quarta-feira, novembro 23, 2005

Um Conto (XVIII)

  • Nesse bairro não, por favor!

    Mário e Eduardo saíram para jantar. A arquitectura, a decoração, a ambiência, o serviço, a ementa, tudo era muito sofisticado. O seu diálogo também: sobre o que liam, sobre o que viam, de teatro, de dança, de música, de cinema, de artes plásticas.
    Amigos, desde o liceu, viviam agora em cidades diferentes, mas encontravam-se, algumas vezes por ano, em congressos da sua especialidade comum, em cidades diversas do mundo, como agora, em Seattle.
    Já no exterior do restaurante, no longo e feericamente iluminado boulevard, entre lojas que ostentavam as mais conceituadas marcas comerciais, passeavam a pé, em plena noite, sem o menor sinal de insegurança, apreensão tão presente, hoje em dia, na noite de qualquer média ou grande cidade do mundo.
    Conversavam sobre os seus projectos de investigação e das dificuldades de financiamento que se faziam sentir em Portugal, apesar do nosso atraso nessa área, com a consequente emigração de alguns dos nossos melhores cientistas.
    Caminhavam, distraidamente, tão envolvidos iam na sua discussão, aproximando-se de um bairro com belíssimas vivendas, de um urbanismo arrojado, de extremo bom gosto e, com certeza, altamente dispendioso.
    Quando se deu conta do local, Eduardo estacou. No seu olhar e na sua atitude, Mário sentiu algo de estranho.


      - «Que se passa?», perguntou Mário.
      - «Não vês onde estamos?!»
      - «Vejo, perfeitamente, num bairro rico, com óptimas vivendas.»
      - «Eu não avanço mais. Voltemos para trás.», propôs Eduardo, num tom implorativo, algo desesperado.
      - «Mas, Eduardo, que se passa contigo? Aqui, a segurança, apesar de discreta, é altamente eficiente.», esclareceu Mário, «Trata-se de um bairro de brancos, de brancos ricos.»
      - «Pois é isso mesmo que me atormenta.», replicou Eduardo, «Julgas que esses brancos, seguramente instalados nas suas casas, nos seus guetos voluntários, não receiam, sobremaneira, tudo o que lhes é exterior?! Nem precisam de sujar as suas mãos e a sua consciência. Têm os seus seguranças para tratar do assunto, e eles adoram fazer uso da sua profissão.»
      - «Por isso mesmo, amigo. Por isso mesmo não há problema.»
      - «Mas nós somos pretos, Mário, e os gorilas batem primeiro e só depois perguntam quem somos e que fazemos aqui. Falo por experiência própria. Nesse bairro não, por favor!»

P.S.
Este conto sai um pouco mais cedo do que o habitual porque me vou ausentar de novo, por alguns dias, e desejo manter-vos na minha companhia.

9 comentários:

hfm disse...

Tão actual e como sempre com toda a carga de um conto.

Bom passeio e um abraço

Anónimo disse...

Bom passeio e que desfrutes a companhia do teu irmão. Um abraço SOFIA

Anónimo disse...

Gostei do Conto....
Bons Passeios.
Bejokas

Anónimo disse...

António esqueci-me de te dizer que tambem tenho uma costela algarvia, mais propriamente de silves. Diz-me lá se não conheces o Adriano do Ó?????
Bejokinhas António

Anónimo disse...

Olá!

Já te podes inscrever definitivamente!
Está tudo no Blog!
Em caso de dúvida, envia email ou contacta-me para o 917 582 174.

Até 1 de Dezembro!

Abraço,

J.

Unknown disse...

Oh, Sol13. Se conheço o Adriano do Ó? Somos amigos de há muito.

Anónimo disse...

Pois antónio eu calculei que sim....
Sabes sou neta dele, filha do zé do Ó....não tas lembrado de mim também.
Bejokas

Unknown disse...

Estou, pois, só quis confirmar.

Um beijo amigo.

Anónimo disse...

Onde nos haviamos de encontrar.....eheheh
Bjokas