente incapacitado.

Mas quando chega a hora de votar, não há apelos nem mecanismos que não procurem dinamizar e educar para o exercício da cidadania e da democracia. Os candidatos desdobram-se "humildemente" no apelo ao voto, para logo depois, já eleitos, se arrogarem do mandato que lhes foi conferido e passar a proceder sobranceiramente, como sábios, na posse de todos os conhecimentos e certezas, sem querer escutar, sem querer saber, como se não houvesse mais cidadãos, mais democratas; só eles e o "povo", distante e anónimo.

Não sou capaz de citar com exactidão, nem precisar quem disse (se alguém souber, agradeço a informação), mas houve um pensador que afirmou: «Se as eleições servissem realmente para mudar alguma coisa, há muito que teriam sido proibidas
Mesmo assim, como o voto serve, pelo menos, para "mudar ou conservar o galo no poleiro", ou até para decidir sobre o número de "galinhas" que lhe prestam particular vassalagem, decidi ir votar, o que não faço há alguns anos.

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