- Retrato com vidro embaciado
Talvez um resto de palavras se apague
no cinzeiro do tempo: o que me disseste,
em tardes sem fim, e o murmúrio que sobra
da noite. Mas isso é o menos: só
importa esta imagem sem aparência visível,
este corpo sem espessura nem rosto,
esta taça sem o vinho de uma libação,
- os dons indesejados que a vida acumula,
como um leito de rio quando seca,
ou o olhar que trocamos, por acaso,
numa coincidência de espelho.
Nuno Júdice
Um canto na espessura do tempo (1992)
Poesia Reunida (1967-2000)
Dom Quixote, Lisboa, 2000
Há mais, de Nuno Júdice, ao fundo da página.
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